Ao mesmo tempo em que oferece incontáveis janelas de comunicação pelas mídias digitais, o mundo contemporâneo tem trancafiado uma geração inteira de meninas e meninos. No livro A Geração do Quarto: quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar (Ed. Record), o escritor e pesquisador paraibano Hugo Monteiro Ferreira analisa esse fenômeno e as possibilidades para sair desse impasse.
O tema, que tem sido debatido inclusive na novela Travessia, da Globo, ganhará destaque também em Caxias do Sul durante a programação da Jornada da Educação, realizada pela Fundação Marcopolo, onde Ferreira irá palestrar. O encontro é aberto a professores da Serra. Na entrevista a seguir, o escritor e pesquisador fala sobre os desafios que a sociedade precisa enfrentar diante dessa realidade. Confira.
Almanaque: Que ambiente social contemporâneo gera essa geração?
Hugo Monteiro Ferreira: A geração do quarto é um desafio para o mundo no qual ela, a geração, é forjada. É possível dizer que a escola e a família violentas são as matrizes da geração do quarto. Esta geração é produto da violação, da negligência, da ausência de cuidado, da hiperexposição, do uso e abuso de redes sociais digitais, do bullying, do ciberbullying, das disfuncionalidades das famílias, da racionalidade excessiva das escolas. Se queremos enfrentar o fenômeno e tentarmos compreendê-lo a fim de saber como lidar com ele, é essencial que analisemos essas duas instituições sociais.
Como atentar/atenuar para os dilemas enfrentados por esse grupo?
É fundamental que ouçamos essa geração. A escuta nos ajudará a traçar estratégias de como lidarmos com comportamentos autodestrutivos e sintomatologias psicopatológicas presentes na vida de meninas e meninos dessa geração. A escuta, nesse sentido, deve ser acolhedora, o que implica não ser preconceituosa, segregadora, sentenciadora, comparativa, numa palavra, violenta.
E a escola nesse contexto: que caminhos precisa tomar para ser mais relevante e importante?
A escola tem papel central no enfrentamento dos problemas vivenciados pela geração do quarto. Na verdade, pode ser a escola, caso tenha um efetivo programa de educação socioemocional, um espaço e um tempo nos quais crianças e adolescentes encontrem refúgio para tantos desafios enfrentados. Mas a escola, para ser refúgio, não pode ser palco de toxicidade, tais como bullying, ciberbullying, punições e coerções. A escola necessita ser cuidadosa.
Como “mediar” a relação dos adolescentes e jovens com as mídias digitais?
É preciso reconhecer que as mídias existem, fazem parte da vida desses meninos e meninas e negá-la ou tentar impedi-la, no meu ver, é tempo perdido e estímulo reforçador do uso excessivo. A melhor forma de mediar é criar um ambiente real caracterizado pelo humor e a ludicidade, elementos essenciais para o desenvolvimento sadio dos nossos filhos e das nossas filhas.
Qual a dimensão amorosa que essa geração oferece para a sociedade hoje?
A geração do quarto nos ensina a amar no momento em que nos adverte que não estamos sabendo educá-la e que a nossa educação é violenta e por isso gera seres violentados e violentos. Quando nos alerta para os problemas que estão enfrentando, a geração nos chama atenção para o modelo familiar que instituímos, a escola que criamos e mantemos, as igrejas que construímos, as empresas que desenvolvemos. A geração do quarto nos oferta um amor em forma de amorosidade, porque nos põe para pensarmos como as nossas emoções devem ser acuradamente cuidadas e como infelizmente ao longo de nossa formação negligenciamos com elas.
Qual a importância de encontros como a Jornada da Educação para este debate?
Um evento dessa ordem é, além de tudo, formativo e a formação, quando bem realizada, bem conduzida, gera reflexão. A Jornada da Educação propõe uma excelente reflexão para todos e todas com elas envolvidos e envolvidas e, ao mesmo tempo, traz discussões as quais podem ser difundidas pelos organismos sociais que estão associados (in) diretamente à escola, como, por exemplo, a família. A Jornada da Educação, nesse sentido, é um importante acontecimento e eu espero sinceramente por contribuir para sua boa repercussão!!!
Programe-se
- O quê: Jornada da Educação
- Quando: quarta-feira (12), às 19h
- Onde: Fundação Marcopolo (RS 453, km 73)
- Quanto: entrada gratuita