Entre as muitas culturas prejudicadas pela estiagem está a da maçã nos Campos de Cima da Serra. No ano passado, o Rio Grande do Sul teve um volume de safra tão expressivo que fez o Estado passar Santa Catarina como a maior região produtora do país, pela primeira vez em 40 anos. Neste ano, a situação será diferente. A Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi) estima uma redução de 30% no volume da colheita. O clima seco reduziu o tamanho das frutas, o que também prejudica as exportações. Além da falta de água, o calor excessivo deixou as frutas mais amarelas e queimadas do sol.
A colheita da maçã começou há cerca de 15 dias com a Gala. Segundo José Sozo, presidente da Agapomi, a primeira variedade colhida é a mais afetada.
— Dezembro e janeiro são meses que a maçã Gala cresce, e foi em 5 de dezembro a última chuva significativa. Perdemos em calibre da fruta. Maçãs que tinham de 120 a 125 gramas, agora estão com cerca de 100 gramas — exemplifica.
A tendência é que a variedade Fugi, com colheita mais tardia, a partir de março, seja menos afetada:
— Mas mesmo com algumas chuvas nos últimos dias, a Fugi também tem problemas porque a estiagem estressou a planta que acaba dispensando alguns frutos. É a lei da natureza para salvar as plantas — explica o presidente da Agapomi.
No ano passado, o Rio Grande do Sul colheu cerca de 630 mil toneladas. Por ter sido uma safra recorde, já se estimativa uma colheita menor para este ano. Mas, se a previsão de quebra se confirmar, ela deve ficar em cerca de 400 mil toneladas, uma média semelhante ao que a região já colhia em 2018 e 2019.
Além do prejuízo em termos de quantidade, os produtores serão fortemente impactados no faturamento porque as frutas de maior valor agregado estão em falta no mercado. Com o aumento do preço de insumos, muitos importados, Sozo destaca dificuldades para garantir o custeio.
_ O custo de produção da Gala é, em média, de R$ 1,20 o quilo na lavoura. Mas poderemos não alcançar o valor para compensar os gastos em função das frutas miúdas _ alerta o presidente da associação.
Exportações
Outro prejuízo para o setor é a estiagem frear os planos de ampliar o mercado de exportações. Foram embarcadas para o Exterior, no ano passado, cerca de 100 mil toneladas de maçã gaúcha.
_ Neste ano, tem produtores alugando contêineres sem saber se a fruta vai ter qualidade para ser exportada. A Ásia até importa frutas menores, mas para a Europa é muito mais difícil _ compara Sozo.
Os Campos de Cima da Serra, a principal região produtora do Estado, vêm buscando ampliar mercados na Ásia, México e, mais recentemente, na Colômbia. Nos últimos dias, engenheiras agrônomas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) conduziram auditoria em pomares de maçã em Vacaria, de mais duas empresas produtoras que se cadastraram para exportar o fruto para a Colômbia. Pelo aspecto sanitário, os pomares auditados em Vacaria foram considerados aptos à exportação.
Dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) demonstram que o Rio Grande do Sul participou com cerca de 90% do valor negociado e volume das exportações brasileiras de maçãs em 2021. Os principais destinos são Índia, Bangladesh e Rússia.