Os seis comprimidos por dia, mais as sessões de quimioterapia, são pagos pelos filhos - quatro, no total, que também trazem a carne do churrasquinho do domingo que seu Lucas ainda assa, apesar de sentir-se cansado.
Metalúrgico aposentado desde 1987, Lucas Venâncio da Silva Siqueira, 79 anos, sabe bem o que vai fazer com os R$ 17,49 a mais no contracheque a partir de julho, resultante da diferença de 1,58 ponto percentual entre os 6,14% de aumento propostos pelo governo para as pensões acima de R$ 510 e o reajuste de 7,72% aprovado pelo Congresso.
- Eu? Se Deus quiser, vou aliviar um pouco a conta dos meus filhos. São eles que me compram todos os remédios - diz Lucas, 37 anos de trabalho, R$ 1.107 de benefício mensal, morador do bairro Navegantes, em Porto Alegre.
O aumento para quem ganha acima do mínimo, mantido ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de quase um mês de suspense, não é tão grande assim para atender ao desejo de seu Lucas. Somados os 13 salários de um ano, a alta chega a R$ 227,37 - insuficiente para pagar um terço de apenas uma das seis sessões de quimioterapia que faz por ano, para combater um câncer de próstata.
Mesmo assim, bate palmas:
- Sempre ajuda. Qualquer aumento ajuda, mesmo sendo pouquinho. Até porque o salário sempre acaba bem antes do fim do mês.
Ao lado da mulher Cely, com quem se casou há 54 anos, Lucas faz ginástica para viver com o benefício da Previdência. Gasta toda a sua pensão e a de Cely, que ganha um salário mínimo, nas contas básicas de uma casa: luz, água, mantimentos. Lá pelo meio do mês, o dinheiro começa a escassear. Poupança para uma emergência? Nem pensar, diz.
Entidade vê alta como uma vitória
A diferença na conta de seu Lucas, somada à dos 8,3 milhões de aposentados que recebem acima do mínimo, vai custar ao governo R$ 1,6 bilhão. A conta, anunciada pelo guardião do cofre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, será compensada com cortes orçamentários na mesma proporção. O ministro não disse quais áreas seriam afetadas, mas afirmou que poderá ser repassada aos congressistas por meio do corte de emendas parlamentares. E também há quem avalie que os recursos poderão provir do aumento da arrecadação (veja matéria na página ao lado).
O presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas do Rio Grande do Sul (Fetapergs), Osvaldo Fauerharmel, considerou a decisão uma vitória para os aposentados, apesar da diferença pequena no salário do final do mês. Quem ganha R$ 520, por exemplo, terá um impacto de apenas R$ 8,21.
- Vale como símbolo de uma luta que travamos há muitos anos - disse.
Seu Lucas que o diga. Dirigente sindical desde 1944, o metalúrgico já esteve com o candidato Lula em 2002 para reivindicar uma política de recuperação das pensões pagas pela Previdência, que o fizeram perder mais de 50% da renda em pouco mais de 20 anos. Quando se aposentou, Lucas recebia 4,6 salários mínimos - em valores atuais, deveria receber um benefício de R$ 2.346 por mês.
- Na época, ele disse que a situação era absurda e que, se ganhasse a eleição, resolveria o problema em um mês. Mas, até hoje, nada - recorda o aposentado.
Economia
Aposentado conta que diferença farão os R$ 17,49 que receberá a mais com o reajuste
O presidente Lula autorizou ontem aumento de 7,72%
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