"2020. Em Caxias do Sul, um grupo de voluntários luta contra o tempo para desenvolver um ventilador pulmonar de baixo custo durante a pandemia da covid-19". Essa é a sinopse do filme Frank, longa baseado em fatos reais e que quer levar ao país, e quem sabe ao mundo, uma história que se passou nos corredores do Hospital Geral (HG), da Universidade de Caxias do Sul (UCS) — a criação e a montagem de um respirador —, e de empresas do município.
Conforme o produtor Felipe Vieira, o projeto está em fase de captação de recursos. O objetivo é arrecadar R$ 5,1 milhões até o fim deste ano.
— Parte do princípio também de ser uma história sobre a pandemia, que até agora, pelo menos no cinema, não foi um tema muito utilizado pelas produções. Foi um evento que atingiu a população de todo o planeta, a começar por aí. Segundo, é uma história real, que aconteceu aqui em Caxias, na nossa terra, uma união de esforços da comunidade e dos empresários locais. Quando tomei conhecimento da história eu disse: aí tem muita coisa — afirma Vieira que, ao lado de Alexandre Avino, diretor médico do HG, representa o grupo que faz a captação de recursos para o longa.
Na época, a mídia cobriu a criação e montagem do respirador emergencial em Caxias. O filme vai além. Avino, que fez parte do grupo que trabalhou no equipamento, lembra que o contexto e a união de esforços trazem uma história poderosa. O projeto é em parceria com a Matilha Filmes, de Porto Alegre.
A história do Frank
A corrida pelo respirador, como lembra o médico, começa em um momento em que o mundo ainda aprendia a lidar com o coronavírus. Não existia vacina, nem tratamento. A doença se alastrava por Ásia, Europa e América do Norte e, aos poucos, chegava ao Brasil. Além do temor maior pelo contágio, o medo de governos e hospitais era de que faltassem respiradores devido ao alto número de internações, como aconteceu na Itália, por exemplo.
A calamidade mundial foi tanta que não tinha como as fábricas receberem peças para construir equipamentos. Os disponíveis no mercado ficaram nos Estados Unidos do então presidente Donald Trump. Foi nesse cenário que um grupo, liderado pelo empresário Hugo Sousa, decidiu que precisava fazer algo.
— Nós não tínhamos peças, não tínhamos perspectiva de ter respirador. E aí, esses caras disseram, "Vamos fazer". Começaram com peças que não têm nada a ver com o respirador (como de máquinas de lavar roupa) e com coisas que nós tínhamos aqui na região. Então, vieram peças de uma série de empresas. O que eles produziram? Eles produziram um Frankenstein (dali o nome, Frank) — relembra Avino.
O grupo procurou a UCS, que repassou a dúvida se seria possível criar o respirador a Avino. Como o médico descreve, o respirador era "rudimentar", obviamente não tão moderno como os modelos do mercado. Mas, como em uma guerra, era uma arma em caso de necessidade. O plano era simples: se faltassem respiradores, os pacientes que chegassem ao hospital iniciariam o tratamento no Frank e passariam para um equipamento mais potente assim que este vagasse.
— Ele não é melhor do que os respiradores mais antigos que conheço. Mas qual era o objetivo dele? Era um só, o de chegar uma pessoa aqui no hospital, ou em qualquer hospital, que iria morrer por falta de ar, e ele representaria uma chance para ela — descreve o médico.
O que será exposto então é a presença de humanidade, altruísmo, solidariedade e determinação, em enfrentamento ao meio da tragédia.
ALEXANDRE AVINO
Diretor médico do HG
A lição deixada pela construção do Frank, que teve 50 unidades fabricadas, é importante. A partir do momento em que o grupo se propôs a criá-lo, foram enfrentadas etapas rigorosas para homologação, incluindo testes que poderiam queimar a única unidade do projeto caso ela falhasse, e um teste emocionante com uma paciente, com autorização da família.
— São 2,5 mil horas de trabalho, cem dias da semana. Eles (engenheiros) se transformaram em "especialistas" em ventilação. Nós discutimos as coisas com uma equipe multidisciplinar, com fisioterapia, usamos os veterinários da universidade para nos ajudar e os anestesistas para conduzir eventos pré-clínicos até conseguirmos aplicar o respirador aqui. Para todos os envolvidos foi uma grande lição de trabalho em equipe — lembra o médico.
A homologação saiu em outubro de 2020, com um detalhe que deixa a história ainda mais especial: o projeto do respirador caxiense foi o único entre os 60 de todo o país que foi aprovado pela Anvisa. Todo este drama, carregado de emoção, estará no filme.
— Tivemos quase 15 milhões de mortos no mundo por covid-19. No país, quase 710 mil mortes. Atingiu a todos nós, todos perdemos. Eu perdi pacientes no hospital, muitas pessoas perderam familiares, perderam amigos. Para os que viram partir seus entes queridos, pais, filhos, maridos, esposas, irmãos e amigos, esta obra, de alguma forma, traz luz e alento para contrapor momentos tão tristes. Não interessava se você tinha dinheiro, se você tinha poder, se você tinha como viajar. Ninguém escapou, todos somos iguais — destaca Avino.
Recursos para o filme
Conforme o produtor Felipe Vieira, o projeto tem, inicialmente, duas formas para captar recursos. Uma é pela Lei do Audiovisual (Lei nº 8.685/93), em que as empresas podem investir até 4% do que pagam no Imposto de Renda (IR) para o filme. Quem patrocina por meio da lei recebe em contrapartida a isenção total do valor no IR. Ou seja, na prática, a empresa não gasta nada a mais — ela está simplesmente repassando o valor do imposto para a produção.
Já a outra é o patrocínio direto. Empresas ou investidores interessados podem entrar em contato diretamente com a produção. Vieira explica que pela burocracia da lei de incentivo, o valor precisa estar garantido até o fim do ano.
O planejamento é gravar o filme no ano que vem, com previsão de lançamento para 2027. A dupla lembra que as gravações serão realizadas em Caxias do Sul, nos locais em que a história real aconteceu. A intenção é ter um elenco com nomes renomados.
Contatos com a produção podem ser feitos pelo e-mail frankofilme@gmail.com ou pelo telefone (54) 99967-9666. Além de Vieira e Avino, o grupo de captação conta com Daniel Basso, Rudimar Marques, Evaldo Kuiava, Mosart Longhi, Hugo Sousa, Rogério Rodrigues e Renato Isopo.