Provavelmente você já ouviu falar do aumento da Taxa Selic. Ao longo dos últimos meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu pela alta em oito reuniões consecutivas. Desde o dia 3 de fevereiro, a Selic está em 10,75%, ao ano. É a primeira vez em mais de quatro anos que ela alcança os dois dígitos. E o que isso significa?
— Quando o Banco Central eleva a taxa de juros, está tirando liquidez do mercado e, em termos bem simples, está tirando a disponibilidade de dinheiro no mercado. O dinheiro fica mais escasso, portanto, fica mais caro. Ele (Banco Central) aumenta o custo do dinheiro. Então, essa taxa Selic, que é a básica, acaba influenciando toda a economia. E quando isso acontece, acaba encarecendo todas as modalidades de crédito — justifica Eduardo Santarossa, economista e professor da FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha.
Por sua vez, a economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), explica que o aumento não é repassado imediatamente ao consumidor no momento em que o BC muda a Selic. Diz ela ainda que outros fatores compõem a taxa de juros que chega ao consumidor. Portanto, a variação pode ser menor que a Selic. Mas a lógica é de aumento dos juros praticados para os financiamentos:
— Chegando na ponta, todo o dinheiro emprestado fica mais caro. Então, o cheque especial, o cartão de crédito, o cartão de crédito, o financiamento da casa própria, o financiamento do automóvel. Tudo isso vai ser impactado com o aumento da Selic, tornando o dinheiro mais caro. Ou seja, as parcelas vão ficar maiores e o montante ao final do financiamento também vai ficar maior.
Com a taxa básica de juros mais alta, o dinheiro em investimentos se torna mais atrativo do que o uso dele para o consumo. Outro aspecto, frisa a economista, é que o setor produtivo também tem de lidar com taxas mais altas e, portanto, os investimentos ficam comprometidos. Com isso, Maria Carolina aponta uma tendência de queda na contratação de mão de obra daqui para diante. A economista explica: com menor consumo, as empresas terão uma demanda menor e, assim, deixam de ter a necessidade de contratar mais funcionários.
É hora de financiar?
O aumento da Selic não impacta financiamentos já feitos, a menos que eles tenham algum indexador atrelado à taxa básica de juros do país. Neste caso, é preciso conferir o contrato para saber. Mas se você está pensando em financiar um imóvel ou um automóvel, por exemplo, este é um bom momento?
— É, de certa forma, sim. A tendência da Selic é aumentar ainda mais, então melhor agora do que mais tarde. O ideal teria sido ainda no ano passado, com uma taxa de juros bem mais baixa. Mas entre agora e o futuro, melhor agora. Tem que ficar claro: não é que seja o melhor momento, mas entre agora e a tendência de continuar aumentando, é melhor agora — pontua a economista Maria Carolina Gullo.
O aumento da Selic é uma forma de tentar conter a inflação no país, justamente desestimulando o consumo. Assim, essa crescente na taxa básica de juros ainda deve se estender ao menos ao longo deste ano. Conforme o economista Eduardo Santarossa, existem previsões de que ela possa chegar até os 12%, mas o consenso é de que deverá ficar em 11,75%. E a redução é incerta, vai depender do comportamento da inflação, avalia ele.
— Diferente do momento que a gente tinha antes, em que as taxas de juros estavam caindo e chegou ao menor patamar da história em 2020, quando o crédito ficou muito mais barato, agora, a tendência é que o crédito fique muito mais caro. Então, isso faz com que a necessidade do consumidor entender bem o seu planejamento em momento atual de gastos, entender as suas necessidades e fazer isso caber no seu orçamento. Então, vamos dizer assim, anotar os seus gastos, ter um controle, mesmo que seja rudimentar, de receitas e gastos para entender se vale a pena fazer uma compra, um investimento de mais longo prazo, porque é de se esperar que as coisas fiquem mais caras. Não o preço dos bens, mas o preço dos financiamentos — destaca o professor.
Ele sinaliza que existe um cenário de incerteza influenciado pelo momento econômico e político do país, além das condições internacionais. Isso faz com que o mercado dê o recado de que o atual momento é o mais arriscado.
Sinduscon Caxias diz que impacto é reduzido no setor
A compra de imóveis é altamente atrelada aos financiamentos. Apesar desse cenário apontar uma tendência de insegurança para novos investimentos, a perspectiva do Sinduscon Caxias, que representa o setor, é otimista. Recentemente o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, deu declarações dizendo que não haverá aumento nas taxas de juros do crédito imobiliário no banco que é o principal operador dessa modalidade no país.
Sendo assim, o atual presidente do Conselho Superior do Sinduscon Oliver Viezzer, avalia que o setor não deve sofrer consequências negativas.
— O impacto é reduzido porque a tendência da taxa de juros do crédito imobiliário não é crescer na mesma velocidade da Selic, porque o financiamento imobiliário trabalha com a taxa de longo prazo. E, no longo prazo, já se enxerga uma estabilização da inflação e uma redução, inclusive. Então, pela declaração recente do presidente da Caixa, eles não estão trabalhando com cenário de aumento nas taxas de juros, embora nós estejamos percebendo alguns movimentos pequenos de outros bancos. Então, pode ser que tenha algum ajuste, mas pequeno, que não venha a impactar de forma grande o nosso mercado — comenta.
Viezzer diz ainda que as taxas praticadas hoje são atrativas. Para os financiamento do Casa Verde e Amarela, voltado para imóveis de menor valor, não houve reajuste. Para os demais, atrelados ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), a taxa anual está entre 7,99% e 8,99%. Segundo Viezzer, é 1% a mais do que no ano passado, mas ainda abaixo do praticado há cerca de cinco anos, quando estava acima de 10%.
Outro aspecto, explica o empresário, é que as construtoras ainda não repassaram para os imóveis integralmente o aumento de custos que tiveram com o preço dos insumos nos últimos meses:
— A tendência é que vá repassando todo o aumento que teve em novos lançamentos. Então, com certeza, agora é um bom momento para aquisição em função disso — projeta, ao contar que o setor percebe um reaquecimento das vendas em Caxias, desde o final do ano passado.