Os caxienses estão investindo mais em motocicletas nos últimos meses. É o que mostram os dados mais recentes do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado do Rio Grande do Sul (Sincodiv-RS/Fenabrave). A procura pelos veículos sobre duas rodas cresceu quase 35% nos primeiros quatro meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2021.
No primeiro quadrimestre do ano passado, foram registrados emplacamentos de 346 motocicletas em Caxias. Neste ano, o saldo é de 466, sendo que março foi o mês com mais maior procura (139). A preferência pelo veículo, entretanto, não é uma exclusividade do município: até abril, 9.353 motos zero quilômetro foram emplacadas no RS, uma alta de 23,7% em relação ao mesmo período de 2021, segundo os dados do Sincodiv-RS.
Em entrevista à repórter Bruna Oliveira, de GZH, o vice-presidente do Sincodiv-RS, Rogério Schröder, detalhou alguns motivos pela alta na procura:
— Com a economia de combustível, ele (comprador) paga a moto e ainda adquire um bem para a família. Fora os que optam pela mobilidade, para ganhar tempo no trânsito, ou ainda para fugir do transporte coletivo e ter mais liberdade de deslocamento — diz Schröder.
Para além dos números e porcentagens, o aumento de vendas é atestado por quem trabalha no setor. O principal motivo? Os recentes reajustes no valor da gasolina e do diesel, o que faz com que muitas pessoas busquem alternativas mais econômicas na hora de se deslocar. A gerente e sócia da Moto Caxias, concessionária Honda, Caroline Kostolowicz Grun, diz que até mesmo os clientes que optam pelo financiamento saem em vantagem quando o assunto é diminuir custos.
— Ao invés de gastar em passagem de ônibus ou encher o tanque do carro, eles (clientes) acabam pagando a parcela da moto e adquirindo um bem — comenta.
Caroline conta que, em sua loja, a procura vem em uma crescente desde o final do ano passado e que, diante do cenário positivo, a empresa tem trabalho com estoque zerado para alguns modelos. Quem está a procura de uma moto, poderá ter que esperar.
— Usada, hoje, por exemplo, não tenho nada a pronta-entrega. A gente tem trabalhado com estoque zerado, porque o que chega já está vendido. Geralmente, o pessoal está esperando de 15 a 30 dias para adquirir a moto. Dependendo o modelo, até 60 dias — revela.
Quem também sentiu o incremento nas vendas foi o proprietário da Nenê Motos Multimarcas, Valtoir Andrade de Macedo. Ele conta que vem percebendo maior procura pelas motocicletas desde setembro do ano passado e que 90% dos seus clientes buscam o veículo para o deslocamento diário.
— A maioria é para ir ao trabalho, dificilmente é para lazer. É uma questão de economia. As que mais saem são as CG 125, CG 150, as automáticas, as Biz... — detalha o empresário que está no ramo há 22 anos.
Ele diz que as modelos CG 125 e CG 150 fazem, no mínimo, 35 quilômetros por litro, o que na ponta do lápis e nos custos mensais representam uma boa economia a quem opta pelo veículo:
— Dependendo a distância e se vai só usar para o trabalho, com R$ 50 passa até duas semanas. Vai ser um gasto de uns R$ 200 por mês (em combustível) — estima Macedo.
Por outro lado, o proprietário da Difference Motorcycle, Cide Novello, vê um aquecimento no mercado há cerca de um ano. Uma alta, segundo ele, impulsionada pelos acréscimo de motoboys nas ruas, um dos efeitos das restrições sanitárias ocasionadas pelo coronavírus.
— Temos notado maior procura, de um ano pra cá, no segmento de motos de menor cilindrada. Naquelas de maior cilindrada está da mesma forma. Com a pandemia, o pessoal começou a fazer mais telentrega e tem usado as motocicletas para esse fim — avalia.
Emplacamentos de motos por mês em Caxias revelam crescimento de vendas
2021
Janeiro: 75
Fevereiro: 69
Março:99
Abril: 103
Total: 346*
2022
Janeiro: 98
Fevereiro: 98
Março: 139
Abril: 131
Total: 466*
*Número de emplacamentos de motocicletas em Caxias no primeiro quadrimestre de cada ano.
Fonte: Fenabrave/Sincodiv-RS
Prognóstico mais cauteloso em outro segmento
Em contrapartida, enquanto crescem as vendas de motocicletas, quem vende veículos a diesel tem um olhar mais cauteloso e menos otimista sobre o atual cenário econômico. No dia 9, a Petrobras anunciou um reajuste de 8,9% no preço de venda do combustível para as distribuidoras. No dia seguinte, em Caxias do Sul, o acréscimo já estava nas bombas.
Claudio Ortiz, gerente de vendas da Diferencial Veículos, localizada em São Ciro, diz já perceber uma mudança no comportamento de quem chega à loja. Ele comenta que os veículos a diesel, principalmente as caminhonetes, eram tidos como "sonhos de consumo", contudo, as preferências mudaram diante dos gastos a mais.
— Percebemos que tem alguns clientes com caminhonete a diesel querendo trocar por modelos a gasolina. Isso vem de um mês e meio pra cá, depois que começaram os aumentos. Como o diesel tá quase o mesmo valor da gasolina, se torna inviável — afirma Ortiz.
Segundo ele, as alterações no preço do combustível podem gerar mudanças até mesmo nas negociações e no estoque da própria revenda:
— Futuramente, a gente pode eliminar e até não receber mais, porque se tornará mais difícil de vender — finaliza.