A crise provocada pelo coronavírus criou novos hábitos de consumo e de convívio social. O isolamento e o distanciamento físico necessários para barrar o contágio de covid-19 exigiram que os empreendedores se reinventassem. Para muitos caxienses, a pandemia foi um momento de ousar e empreender. Dois dos ramos que mais cresceram na região, especialmente, em Caxias do Sul foram as compras online e o setor de alimentação, principalmente, o delivery. De acordo com dados de uma pesquisa do Sebrae, os ramos que mais se destacam em 2020 são: compras online, setor farmacêutico, delivery, supermercados, marmitas, bebidas, pets, exercícios em casa, itens de informática e serviços de casa e construção, entre eles, o ramo da decoração.
Atenta ao mercado e com mais tempo livre, a advogada Karen Dornelles, 28 anos, decidiu aproveitar a pandemia para tirar do papel o sonho de empreender. Ela e o irmão Felipe de 15 anos, conversavam sobre montar uma loja online e tinham o desejo de criar um negócio, mas ainda não sabiam que rumo seguir. A advogada sempre gostou de decoração, mas o ramo despertou ainda mais o interesse dela no ano passado quando casou e decorou a casa nova. No começo da pandemia ela teve tempo para pensar no que investir. Ao lado do irmão e de uma prima, avaliou ideias, negócios, fornecedores e produtos. A inspiração começou a surgiu depois do Dia dos Namorados. Para celebrar a data, Karen montou uma mesa decorada em casa para comemorar com o marido.
— Eu tive dificuldade em encontrar a decoração que queria, andei bastante em várias lojas de Caxias e não achava algo que eu gostasse. Tudo o que eu gostava via pela internet, mas não tinha na cidade. Passou mais um mês e fui procurar um jogo americano e encontrei várias lojas de mesa posta e não encontrava nada parecido no RS — afirma ela.
Nesse momento virou a chave:
— Estava buscando um produto para mim, e não encontrava, foi o momento que escolhi o que fazer porque eu acho que temos que vender o que gostaríamos de comprar. Estava sempre atenta e esperando a oportunidade.
A compra online virou uma alternativa para diminuir as possibilidades de contágio, e foi neste cenário que os três lançaram a @loja.tcheamo nas redes sociais. O nome é uma homenagem ao Rio Grande do Sul, a Alegrete, cidade de Karen, e a própria data de nascimento dela, 20 de setembro. No início, os três trabalhavam com peças prontas, mas hoje é avô de Karen que costura os produtos. Há peças em estoque para pronta entrega, mas o foco são as encomendas.
— A nossa loja é online, e a cada mês percebemos o crescimento do nosso negócio. Sempre quis empreender e estar no mundo digital. Nosso produto pode não ser uma necessidade básica, mas ele agrega conforto e aconchego no ambiente familiar. A vida corrida antes da pandemia nos tirava esse olhar das coisas mais simples. A mesa é um lugar para partilhar histórias, desafios do dia a dia e construir lembranças boas. Ela nos remete as nossas vivências — diz.
"Sempre quis ter um negócio", conta jovem
Gabriela Rodrigues Bertin, 25 anos, ficou dois meses afastada da empresa onde trabalha em função da pandemia. Com o tempo em casa conseguiu se dedicar ao sonho de ter um negócio:
— Nesse período em casa fiquei idealizando e pensando no que poderia empreender. Temos sonhos e projetos, mas na corrida do dia a dia a gente acaba não conseguindo se dedicar aos nossos planos. Com isolamento aproveitei para sentar, planejar e estruturar várias coisas.
Com a ajuda do namorado ela analisou o cenário para encontrar o negócio que iria lançar. Pesquisaram na internet, conversaram e tiveram várias ideias até tirar o negócio do papel. As conversas começaram em abril, e em junho elaboraram o primeiro produto. Ela aliou o ramo da alimentação a presentes personalizados para lançar online a @alegratepresentes e celebrar o Dia dos Namorados.
— Pensamos em presentes personalizados e relacionados a doces. A primeira ideia foi criar uma festa na caixa para o Dia dos Namorados. Montamos uma caixa decorada com brigadeiros, bolo, salgados e fotos do casal — lembra.
Ela ressalta que o retorno é positivo:
— Lançamos a loja nas redes sociais e divulgamos nossos produtos. Fomos surpreendidos porque não pensamos que teríamos tantos clientes. Acredito que muitas pessoas não tentam por medo de fracassar, mas nós decidimos ousar para nos dedicar ao nosso sonho.
Hoje, Gabriela divide o tempo entre a produção dos doces, a administração da loja online e o emprego:
— A lição que tiro de tudo é que temos que aproveitar as oportunidades e não podemos ter medo de iniciar um negócio e se preciso encerrar ele. Temos que agarrar as oportunidades, e ficar atentos as novas que vão surgir no mercado, principalmente, no mundo digital. É necessário acompanhar essa nova tendência de consumo.
