Durou poucos dias a homenagem que amigos e familiares fizeram ao ciclista Miguel Angelo Valente, 50 anos, que morreu em dezembro enquanto pedalava às margens do km 110 da BR-470, em Veranópolis. A ghost bike (do inglês, bicicleta fantasma), instalada às margens da rodovia, foi removida na tarde dessa segunda-feira (7), quatro dias após a fixação. O equipamento é o que Valente utilizava quando foi atingido por um Ônix.
Conforme o empresário e amigo da família, Ladevir Antonio Guarda, o equipamento foi removido pelo próprio Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) e deixado junto ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no município.
— Falei com um funcionário da terceirizada do Dnit e ele disse que solicitaram a retirada porque iria virar um ponto turístico, era perigoso e muitas pessoas paravam e chamava muita atenção. Eu disse que a ideia era chamar a atenção. Tem muita roda de caminhão, muita cruz, muito capitel na beira da rodovia. Para ser justo, então, tem que tirar tudo isso. Não sei porque foram tão radicais — argumenta.
Guarda soube da solicitação de retirada na manhã de segunda, quando o funcionário da empresa contratada pelo Dnit entrou em contato com um amigo. Ao procurar a empresa, ele foi informado que deveria retirar a bicicleta ou a própria terceirizada removeria. Após a conversa, o empresário chegou a ficar 15 minutos parado às margens da rodovia, mas não presenciou nenhum veículo parado ou interferência no trânsito.
— Eu disse que não iria retirar. Gostaria que o Dnit entrasse em contato com nós e nos desse uma instrução. Perdi um grande amigo, não gostaria que a morte dele fosse e vão — afirma.
As ghost bikes são bicicletas pintadas de branco, instaladas em locais de acidentes fatais com ciclistas. O monumento torna-se um memorial para promover a conscientização em relação aos ciclistas no trânsito, além de evitar que aquela morte caia no esquecimento.
A ação é realizada em todo o mundo há quase 20 anos. Segundo o ghostbikes.org, o primeiro registro deste movimento foi em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos.
O que diz o Dnit
O engenheiro da unidade local do DNIT em Passo Fundo, responsável pela BR-470, Adalberto Jurach, afirma que existe um regramento para ações junto à faixa de domínio, apoiado pelo Código de Trânsito Brasileiro. Ele ainda diz que o departamento desconhecia a instalação da homenagem e orienta para que as equipes sejam procuradas antecipadamente nestas situações.
— O que a gente faz é zelar pela faixa de domínio, para todas as interferências. As equipes são orientadas para isso. Elas percebem algo diferente e já tomam a ação. Havendo a intenção de fazer qualquer coisa junto à faixa de domínio, próximo à via, a gente vai orientar, autorizar ou não, justamente para que as coisas ocorram dentro do que prevê o Código de Trânsito Brasileiro e a própria normativa do Dnit — explica Jurach.