Mais do que a história de um jovem vendedor, nascido em Nova Milano, no interior de Farroupilha, que construiu ao longo de seis décadas uma das maiores redes varejistas do Sul do país, Adelino Raymundo Colombo também era descrito como um homem simples no trato com as pessoas, destemido e o grande organizador de viagens ao redor do planeta com amigos para pescar, caçar e conhecer novos países a bordo de um cruzeiro.
Foi em uma dessas viagens que o também empresário Nestor Menegat conheceu o seu Adelino, como ele era carinhosamente chamado pelos amigos. Por coincidência, em 2005, os dois descobriram no aeroporto que estavam indo para o mesmo destino: a Escandinávia, no continente europeu, para um cruzeiro no Mar Báltico. Foram 18 dias de convivência e passeios entre as duas famílias na Europa, resultando em uma amizade que se estendeu ao longo dos anos.
Naquele momento, Menegat passou a ser um dos integrantes do grupo Amigos do Barco, que contava com outros 20 empresários gaúchos e também paulistas e que todos os anos viajavam em cruzeiros com o seu Adelino. Era do empresário farroupilhense a tarefa de organizar os roteiros e o dia a dia nos destinos, que se estendiam por mais de duas semanas. Entre as rotas, estão excursões marítimas nos Estados Unidos, Croácia, China e Catar.
— Ele era o chefe da excursão. Organizava, planejava e comandava tudo. Um bom parceiro de viagem. Contava histórias e ensinava muito — conta Menegat.
Parceiros de pesca esportiva
O último cruzeiro que os dois estiveram juntos foi em 2018, em um roteiro que se iniciou na Croácia e se encerrou em Veneza, na Itália. Além das viagens pelo mar, Menegat também era parceiro na pescaria esportiva, outro hobby de seu Adelino. Viajaram e conheceram rios no sul da Argentina e do Chile, no Alaska e também no pantanal do Mato Grosso e no Amazonas.
Nas viagens mais curtas, o transporte era feito em um avião de seu Adelino. Durante o percurso, na ida e na volta, os amigos jogavam canastra.
— Eu era o parceiro dele e nós éramos imbatíveis. Tinha o dom para isso e amava muito jogar carta — descreve.
Os dois se falaram pela última vez há duas semanas. Um dos assuntos entre os dois foi o livro que seu Adelino escreveu durante a pandemia e que, segundo Menegat, estava finalizado e pronto para impressão. O prefácio da obra foi escrito pelo empresário e por outros três amigos, que também fazem parte do grupo de viagens. Segundo ele, o livro reúne histórias dos passeios pelo mundo, das pescarias e também sobre a trajetória construída nas Lojas Colombo.
— Ele estava muito feliz com o livro e tinha muitos planos com isso. Uma pena que não conseguiu publicar e ver o resultado desse trabalho. Aprendi muito com ele, sempre otimista, dedicado à família e uma pessoa de bom coração — recorda.
Outro gosto de seu Adelino era reunir casais de amigos para um jantar regado a vinho e boa conversa, no que eles chamavam de confraria. No repertório, nenhum assunto escapava, inclusive o dia a dia dos negócios. Apreciador de massas e assados, seu Adelino também gostava de degustar novos pratos e cantar músicas italianas. O calendário entre os amigos previa encontros a cada dois meses em um rodízio de casas e sempre com anfitriões diferentes.
Especulações sobre a venda da empresa incomodavam seu Adelino
Seu Adelino sempre incentivou e acreditou no potencial dos seus funcionários, mas também entendia que todos eles poderiam entregar além do que faziam. Quem conta é Gilberto José Galafassi, que dividiu a mesma quando o empresário ocupou a diretoria administrativo-financeira das Lojas Colombo durante uma década.
A relação entre os dois começou em 1995, quando Galafassi assumiu a gerência de uma das lojas do grupo. Anos mais tarde, surgiu o convite para comandar as operações da rede varejista em São Paulo.
— Naquele momento, não queria assumir o cargo e fui pedir demissão. Quando ele me ouviu, disse que eu tinha portas abertas na empresa. Isso me deu segurança, sabia que podia confiar e que naquele momento era quase uma relação de pai e filho. É a mesma coisa que sair da casa dos pais, mas saber que tu poderá voltar se nada der certo.
Ao trabalhar diariamente no mesmo ambiente que o seu Adelino, Galafassi conheceu o empresário sério e compenetrado nas reuniões, mas também o homem experiente e que adorava contar histórias do passado. Por muitos anos, Galafassi sempre integrou as comitivas que viajavam pelo país para conferir o andamento da expansão dos negócios com novas lojas.
— Nem sempre ele podia terminar as histórias. Então, tínhamos que lembrá-lo de onde ele parou para que continuasse em outra oportunidade. Gostava de lembrar da infância na colônia, de falar italiano. Tive uma oportunidade ímpar de estar com ele durante tanto tempo e quero que as boas memórias permaneçam por muito tempo — explica ele, que deixou a empresa em 2018.
Galafassi conta também que poucas coisas costumavam incomodar tanto o seu Adelino quanto os frequentes rumores sobre a venda do negócio fundado por ele.
— Ele era muito sério com as suas intenções. Não gostava de especular e não queria que fizessem o contrário com ele. Nós que estávamos lá dentro sabíamos que as informações não procediam. Posso dizer que oportunidades surgiram, mas o seu Adelino nunca levou muito adiante. Ia até um ponto e parava. Ele sempre dizia que enquanto estivesse vivo nunca abriria mão da empresa.
Na última vez que conversaram, há duas semanas, Galafassi se espantou com um acontecimento simultâneo: quando pegou o celular para contatá-lo, percebeu que estava recebendo uma ligação do próprio Adelino.
—Foi engraçado na hora e agora percebo o quanto essa coincidência representou — conta Galafassi.
“O bem-estar dos amigos era o bem-estar dele”
Com a pandemia, as viagens do grupo de amigos foram interrompidas e, na última conversa que o empresário Antonio Zini teve com seu Adelino, por telefone no final de setembro, ele ouviu do empresário farroupilhense o desejo de retomar as excursões e pescarias com o arrefecimento da pandemia.
— Ele estava bem, entusiasmado e com planos de retomar as viagens. Não tinha uma data, ele ainda tinha receio de sair, mas queria muito retomar isso porque fazia bem para ele — conta.
Zini também foi convidado a escrever um depoimento para o livro que seu Adelino escreveu. Na obra, destacou a preocupação que o empresário tinha com os amigos.
— Ele sempre achava que podia fazer tudo melhor e surpreendia. O bem-estar dos amigos era o bem-estar dele — descreve.