O Real Hotel marcou época em Caxias do Sul entre 1950 e o início dos anos 2000. Na manhã desta quinta-feira, parte do prédio foi atingida por um incêndio.
Mesmo antes de ser vendido e transformado em um prédio de apartamentos, em 2005, o edifício já era uma referência da área central, seja por hospedar dezenas de personalidades, por oferecer uma ótima gastronomia tradicional italiana ou por atravessar as décadas sob o comando da família Ioppi.
"Duelando" com o Samuara e o Alfred na preferência do público dos anos 1960, 1970 e 1980, o Real abrigou a cantora paraguaia Perla, a apresentadora Hebe Camargo, os cantores Erasmo Carlos e Sidney Magal e o ator Walmor Chagas. Vinicius de Moraes e Toquinho, que se apresentaram na sede social do Recreio da Juventude em 1975, também pernoitaram lá _ clube e hotel ficavam a poucos passos.
Ponto de referência da área central, o Real também foi cenário de histórias lembradas até hoje. A mais conhecida delas talvez seja a de uma criança encontrada embaixo da cama de um dos aposentos, há 30 anos. Na véspera do Natal de 1984, uma jovem e um menino com necessidades especiais hospedaram-se no hotel. No dia seguinte, um dos donos, João Flávio Ioppi, foi informado por uma camareira de que a tal mulher havia ido embora sem levar o filho. Morador do sexto andar, Ioppi entrou no quarto e encontrou o menino assustado e faminto. A partir dos registros, a família acabou localizando os avós, que no dia seguinte vieram buscar o garoto. Até hoje o episódio é lembrado por Ioppi, 86 anos, como um "presente de Natal".
O início
Localizado na Rua Marquês do Herval, esquina com Pinheiro Machado, o Real surgiu inicialmente como uma pensão de apenas quatro andares, em 1946, na Marquês.
Comandado pela viúva Genoefa Ioppi, uma exímia cozinheira, e pelos filhos, João Flávio e Neuza Ioppi Michelin, o espaço foi transformado em hotel quatro anos depois, em 1950, sempre destacando-se pela ótima gastronomia. Em 1954, por exemplo, o Real foi sede do banquete de recepção ao presidente Getúlio Vargas durante a Festa Nacional da Uva.
A crescente badalação rendeu frutos. Em 1957, os Ioppi adquiriram o terreno da esquina e deram a largada para a construção do majestoso prédio, que entrou para a memória coletiva da cidade. O novíssimo Real chegava com seis andares, 80 apartamentos e ótimas recomendações ao cardápio de Genoefa, em especial ao delicioso peru desossado e recheado. A iguaria rendeu o prêmio de "Melhor Prato da Cidade" durante dois anos consecutivos, na década de 1950.
Atualmente, o térreo do velho Real sedia salas comerciais, e os janelões dos apartamentos volta e meia aparecem com placas de aluga-se, denunciando a alta rotatividade _ talvez um resquício de sua função original. A trajetória dos Ioppi, porém, permanece eternizada lá.
Memória
Real Hotel marcou época em Caxias do Sul entre 1950 e início dos anos 2000
Colunista do Memória, jornalista Rodrigo Lopes relembra histórias do hotel
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