A compra de uma rede de varejo catarinense, a Feirão de Móveis, pela gaúcha Lojas Colombo foi uma boa surpresa quando muitos negócios ainda passam pelo desafio do equilíbrio com os altos e baixos da pandemia. A coluna conversou com Eduardo Colombo, vice-presidente da companhia, no dia em que ele voltou de Florianópolis, onde passou o início da semana fechando a transação.
— Têm sido dias intensos. Voltei porque toda diretoria segue lá, e alguém tem de cuidar da lojinha — brincou.
Além da aquisição de mais 70 lojas físicas de eletrodomésticos e móveis, a Colombo tem planos de expandir suas duas novas redes, a Casa Pet, com produtos para animais de estimação, e a Cred, que oferece serviços financeiros. Além disso, voa abaixo do radar com a Tech, que vende soluções de software. A Colombo já tinha 4 mil funcionários, aos quais somará 600 da Feirão de Móveis.
Eduardo conta que, em visita recente de Adelino à sede na fria Farroupilha, onde o aquecimento fica desligado por protocolo sanitário, quis buscar uma estufa. Foi impedido pelo avô com a objeção "ou tem para todos ou não tem para ninguém". Agora, Eduardo vai distribuir mantas e liberar o uso de pantufas no trabalho:
— Não podemos ligar o aquecimento, porque somos muito rigorosos com os protocolos sanitários. Mas o bem-estar das pessoas tem de vir de algum lugar.
Como foram os preparativos para a compra?
Foram 63 dias de negociação. Estávamos com algumas frentes abertas, pensando em crescimento orgânico (sem aquisições) que visava Santa Catarina. Nossa operação é muito robusta no Rio Grande do Sul e no Paraná, mas em Santa Catarina estava aquém do potencial. O plano era construir um centro de distribuição, a partir do qual teríamos uma expansão orgânica, mas também olhando oportunidades de mercado. A companhia estava em bom momento, depois de fazer movimentos importantes em tecnologia e agilidade na logística. A pandemia acelerou um processo já planejado. Alugamos um CD no Espírito Santo, que está atendendo a boa parte do e-commerce no Sudeste. Entendemos que seria hora de dar esse passo mais voltado para o mundo físico. São 70 lojas a mais. Algumas coincidem com as nossas, mas vamos manter, dentro do possível, as duas operações. Tem mercado para isso. É impressionante como em Santa Catarina o clima é diferente do Rio Grande do Sul, lá tudo está crescendo. Aqui, o ambiente deixa um pouco a desejar.
Vemos espaço para crescer no Sul, rentabilizar mais a operação. No resto do país, vamos fazer expansão via e-commerce.
Qual é a estratégia da compra?
É fortalecer a rede fisicamente nos três Estados do Sul. Não temos intenção de expandir fisicamente para São Paulo, como se fez no passado. É um mercado totalmente diferente. Vemos espaço para crescer no Sul, rentabilizar mais a operação. No resto do país, vamos fazer expansão via e-commerce. Essa é a estratégia de ser empresa de nível nacional. No nosso e-commerce, a maior participação é do Rio Grande do Sul, mas o segundo lugar é São Paulo, capital. Depois vêm Paraná, Minas, Rio e Espírito Santo. A fatia do Nordeste vem crescendo, já está em 6% sem a gente fazer nada lá. Estamos estudando um centro de distribuição em Recife (PE).
A Colombo procurou a rede ou recebeu a oferta?
Nossa rede de contatos tinha a informação de que queríamos crescer em Santa Catarina, e um amigo soube que a empresa estaria com intenção de vender. Colocou os dois lados para conversar.
Mas dentro do possível e do momento adequado, vamos estudar, sim, outras alternativas.
É uma compra isolada ou haverá outras?
Agora precisamos estruturar bem essa. Mas dentro do possível e do momento adequado, vamos estudar, sim, outras alternativas. Mas temos um trabalho árduo pela frente, para adequar os sistemas, integrar a cultura.
Qual foi o valor da compra, e como foi bancada?
O valor da transação é confidencial, não só por nós, mas para respeitar o outro lado. Estamos usando basicamente recursos próprios. Ao longo dos dois últimos anos, mudou muito a governança corporativa da empresa, e conseguimos crescer, fazer resultado. A Colombo ficou em situação superavitária. Isso deu um pouco mais de confiança para arriscar e investir nesse negócio.
Nesse período, a Colombo também diversificou. Como estão as outras áreas?
Acabei de ser cobrado pelo presidente do conselho (risos) sobre a expansão da Colombo Casa Pet. Temos planos de prospectar 12 cidades, a maioria no Rio Grande do Sul, mas quatro em Santa Catarina. É um negócio que está operando há um ano e indo muito bem. Também vamos fazer a expansão da Colombo Cred, temos mapeadas cinco cidades, todas no RS.
Valorizar as pessoas não é difícil. É só ter respeito mútuo e trabalhar por empatia, fazer com que as pessoas se sintam parte do processo.
Como a empresa sustenta todas essas frentes em um período ainda delicado?
Nossos movimentos de tecnologia ajudaram muito, mas o principal fator é o humano. O poder de engajamento e comprometimento da equipe foi tão grande que às vezes me impressiono e até me comovo. Temos uma equipe espetacular, na diretoria e em todos os níveis. Conseguimos fazer um novo modelo de gestão, mais participativo, que tornou a empresa muito mais veloz. Ficou tão unida nos propósito que adotamos que as coisas passaram a acontecer com mais rapidez. Foi algo que venho batalhando muito desde que estou na liderança executiva da empresa. Valorizar as pessoas não é difícil. É só ter respeito mútuo e trabalhar por empatia, fazer com que as pessoas se sintam parte do processo. As pessoas que trabalham aqui estão aqui por que querem, foi o que escolheram. Trabalham muito, procuram dar seu melhor, quando o dia termina é bom que se sintam valorizadas, que percebam que fazem parte das conquistas. Assim, quando surge um problema, todos estão prontos a ajudar a resolver. Ter uma boa equipe, batalhadora, é um dos fatores que nos proporcionou crescer no meio da crise. Claro que também envolve muito trabalho, mas minha equipe sempre diz 'Eduardo, a gente não tem medo de trabalhar'. Isso dá confiança para assumir alguns riscos.
Nesse ritmo, há algum negócio novo?
Há três anos, quando fiquei à frente do dia a dia, a Colombo só tinha uma empresa de eletro e móveis. Hoje temos pet, cred. E temos a Colombo Tech, nossa caçula. Ainda não falamos muito publicamente sobre essa área, que vende soluções em software. Temos uma área de TI robusta, que desenvolveu soluções para dentro da empresa que também servem a outros varejistas. Já temos clientes de esfera nacional, inclusive de outros segmentos. É parte do nosso envolvimento com startups, com o projeto Hélice, para desenvolver tecnologia.
Ainda há problemas a resolver?
Ainda temos dificuldade em lojas de shopping centers. Não conseguimos adequar os custos. E houve queda acentuada de movimento nos shoppings.
Isso quer dizer que a Colombo pode sair totalmente de shoppings?
Seria muito forte dizer que vamos sair 100% de shopping. Mas como precisamos adequar, vamos acabar saindo de alguns. Outro desafio imenso é o aumento de custos, os contratos de aluguel, as tarifas de energia, o preço do diesel, que está absurdo. Os produtos da linha branca (geladeira, máquina de lavar) subiram 30% só neste início de ano. O consumidor não tem bolso para isso. Então, ao mesmo tempo que estamos investindo e expandindo, estamos com os olhos voltados para essa situação. Embora os especialistas entendam que há otimismo, é preciso cautela.