Gabriela Schwan Poltronieri, CEO da rede Swan Hotéis no Brasil e fundadora da Swan Portugal Collection, vem se destacando pelas transformações empreendidas no negócio.
No final do ano passado, a rede apresentou o Swan Generation, hotel que foi totalmente reformulado no bairro Moinhos de Vento em Porto Alegre. O empreendimento híbrido, que une hotelaria design, coliving e coworking, segue um modelo bastante disruptivo. E um projeto semelhante pode ser implementado em Caxias.
Com 41 anos, 22 deles no setor de turismo, Gabriela também é vice-presidente do Transforma RS e membro do Nexo Governança Corporativa.
Graduada em hotelaria pela Universidade de Caxias do Sul com diversas especializações em gestão, a empresária aponta, a seguir, vários rumos para transformar o turismo:
Como foi assumir como CEO e, três meses depois, enfrentar uma pandemia?
Trabalho na rede desde 1998. Fui escolhida pela família para me especializar em turismo, hotelaria e gestão de pessoas. Venho percorrendo todos esses caminhos por anos dentro da rede, não existe setor ou área que não tenha passado. Mas é a primeira vez que temos o cargo de CEO. Antes tínhamos uma gestão compartilhada. E foi decidido, por unanimidade, que eu seria a CEO a partir de janeiro de 2020. Não sabíamos que viria a pandemia. Mas nada acontece por acaso. Grandes lideranças no mundo dizem isso, que são em momentos de crise que o perfil da mulher é mais adequado para se adaptar.
O Swan chegou a fechar em Caxias durante a pandemia?
Não fechamos nem por um único dia. Conseguimos autorização da prefeitura, pois recebíamos médicos e profissionais estrangeiros que não tinham como retornar aos países.
Como foi fazer a reformulação do hotel de Porto Alegre?
O projeto do Swan Generatin da Rua 24 de Outubro foi executado durante a pandemia, mas foi idealizado antes dela. Tem muita gente que acha que foi feito para atender novas tendências da covid-19. Se fosse assim, não teria dado tempo de ser realizado. A pandemia facilitou a compreensão dos investidores em aceitar a realização do projeto, aportar o dinheiro mesmo diante da crise e fazer o investimento ao longo do primeiro ano de pandemia. Foram 11 meses desde a aprovação dos investidores, e aprovação da reforma na prefeitura, até a abertura do empreendimento.
Isso deve ocorrer também em Caxias do Sul?
Há uma solicitação de alguns players do mercado de Caxias e também de boa parte dos investidores do Swan em transformar o hotel da cidade em um Swan Generation também. Estamos começando a conversar com alguns empresários e com a Conexo, que faz parte do grupo Randon. Fiz um desafio para eles, que aceitaram, de trabalharem conosco, de forma coletiva, para convidar alguns atores do turismo, como secretarias, sindicatos e especialistas, para compreender como a gente pode atender as necessidades de Caxias dentro do Generation.
O que esperam de incremento de hóspedes com vindima e Festa da Uva?
São períodos muito melhores do que quando não ocorre a festa, porque a cidade ainda não é um destino final de turismo. Estamos trabalhando para isso. Inclusive me coloquei a disposição do secretário municipal de Turismo, Enio Martins, para trocar ideias de como explorar melhor essa questão. Foi feita a campanha “Caxias, coração da Serra”, porque é uma cidade próxima de destinos finais, e que conta com muitas riquezas que estavam “adormecidas”. A covid trouxe oportunidade para olhar paro o lado, para a sua região. Com abertura da colheita da uva e a festa em seguida, a expectativa é boa. Além de manter a tradição, ela movimenta toda uma economia. A cadeia do turismo no Estado envolve 472 subcadeias de negócios. Caxias traz muitos visitantes, seja no turismo de negócios, lazer ou por ser o coração da Serra.
Qual o perfil de hóspede de hoje e o que projetam para o futuro, já que vocês estão implantando espaços que fogem do tradicional ?
Nossa prioridade sempre foi o turismo de negócios. Em finais de semana não tínhamos procura. Isso mudou bastante durante a pandemia, inclusive em Caxias. Também iniciamos uma campanha colaborativa, convidando parceiros das cidades inseridas para integrar uma rede. Locais fechados e com baixo movimento, como ocorria conosco, foram convidados a participar. Eles nos indicavam e nós os indicávamos. Montamos vários pacotes. Existe hoje uma rede de parceiros em cada lugar em que estamos estabelecidos, e isso promove o turismo de final de semana. Os empresários também percebem o valor agregado em momentos de lazer. As pessoas acabam estendendo a estadia.
Você é vice-presidente do Transforma RS e foi a primeira mulher a integrar esse grupo. Como encara esse desafio?
Quando recebi o convite, fiquei surpresa por ser a única mulher. E pensava em como poderia contribuir. Nunca me esqueço da primeira reunião no gabinete do governador, em uma apresentação de pesquisa da KPMG que apontava o turismo como terceira oportunidade de desenvolvimento no Estado, após agroindústrias e a inovação. Encontrei onde poderia contribuir. Apresentamos, há duas semanas, para o governo, uma proposta de montar um programa de planejamento estratégico de turismo de Estado, não do Estado. Projetos de médio e longo prazo com o aproveitamento da experiência e trajetória que acompanhei também de Portugal. Temos de criar uma diretriz, independente de quem ocupa o cargo, para que possa ser seguida. Nós nunca tivemos uma secretaria específica de turismo no Estado, estava sempre ligada a área de desenvolvimento econômico. Isso já é um diferencial. Há poucos dias foi anunciado o Avança Turismo, projeto em que foi liberado em torno de R$ 170 milhões. É a soma de mais de 60 anos juntos de investimentos na área do turismo. Claro que muita gente não foi contemplada, tem burocracia técnica de prefeituras e governos para obter os benefícios, há poucas pessoas trabalhando na área no setor público, mas foi um grande primeiro passo. Por tudo que tenho acompanhado, estamos com um olhar especial para o turismo.