Aos 76 anos de tantas emoções vividas, o Tremendão ainda acha que não fez o bastante. Não que um dia vá achar. Em solo gaúcho para uma turnê que passa hoje por Caxias do Sul, Erasmo Carlos produz como um adolescente inquieto, experimentando um pouco de tudo: acaba de interpretar o dono de uma boate decadente no filme Paraíso Perdido, de Carlos Manga; finaliza um livro de poesias; e recentemente assinou músicas com Frejat, Paulo Miklos e Wanderléa. Isso após ganhar o Grammy Latino de Melhor Disco de Rock com Gigante Gentil (2015). Como afirmou ao Pioneiro esta semana, em entrevista por telefone, cada nova oportunidade é lucro.
Acompanhado do Quarteto Fantástico, que define como uma "boa banda de rock, mas o nome é farra mesmo", Erasmo sobe ao palco do Teatro Murialdo nesta quinta-feira, para show promovido pelo Sesc Caxias do Sul. E tem um pedido bem peculiar ao público, que está no fim desta entrevista. Confira:
Pioneiro: É impressão ou o Erasmo não é um artista apegado ao passado, mas sim sempre em busca do novo?
Erasmo Carlos: O passado foi muito bonito, eu amo cada minuto que eu vivi, mas passou, bicho. Aprendo muito com as lembranças, mas meu foco é sempre o hoje e o daqui pra frente. Vivo com intensidade as novas propostas e sou muito antenado ao mundo que me cerca, tanto à internet quando a todo tipo de informação. Continuo ouvindo rádio, assistindo a TV, vendo filme, lendo, tenho muita sede de informação e de coisas novas. Quero aprender com o novo e poder ensinar o que aprendi a quem quiser aprender.
O que tu tens escutado?
Cara, eu ouço de tudo, mas não dá mais para se fixar em nada. Cada vez que eu escuto uma música, tem outras 700 na fila pra ouvir. Nem me preocupo mais em aprender a letra...
Essa nova forma de consumir de música te agrada?
É muito muito tudo, né? Mas não vivo reclamando que antigamente era diferente, porque antigamente passou. A música que toca agora é a que tenho que dançar. Parto do princípio de que preciso acompanhar o meu tempo de qualquer jeito. Se parar pra descansar, o tempo te atropela.
O teu público também tem se renovado?
Eu tenho um público fiel, que é o da Jovem Guarda (movimento cultural dos anos 1960, capitaneado por Erasmo, Roberto Carlos e Wanderléa), mas esse é um público muito saudosista. Os novos que me conhecem é por causa da internet, vendo o meu trabalho recente. Aí eles vão pesquisar as coisas que eu fiz no passado e acabam se interessando, porque estão conhecendo agora. Eu quero que o que faço hoje seja a porta de entrada para o meu trabalho.
Para o show em Caxias, o que está previsto?
Tem coisas de toda a minha vida. Tem jovem guarda, tem anos 1970, anos 1980. Quando é um lugar onde toco com frequência, aí eu mostro um show hoje, depois outro, vou mudando. Mas fora, o que as pessoas querem é os sucessos, e eu canto com o maior orgulho. Tudo o que eu fiz foi com carinho e com dignidade. E assumo tudo numa boa.
Se fosse pra ser lembrado por uma música apenas, qual seria?
Eu tenho mais de 600 músicas gravadas, é difícil responder. Mas uma que não posso deixar de cantar nunca é Sentado à Beira do Caminho. Essa é o carro-chefe, sem dúvidas.
Depois de vender 100 milhões de discos, o que inspira a seguir produzindo?
A vida, cara. Eu sou um cara que gosta de viver, vive a vida e trabalha na vida. Meus filhos e meus netos me ensinaram a me renovar sempre. Não imaginei nem que fosse chegar nessa idade, então tudo o que vem pra mim é lucro. Viver mais um dia é lucro, compor mais uma música é lucro, fazer mais um sucesso é lucro. Porque eu não programo a minha vida, deixo as coisas acontecerem. E como o ser humano não sabe de nada, tudo que acontece deve ser encarado como lucro.
Aposentadoria nem passa pela cabeça?
De jeito nenhum. Enquanto tiver minha mente trabalhando, não vou parar. Mesmo quando o corpo não ajudar, ainda vou ter minhas ideias, escrever, compor. Eu vivo das ideias que eu tenho.
Tu estiveste recentemente na Serra, em Garibaldi e em Farroupilha. Ficamos felizes por tê-lo finalmente em Caxias...
Fui muito pouco a essa região na minha vida, que bom que agora estou tendo mais oportunidades. É sempre no sufoco, mas as poucas pessoas que a gente tem tempo de conhecer e as paisagens que vê já contribuem para gostar e ficar com vontade de voltar. Eu não sei como vai caber a cidade inteira dentro do teatro, mas aí é problema de vocês. Porque eu quero ver Caxias toda dentro do teatro.
Serviço
O quê: Show com Erasmo Carlos & Quarteto Fantástico
Quando: Hoje, às 20hOnde: Teatro Murialdo (Rua Flôres da Cunha, 1740 _ Centro)
Quanto: R$ 25 para comerciários e dependentes com Cartão Sesc/Senac, professores e funcionários da Unisc, R$ 30 para empresários e dependentes com Cartão Sesc/Senac e R$ 60 para o público em geral