Novas áreas cultivadas que entram em produção este ano e a ausência de perdas em razão de intempéries projetam uma safra da uva muito maior que a do ano passado. As previsões indicam um leve aumento, podendo ultrapassar as 800 mil toneladas no Rio Grande do Sul. De acordo com estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), publicada em dezembro de 2020, a área com plantio de uva será de 46.797 hectares, com um rendimento de 18.896 kg/ha e uma produção de 875.065 toneladas. A Serra Gaúcha participa com cerca de 90% desse volume. Confirmado esse número global, será um crescimento de 19% em relação à safra de 2020.
A colheita da uva segue intensa em todo o Estado, e o trabalho nas cantinas também. A safra decorre em condições muito favoráveis à qualidade das uvas na avaliação dos técnicos do setor, produzindo frutos doces, com bagas grandes e boa sanidade.
Na regional de Caxias do Sul da Emater, a colheita da uva Isabel foi o destaque na semana que passou. Também estão em colheita todas as variedades de mesa, destacando-se as cultivadas sob cobertura plástica: Itália, Rubi, Benitaka, BRS Clara, BRS Linda e BRS Morena. E está encerrada a colheita das variedades de ciclo precoce, restando ainda a Bordô nos Campos de Cima da Serra.
– A safra de 2020 foi a safra das safras em termos de qualidade. E esta safra de 2021 vai ser a safra das safras em quantidade. Devemos colher cerca de 800 milhões de quilos de uva – confirma Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
Em material divulgado à imprensa, a entidade destaca que, com relação à qualidade da fruta, ainda é cedo para uma avaliação geral. Entretanto, as uvas precoces, destinadas à elaboração de espumantes, apresentaram excelente sanidade e equilíbrio entre acidez e açúcar, o que é ideal para a bebida. A Uvibra avalia que as condições de estiagem, combinadas com grande amplitude térmica diária, de dias quentes e noites frias, ocorridas no final da primavera e início do verão, não anteciparam o ciclo e foram muito favoráveis para a quantidade e a qualidade enológica das uvas precoces. Entretanto, a entidade pondera que, apesar de uma previsão de maior quantidade em relação à safra 2020, o prognóstico de maiores índices de chuvas pode restringir o potencial qualitativo de algumas cultivares intermediárias e tardias, o que exige atenção dos produtores nesta reta final da safra.
– Apesar da pandemia e das duas estiagens seguidas no Estado, o setor vitivinícola está trazendo um alento para a agricultura gaúcha. Com duas safras seguidas com recordes em qualidade e em quantidade, há a esperança de um maior faturamento para o setor, trazendo desenvolvimento econômico para o nosso Estado – destaca o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho.
A estimativa de consumo de vinho também aumentou, de acordo com a Uvibra, passando de 2 para 2,8 litros/habitante por ano.
– Nós conquistamos novos consumidores, que descobriram o vinho nacional, perceberam sua qualidade e vieram para ficar – entusiasma-se Argenta.
Produção gaúcha em números
O mapa da vitivinicultura gaúcha tem 122 municípios no RS, conforme dados do Cadastro Vinícola do Estado do Rio Grande do Sul (Sisdevin/SDA, o Sistema de Declarações Vinícolas).
Menos de um quinto deste grupo, ou seja, 22, produzem apenas variedades viníferas (para vinhos finos).
Outras 34 cidades mesclam as áreas com uvas viníferas e americanas, e a grande maioria, 66 delas, se dedicam ao cultivo exclusivo das uvas americanas.
A aposta única nas viníferas está distribuída por diversas regiões em pequenas cidades, como André da Rocha, Bagé, Candiota, Canela, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaara, Itaqui, Lavras do Sul, Mariana Pimentel, Muitos Capões, Passo do Sobrado, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Piratini, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento, São Borja, São João do Polesine, São Sepé e Uruguaiana.
Santana do Livramento em a maior representatividade, com 10% de toda produção de uvas viníferas do Estado, chegando a 6,9 mil toneladas no ano passado.
Entretanto, o maior produtor de uvas viníferas é Bento Gonçalves com 12 mil toneladas.
Considerando os municípios que cultivam viníferas e americanas, o maior produtor de uvas é Flores da Cunha com um total de 84 mil toneladas em 2020, seguido por Bento Gonçalves com 73 mil toneladas e Farroupilha com 50 mil toneladas.
Área com plantio de uva este ano será de 46.797 hectares, com um rendimento de 18.896 kg/ha e uma produção de 875.065 toneladas. Os números são uma estimativa do IBGE, em dezembro passado.
A projeção é de um crescimento de 19% em relação à safra do ano passado.
A Serra Gaúcha participa com 90% do volume produzido no Estado.
Em 2020
735 mil toneladas de uvas colhidas no Rio Grande do Sul, conforme o IBGE.
Das 502 mil toneladas industrializadas por cerca de 15 mil famílias, 86% são de variedades americanas.
Das 34 castas cultivadas (21 tintas, 12 brancas e uma rosé), o grande destaque fica com as tintas Isabel e Bordô, amplamente usadas para a elaboração de suco de uva.
Quando se fala de viníferas, o cenário amplia para 78 variedades, sendo 38 tintas, 38 brancas e duas rosés. A maior produção é de Moscato Branco e Chardonnay, além das tintas Merlot e Cabernet Sauvignon.
Toda a produção é processada por 614 vinícolas no Rio Grande do Sul, segundos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em todo o Brasil, são 831 vinícolas.
Vendas de vinhos finos aumentaram 56,56%, passando de 15 milhões de litros/ano, em 2019, para 24,2 milhões em 2020, de acordo com dados da Uvibra.
Já os espumantes e sucos de uva, registraram queda em 2020, de 6,63% e 5,24% respectivamente.
Fontes: Uvibra, IBGE, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Sisdevin/SDA)