O aumento do número de casos de coronavírus, com a ocupação de leitos no limite no Hospital Nossa Senhora da Oliveira, motivou o prefeito de Vacaria, Amadeu Boeira (PSDB) a anunciar toque de recolher e multa para quem circular nas ruas da cidade fora do horário permitido ou não usar máscara em via pública. Com 28 mortes e 609 moradores em isolamento domiciliar diagnosticados ou com suspeita da doença, o município recorre a regras mais rígidas .
O decreto determina que é proibida a circulação de pessoas nas ruas de Vacaria das 22h às 6h. O documento com as restrições será publicado entre esta quarta (2) e quinta-feira (3). De acordo com a assessoria de imprensa, o município está elaborando o decreto e acertando os detalhes legais, bem como por quantos dias o documento terá validade.
Com base na determinação, só poderá estar na rua quem estiver trabalhando, e essa pessoa precisará comprovar que está se deslocando para o trabalho ou retornando. Quem estiver circulando em via pública sem comprovação de trabalho será multado. Quem não usar máscara a partir de agora também será multado em R$ 200. O prefeito reforçou a necessidade de manter os cuidados para combater o contágio de coronavírus. As novas medidas buscam evitar um agravamento da situação de contaminação e evitar que a cidade passe por um lockdown.
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Outra mudança é que as pessoas com sintomas da doença serão atendidas na creche ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, que está fechada por conta da pandemia. A prefeitura também pede aos comerciantes para redobrarem os cuidados evitando a aglomeração dentro das lojas.
A atual situação da cidade foi tema de reunião na Câmara de Vereadores de Vacaria na última terça (1º). Na ocasião, o secretário da Saúde, Márcio Tramontina, ressaltou que o município intensificaria as ações de enfrentamento no combate ao covid-19:
— Vamos tomar uma série de ações para diminuir a impacto da doença na população. Porém, devemos intensificar as medidas simples, porém eficazes no combate a covid-19, como o uso de álcool gel, máscara e o distanciamento social, que previnem mais casos de contaminação.
Hospital no limite
Quatro leitos da área clínica destinada à covid-19 foram abertos na terça-feira (1º) no hospital de Vacaria. O número soma-se a outros 24 do mesmo setor. São 17 pacientes internados na área. Já na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), há cinco leitos e todos estão ocupados. Três deles estão fechados por falta de profissionais da saúde. A situação começou a se agravar na metade de novembro.
A preocupação com a falta de cuidados por parte da população foi motivo de uma iniciativa que chamou a atenção na cidade. Uma publicação na página do Facebook do hospital, de 24 de novembro, mostra duas profissionais da saúde transportando uma maca com uma vítima de covid. O texto é de desabafo e apelo: "Cada dia vemos mais pessoas chegando ao Hospital em busca de cuidados. Mais gente contaminada, mais gente doente. E por fim, profissionais da saúde cansados, adoecendo, tristes por ver o descaso de parte da população. Sim, os profissionais da saúde ficam tristes, porque eles sabem como é o fim de alguns pacientes." Ao final, o alerta: "Por favor nos ajude. Cuide-se, por amor a você e a quem você ama."
Transferência por falta de leito
Uma moradora de São José dos Ausentes morreu no Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, no último domingo (29). O caso é um exemplo de transtornos causados pela falta de vagas de UTI na cidade. A paciente, que estava na área clínica do Hospital Nossa Senhora da Oliveira, foi transferida para Caxias em 19 de novembro, após nove dias de internação. Antes disso, ela e outro paciente estavam na lista de espera para ingressar na UTI. O outro conseguiu atendimento porque houve óbito na unidade intensiva.
Em junho, prefeito ignorou bandeira vermelha
Em junho, quando o governador Eduardo Leite (PSDB) anúncio que a região da Serra estaria em bandeira vermelha, o prefeito Amadeu Boeira ignorou o decreto estadual e a cidade seguiu com o comércio e os serviços em funcionamento normal. Na época, ele fez um requerimento para o governador, do mesmo partido, para tirar os Campos de Cima da Serra da região de Caxias do Sul. Ele alegava que os casos estavam controlados na cidade, sendo que seis pessoas haviam morrido até aquela data. O pedido, no entanto, não foi atendido pelo Estado.
Toque de recolher marcou começo da pandemia na Serra
Está não é a primeira vez que cidades serranas decretam toque de recolher para combater a pandemia. Em março, quando começaram a surgir os primeiros casos, Flores da Cunha e São Marcos decretaram por 15 dias toque de recolher noturno como medida para conter a propagação do coronavírus.
Na mesma data, Vacaria determinou o fechamento dos estabelecimentos comerciais, permitindo a abertura de farmácias, clínicas de atendimento na área da saúde, mercados e supermercados, restaurantes, padarias, lancherias, hotéis, postos de combustíveis, agropecuárias e demais estabelecimentos de venda de produtos para animais, bancos e instituições financeiras, além de comércio de água e distribuidora de gás. O decreto apontava ainda que esses estabelecimentos autorizados deveriam adotar preferencialmente o sistema de entrega em domicílios para evitar, "na medida do possível", a aglomeração de pessoas.
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