Aos 81 anos, um dos maiores ícones do rock e da música pop brasileira se despediu. Erasmo Carlos morreu nesta terça-feira (22). Amigo de fé de Roberto Carlos, cantor e compositor estava internado no Hospital Barra Dór, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ). A causa da morte ainda não foi divulgada.
O músico e compositor, nascido na Tijuca, no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1941, tinha sido agraciado com o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock cinco dias antes de morrer. Erasmo foi gerado naquele movimento da Jovem Guarda, ao lado da cantora Wanderléa e que tinha como porta-voz principal o Rei Roberto.
Há quem diga que Erasmo se perdeu no caminho da música quando a Jovem Guarda perdeu força. Segundo o crítico de cinema e música André Barcinski: "Quando a Jovem Guarda acabou, em 1968, o único de seus integrantes que conseguiu fazer uma transição musical tranquila e bem-sucedida foi Roberto Carlos, que se firmou como o maior cantor romântico do Brasil". A respeito de Erasmo, o crítico escreveu no Blog LadoB: "Erasmo penou. Não tinha nem 30 anos de idade e já era considerado brega e ultrapassado. Um fóssil".
Quem resgatou o Tremendão, como era conhecido Erasmo, foi o produtor musical André Midani, quando convidou, em 1971, o músico para gravar um LP na Philips/Polygram. Essa história está relatada em entrevista concedida ao jornalista Ruy Castro e publicada na revista Playboy em 1980.
— O André me levou para a Polygram, me deu plena liberdade e me disse: 'Você vai gravar o que quiser, com quem quiser, da forma que quiser. Faça o que você quiser, mas faça. É importante qualquer coisa que você crie — disse à época Erasmo.
O fato é que dali daquele estúdio saiu o disco "Carlos, Erasmo", que completou 50 anos no ano passado, e é considerado um divisor de águas em sua carreira. Pois é, bicho, a vida tem dessas. Viver de música no Brasil é nascer e morrer para a saudade quase todos os dias.
Passagens pela Serra
Na última década de carreira, Erasmo Carlos sempre incluiu a Serra em turnês pelo Estado. Fez shows em Farroupilha, em 2013; Garibaldi, em 2016; Caxias, em 2017; e São Francisco de Paula, em 2019. Nesta, que foi a última apresentação na região, como atração do primeiro festival Paralelo, um Tremendão já com 78 anos cantou por quase duas horas, com clássicos como É Preciso Saber Viver, Pode Vir Quente que eu Estou Fervendo e Sentado à Beira do Caminho. Todas cantadas em coro pela plateia de quase três mil pessoas, que encarou uma noite chuvosa às margens do Lago São Bernardo para encontrar o ídolo.
Em entrevista concedida ao repórter Andrei Andrade e publicada no Pioneiro, em 6 de julho de 2017, quando apresentou-se em Caxias do Sul, Erasmo desconversou diante da pergunta de qual música é a mais importante de sua carreira:
— Eu tenho mais de 600 músicas gravadas, é difícil responder. Mas uma que não posso deixar de cantar nunca é Sentado à Beira do Caminho. Essa é o carro-chefe, sem dúvidas.
Andrei perguntou ainda, na época, qual era a inspiração para seguir produzindo. Erasmo então, respondeu:
— A vida, cara. Eu sou um cara que gosta de viver, vive a vida e trabalha na vida. Meus filhos e meus netos me ensinaram a me renovar sempre. Não imaginei nem que fosse chegar nessa idade, então tudo o que vem pra mim é lucro. Viver mais um dia é lucro, compor mais uma música é lucro, fazer mais um sucesso é lucro. Porque eu não programo a minha vida, deixo as coisas acontecerem. E como o ser humano não sabe de nada, tudo que acontece deve ser encarado como lucro.
E quando questionado sobre a aposentadoria, o músico foi taxativo:
— Enquanto tiver minha mente trabalhando, não vou parar. Mesmo quando o corpo não ajudar, ainda vou ter minhas ideias, escrever, compor. Eu vivo das ideias que eu tenho.
Erasmo no Real Hotel
O jornalista Rodrigo Lopes, da coluna Memória de Pioneiro e GZH, quando fez uma reportagem especial sobre o Real Hotel, que marcou época em Caxias do Sul entre 1950 e o início dos anos 2000, resgatou passagens de importantes músicos brasileiros pela cidade, entre eles, Erasmo Carlos.
"Duelando com o Samuara e o Alfred na preferência do público dos anos 1960, 1970 e 1980, o Real abrigou a cantora paraguaia Perla, a apresentadora Hebe Camargo, os cantores Erasmo Carlos e Sidney Magal e o ator Walmor Chagas. Vinicius de Moraes e Toquinho, que se apresentaram na sede social do Recreio da Juventude em 1975, também pernoitaram lá — clube e hotel ficavam a poucos passos", escreveu Lopes, em reportagem publicada em 20de fevereiro de 2014.