Erradicar a miséria tem sido objetivo perseguido por Luis Roberto Ponte, presidente da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs). Nesta segunda-feira (22), na reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, o ex-deputado federal constituinte abordou o assunto e apontou o desenvolvimento econômico como única saída. Para isso, incentivar o empreendedorismo é obrigatório.
Ponte defendeu que é preciso não só atrair empresas como respeitá-las e tratá-las com dignidade. Empresários que cumprem a lei são os produtores de bens que tiram as pessoas da miséria e geram trabalho e renda, segundo ele. Para o engenheiro, que foi também ministro-chefe da Casa Civil entre 1989 e 1990 e secretário de Desenvolvimento no governo de Germano Rigotto, é preciso eliminar exigências consideradas inúteis, a burocracia e a superposição de normas e fiscalizações.
— O que tira as pessoas da miséria são os empreendedores — sentenciou.
Apesar de exaltar a importância do empresariado, Ponte não poupou a classe. Criticou o comportamento de alguns empresários e pediu para que mudem a postura:
— O empresário ganha dinheiro e empina o nariz. Parece que trata com desdém os desvalidos. Tem de mudar o discurso. Parem de levantar o nariz porque ganharam dinheiro.
Presidente da CIC, Ivanir Gasparin não recebeu a declaração como uma crítica. Para ele, talvez possa parecer que existe um distanciamento em empresas maiores, onde a direção não está tão perto dos funcionários:
— Em pequenas empresas, colaborador e empresário têm convívio próximo.
O QUE ELE DISSE
Após a palestra, Ponte conversou com a imprensa. Veja:
Como eliminar a miséria
"Acabar as injustiças que o Estado faz, as injustiças salariais com o seu funcionalismo, as injustiças com o empreguismo, a injustiça com as aposentadorias precoces, as injustiças com benefícios que dá para alguns e não dá para todos. Acabar com essas injustiças e fazer com que os empresários possam assumir a posição de produção dos bens, que é o que pode tirar as pessoas da miséria. O objetivo da minha palestra é a erradicação da miséria, e isso só vai se dar com a produção dos bens que eles precisam para sair da miséria. Quem produz esses bens são as empresas, os empreendedores, e a percepção disso é o Estado influenciar para que isso se dê, ajudar a trazer investimentos, a proteger as empresas, não dando dinheiro, mas tratá-las bem, com dignidade. Isso é suficiente, ao longo dos anos, à medida que vão se consertando as injustiças que são tão grandes, que têm de ter uma transição para consertá-las. Ninguém aceitaria de uma hora para outra perder uma quantidade grande dos seus ganhos porque isso é injusto."
Reforma da Previdência I
"Nós estamos na esquina, na encruzilhada da vida. Ou se faz isso corretamente. Não é fazer a reforma da Previdência. Todo mundo fez uma reforma. Fazer uma reforma para valer, que é consertar injustiças, só isso, é indispensável para dar os passos subsequentes. Sem isso, na minha opinião, é uma década para frente de sofrimento, de ampliação da pobreza, de inviabilidade do país."
Reforma da Previdência II
"Acho que tem, se é que tem, pouquíssimos retoques que deveriam ser feitos. Eu votaria na plenitude. Não vai passar na plenitude. Há algum dispositivo que o governo botou que é polêmico porque não se estudou. Por exemplo, você dá para quem tem 60 anos o direito de receber R$ 400 por mês. Ele não tem esse direito hoje. Só que quem optar por isso, não vai aos 65 receber o salário mínimo. Ele recebeu cinco anos antes, cinco anos depois continua recebendo R$ 400 e aos 70 ele recebe integral. Se a pessoa que ganha pouco e contribui, ganha a mesma coisa que a que não contribui. Então, por que vou contribuir? Vou guardar esse dinheiro para mim. Isso está sendo apontado contra os pobres. Eu estou dando a alguns que já não podem trabalhar. Tem gente que com 60 anos está acabado. Pô, você recebe R$ 400, junta com salário família, e daqui a pouco você pode viver com dignidade, e aos 70 você recebe o salário mínimo e pronto. Isso é considerado mau. Está vendo como ele não queria corrigir a pobreza? Ele quer é beneficiar os ricos. E o que ele mais faz é tirar dos ricos. E o risco dela não passar é só esse. São as pessoas das castas, escondidas, que não se animam mais em dizer explicitamente porque não têm argumentos, então é nos deputados. Os juízes não querem passar a ganhar só R$ 4,5 mil, R$ 5,5 mil, os que ganham R$ 50 mil, R$ 60 mil. Mas não são esses, são os futuros, porque a lei respeita o dinheiro adquirido. Ninguém que está aí perde nada. Há uma transição para depois completar o ciclo da justiça."