Pandemia acelerou era digital em cinco anos
No início da pandemia, as empresas se viram obrigadas a se readaptarem ou fechariam as portas. Com o tempo, o que era necessidade se tornou oportunidade de reinventar o negócio ou de investir em segmentos com versões online. O Gerente Regional do Sebrae na Serra, Cesar Maurício Samuel do Nascimento, ressalta que a pandemia acelerou a era digital:
— Percebemos uma mudança drástica porque a pandemia acelerou em cinco meses o que era previsto para a era digital em cinco anos.
Segundo ele, as plataformas digitais tiveram aumentos significativos e os restaurantes, por exemplo, migraram para as entregas porque era a necessidade dos clientes comer sem sair de casa. Ao mesmo tempo em que trouxe uma dificuldade, o gerente acredita que também é uma chance de inovar, acompanhar o mercado, e se modernizar.
— Os dados mostram que 5 a 10% das empresas tiveram aumento do faturamento porque que se adaptaram rapidamente, elas tomaram posição e não se apegaram aos velhos hábitos. Mudou a forma de consumir porque as pessoas se acostumaram a comprar pela internet e receber em casa os produtos, alimentos, medicamentos ou até buscar nas empresa. Elas não tem a necessidade de estar em uma sede física — aponta.
Outro mercado que se fortaleceu foi o da alimentação:
— A área de alimentação cresceu disparadamente, tanto que muitos negócios abriram no ramo de fast food. Estando em casa, as pessoas consumem ainda mais porque ficam inquietos então comem mais. Foi um ramo com aumento significativo de abertura de negócios.
A pesquisa do Sebrae
Compras online
Segundo dados da Statista, na primeira quinzena de março de 2020, o comércio eletrônico aumentou 40% em comparação com o mesmo período em 2019. A compra online virou uma alternativa para diminuir as possibilidades de contágio, e os produtos oferecidos são variados e de diferentes segmentos, começando pelos essenciais, como supermercados e farmácias.
Setor farmacêutico
O ramo está entre os de maior crescimento neste período, a venda online de produtos relacionados a saúde vem somando mais de 120% de aumento (segundo a Statista). Os consumidores vêm se rendendo aos canais digitais e realizando a compra por aplicativos, redes sociais, sites e até mesmo telefone.
Delivery
Empresas que não utilizavam o serviço passaram a usar, já que graças a ele é possível continuar atendendo, mesmo de portas fechadas. Entre os negócios que se destacam com o serviço estão restaurantes, papelarias, pequenas lojas de roupas e de higiene e beleza.
Supermercados
Como os consumidores estão ficando mais tempo em casa, o comportamento das compras foi alterado. A procura por itens de comida caseira, assim como de higiene do lar, vem aumentando, e os supermercados e mercearias desenvolveram estratégias para para oferecer seus serviços, como aplicativos de delivery e canais de mensagens instantâneas.
Marmitas
Empreendedores que atuam nesse mercado ganham relevância, considerando que muitas famílias precisam não só manter a rotina de trabalho em home office, como também atender os filhos, que estão com as atividades presenciais escolares suspensas. Segundo dados do Ministério da Economia, o ramo de alimentação para consumo domiciliar já estava em expansão, com um crescimento de mais de 130% nos últimos cinco anos.
Bebidas
Com bares e restaurantes fechados, muitas pessoas estão recorrendo ao delivery de bebidas e cervejarias locais. Para fabricantes de bebidas alcoólicas, o aumento das vendas fora das instalações é um ponto positivo, principalmente para mostrar ao consumidor essa nova alternativa, que pode gerar novos atendimentos no pós-crise.
Pets
O destaque é para os produtos de recreação no lar, principalmente para esse período em que ambos - donos e animais - precisam se distanciar dos ambientes ao ar livre. Com isso, o delivery, que antes não era muito solicitado, cresce e deve permanecer no futuro.
Exercícios em casa
É uma solução encontrada para que profissionais continuem prestando serviço em meio a essa pandemia. As aulas online vêm conquistando alunos, e mesmo sabendo que não haverá quase nenhum retorno financeiro imediato, espera-se uma recompensa no longo prazo, graças à divulgação e marketing.
Itens de informática
Com o home office, muitos itens de informática estão sendo requisitados, principalmente mouses, teclados, laptops e cadeiras para uso de computador. Os itens para produção de vídeos e transmissões ao vivo também tiveram maior procura, entre eles os tripés para celular, iluminadores e microfones.
Serviços de casa e construção
Com as pessoas passando mais tempo em casa, os ambientes domiciliares se transformaram em escritório para trabalhar em casa. Dessa forma, os serviços de arquitetos, decoradores, marceneiros e demais profissionais da área de decoração, bem como as vendas de produtos relacionados, também estão sendo procurados.
Fonte: Sebrae