Todas as noites, pelo Facebook, centenas ou até milhares de pessoas acompanham as lives da gamer caxiense Débora Macedo (@MisticaTV), interagindo com a audiência enquanto joga um dos games virtuais de tiro mais populares do momento, o PUBG Mobile. Poucos dos seus mais de 280 mil seguidores, no entanto, devem saber que por trás da jogadora está uma jovem que largou o emprego para poder cuidar do pai, que é cego e diabético, e tem a filha como única outra moradora da casa.
Na casa no bairro Esplanada em que Débora e Antônio Macedo vivem, a jovem de 23 anos transformou um pequeno cômodo numa estação de trabalho, equipada com computador, tablet e outros equipamentos utilizados para jogar e gravar. As lives normalmente começam por volta das 20h e se estendem até as primeiras horas da madrugada. Por conta da atividade, a qual passou a se dedicar em fevereiro de 2021, Débora teve de abrir mão de quase toda a vida social. Pelo menos a que levava fora do ambiente virtual.
– Houve um afastamento das amigas com quem eu convivia, porque cada um tomou um caminho diferente e o meu foi esse de passar as noites em casa, jogando e fazendo as lives. Hoje tenho mais amigas virtuais, em quem confio e com quem compartilho tudo sobre a minha vida – comenta.
Antes de se dedicar aos games, Débora trabalhava como recepcionista em feiras e eventos. Durante o auge da pandemia, vendo as oportunidades de trabalho minguarem, aproveitou a habilidade para se comunicar e começou a fazer as lives, sem imaginar que poderia ter um retorno tão bom. Foi na mesma época em que o público passou a aumentar, contudo, que a caxiense perdeu a mãe, vítima de infecção generalizada (sepse) enquanto se recuperava de um AVC. Além de lidar com o luto, foi preciso assumir ainda mais responsabilidade nos cuidados com o pai, cuja visão foi perdida em dois momentos: o primeiro pela falta de uso adequado de equipamentos de proteção no trabalho como pedreiro, o segundo em decorrência de um transplante de córnea mal sucedido:
– Ele (o pai) toma banho e se alimenta sozinho, mas precisa de mim por perto para medir a diabetes, tomar as injeções de insulina. Se eu tivesse trabalhando fora seria mais complicado.
Foi também durante a pandemia que as lives de games tiveram o boom de audiência. Em determinado momento Débora bateu o recorde de espectadores, chegando a 13 mil. Em arrecadação, a live mais rentável que já fez até hoje rendeu R$ 3 mil, soma de doações por pix ou por um mecanismo próprio da própria rede social onde faz as transmissões. Também há colaboradores fixos do seu canal, que pagam R$ 9,90 por mês. Além de garantir o sustento, as doações dos fãs ajudam a aprimorar o setup.
– Montar um bom equipamento é bastante caro, mas boa parte eu consegui através de doações, não apenas em dinheiro, mas dos próprios aparelhos. Foi estranho no começo pensar que alguém estaria disposto a doar um tablet ou um microfone, mas depois entendi que são pessoas que se identificam com a minha trajetória e fizeram questão de ajudar. Fiquei muito feliz – diz.
Desde a última semana de março, Débora está em São Paulo para um trabalho de dois meses como apresentadora em um campeonato de games. Neste período, conta com a ajuda da sogra como cuidadora do pai. A experiência em São Paulo é vista como uma oportunidade no ramo em que pretende seguir profissionalmente no futuro:
– Gostaria muito de trabalhar como apresentadora de programas de e-sports, na TV ou na internet. Estou estudando para isso, pegando o jeito e quero investir nessa área, mesmo que seja preciso ir morar num centro maior.