Governo Bolsonaro
"O desejo dele é esse. Ele depende de (mudar) legislações que dificultam a vida dos empresários e ele tem de mudar essa legislação. Nós estamos em uma fase em que se imiscui na vida empresarial um mundo de decisões pseudojurídicas do Poder Judiciário, do Ministério Público, do Tribunal de Contas, do setor ambiental. Todo mundo se mete para atrapalhar a produção. O governo só deveria cuidar se as empresas estão cumprindo a lei. O que é cumprir a lei? Respeitar os direitos dos trabalhadores, respeitar a cobrança dos impostos, para poder erradicar a miséria e o governo cumprir o seu papel. O governo precisa de dinheiro. Cobra dos que podem pagar, ou seja, das empresas e das pessoas mais ricas. Cumprido e respeitado o direito dos outros, não lesar ninguém, é isso que o governo tem de fazer. Incentivar para que elas (empresas) venham para cá. Você não vai pegar benesses do governo, governo não tem benesses, mas você vai ter toda a consideração e o respeito da sociedade. E ninguém vai lhe fazer injustiça. Se o Brasil crescer como já cresceu no passado, 6% ao ano, e segurar as deformações de hoje, sai disso sem dever a sua alma e sua honra dependendo da União, pedindo favor. Isso tudo depende dessa consciência de que o empresário não é a causa da miséria. Ao contrário, é a única solução, mesmo quando eles não têm consciência disso. E muitas vezes o empresário não tem consciência disso, o empresário é egoísta também como a sociedade, acha que porque ganhou dinheiro é o tal e tudo mais. Mas isso não tira a contribuição dele. Ao gerar riqueza, ele está contribuindo para acabar com a miséria mesmo que não queira. E é isso que tem de ser passado para a sociedade, para a sociedade não tratá-lo mal. O empresário é mal visto. E não é só aqui, é no mundo todo. O que é a França hoje? Essa sensação de que a França ajuda os empresários, que estou pobre por causa dos empresários. Tirar isso da percepção do povo para que o povo não pressione os deputados para votar contra o empreendedorismo e a favor do empreguismo, dos salários deformados, das aposentadorias precoces. Tem cabimento uma pessoa das Forças Armadas, da Brigada Militar, se aposentar com quarenta e poucos anos? Vai viver 85. Eu tenho 85 e trabalho 14 horas por dia. Eles vão viver mais do que eu porque em cada geração aumenta (a expectativa de vida). E quer se aposentar com quarenta e poucos para ser infeliz, porque a pessoa que não trabalha acaba sendo infeliz."
Governo Eduardo Leite
"Ele está continuando os projetos do Sartori, que foram esplendorosos, propôs o que era tabu, algumas coisas não conseguiu passar. O Eduardo conseguiu montar um apoio maior na Assembleia. O Sartori, no fim do governo, você sabe, sempre tem os anticorpos, então ele perdeu algumas alianças e não conseguiu aprovar a privatização. Se esse governador, que tem um pouco mais de capacidade de articulação pessoal _ Sartori era muito de governar com a equipe _, é possível que se consiga votar e se corrija uma parte das injustiças. Outra parte, que é Previdência, ele pode mexer em pouca coisa, a não ser que se mexa na nacional. Ele tem de apoiar a votação da Previdência nacional, se mobilizar para isso."
Governo Eduardo Leite II
"O que ele não consegue estancar de vez são alguns órgãos que eventualmente não têm essa visão. No meio ambiente, o Sartori conseguiu avançar muito. No governo anterior ao Sartori, tinha aprovação de projetos na Fepam que levavam oito, 10 anos. Ele conseguiu com a Ana Pellini, que foi sua secretaria do Meio Ambiente e presidente da Fepam, colocar num tamanho bem razoável. E o novo governador está na mesma linha de manter. Não é prejudicar o meio ambiente, é não ficar a vida inteira sem decidir. Eu estou propondo um empreendimento e não tem condições, porque acaba com o meio ambiente, diga "não pode" e acabou. Não fique 10 anos sem dizer."