Nesta quarta-feira (18), o Porto Meridional, que deve ser construído em Arroio do Sal, foi apresentado para empresários da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), em Porto Alegre. Na reunião, ao lado do ex-deputado Fernando Carrion, o engenheiro João Acácio Gomes de Oliveira Neto, presidente da DTA Engenharia — que lidera o projeto, destacou a economia que o empreendimento pode gerar para empresas do Estado, principalmente as da Serra gaúcha. O principal ganho é com a logística, feita especialmente por rodovias atualmente.
As empresas gaúchas importam de estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo cerca de 1,5 milhão de toneladas de chapa de aço por ano. O material é transformado em produtos, que voltam a ser entregues pelas mesmas rodovias. Por isso, defende o engenheiro do Porto Meridional, que a indústria da Serra terá um ganho logístico importante com a obra.
— Todo aço do polo metalmecânico de Caxias viaja mais de mil quilômetros. A molécula de aço passeia de um lado para o outro e pensa, ‘O ser humano é louco, leva a gente passear de um lado para o outro’. Então, isso vai poder ser feito amanhã por cabotagem. Sabe qual é o custo (em comparação ao atual)? De um para cinco — destaca Acácio.
O engenheiro reforça ainda o que o transporte pelas rodovias deve ficar mais caro, por conta da instabilidade do preço dos combustíveis. Além disso, justifica que a opção marítima traz um ganho ambiental, com a redução da emissão de gás carbônico.
O presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), José Antônio Fernandes Martins, comenta que a única modalidade de transporte disponível hoje tira competitividade das empresas locais. Outro fator mencionado por empresários é que a possibilidade do transporte marítimo pode dar um andamento melhor no trabalho da indústria. Cada caminhão que transporta cargas de aço consegue carregar de 40 a 50 toneladas, necessitando de 300 mil viagens para trazer todo material ao Estado. Com navio, esse transporte seria reduzido drasticamente, já que cada carga suportaria 5 mil toneladas de aço.
— Pecamos em ter custo fora de competitividade porque não temos um sistema para transportar. O sistema de transporte é fundamental. (O Porto) Não é um sonho de verão. É uma necessidade que as empresas têm para permanecerem competitivas — declarou Martins.
A distância entre a Serra e o novo porto também é outro fator mencionado pelo segmento. Caxias fica a 180 km do empreendimento, enquanto a distância para o Porto de Rio Grande é de 470 km.
— A diferença de custo do frete já cai pela metade. Este Porto é de Terminal de Uso Privado, ele é muito eficaz e pelo projeto que tem, tem um custo de produção baixo em relação a outros portos e o custo de operação dele, pelo que estamos acompanhando, também vai ser muito baixo. Então, o custo do frete e de operação é o que nos leva a incentivar esse porto no Litoral Norte — observou Rubens Bisi, diretor da área de transporte da Associação de Aço do Rio Grande do Sul.
Bisi relata que 22% do PIB da Serra é gasto com logística. Outro ponto mencionado pelo diretor da AARS é que o projeto do Porto Meridional indica que o empreendimento deve fechar menos que outros portos durante o ano.
O Porto de Arroio do Sal planeja ter uma estrutura de seis terminais e dez berços para navios. Entre eles, duas acomodações para navios de turismo. O engenheiro João Acácio vê um potencial nesse segmento, com a região podendo receber cruzeiros que partem de Santos (SP) e vão para destinos como Montevidéu e Buenos Aires.
No momento, a DTA trabalha no projeto de engenharia do empreendimento. Ou seja, na estrutura base que acomodará os terminais. O investimento no Porto Meridional deve ser de R$ 5 bilhões, mas pode chegar a R$ 6 bilhões. Desse montante, cerca de R$ 1,3 bilhão deve ser destinado para a estrutura base.
Destaques da apresentação do projeto
:: Na reunião, o presidente da DTA Engenharia, João Acácio, destacou que 15 milhões de toneladas de carga deixam de ser embarcadas por ano no Rio Grande do Sul pela falta de mais portos.
:: Nova previsão anual da capacidade do Porto Meridional é de 53 milhões de toneladas.
:: Seis grupos já teriam procurado o projeto com interesse para operar no porto. A DTA afirma que isso garante 10 milhões de toneladas de carga.
Previsão de construção do Porto Meridional
No planejamento da DTA Engenharia, o cronograma continua com previsão de início das obras para o primeiro trimestre de 2023. Em 2022, o foco é garantir a licença ambiental do IBAMA e autorização da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).
No começo do ano, o Porto Meridional garantiu o termo de referência definitivo do IBAMA, fundamental para iniciar o estudo Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental), que será utilizado na análise do órgão ambiental.
Se o cronograma estipulado pela empresa for cumprido, a expectativa é de que o Porto de Arroio do Sal receba o primeiro navio em dezembro de 2024.
Por outro lado, em abril deste ano, em reportagem publicada no Pioneiro, o superintendente dos Portos RS, Paulo Fernando Curi Estima, apontou dificuldades para o cumprimento do cronograma proposto pela DTA. Para Curti, a grande dificuldade em cumprir o prazo otimista da empresa seria o tempo gasto com os estudos técnicos.
— Não vai acontecer em 2023 porque um projeto desse necessita de Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental). Um estudo de meio ambiente não dura menos que um ano e meio, dois anos. Então, essas expectativas que estão colocando são meramente políticas. Não são expectativas plausíveis, não tem prazo para isso — opinou a autoridade dos Portos RS.
A DTA Engenharia afirma que está trabalhando nos estudos técnicos. O projeto do Porto de Arroio do Sal também ganhou apoio de uma Frente Parlamentar da Assembleia Legislativa, que promete chamar audiências públicas para ouvir comunidades locais sobre o tema.
Os prazos, a seguir, são estimados pela DTA:
2022
:: Conclusão do Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental).
:: Conclusão do projeto de engenharia, usado na construção da infraestrutura.
:: Mudança do Plano Diretor de Arroio do Sal.
:: Análise do Ibama para liberação da Licença Prévia e Licença de Instalação.
:: Cotações e contratações para início das obras
Primeiro trimestre de 2023
:: Início das obras.
Final de 2024
:: Começo das operações portuárias em Arroio do Sal.