Uma das igrejas que mais guarda valores comunitários e relíquias da arte sacra em Caxias do Sul está próxima de ser restaurada. O projeto para reparos da capela do Santo Sepulcro, que completou 85 anos em 2022, buscará recursos na Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do governo estadual, dependendo também do interesse de empresas patrocinadoras para ser colocado em prática. A restauração está orçada em R$ 2 milhões e a meta é iniciá-la no ano que vem.
Segundo a gestora cultural que está à frente do projeto, Cristina Seibert Schneider, a ideia de restaurar a igreja, localizada na Avenida Júlio de Castilhos, vem desde o ano passado. Inicialmente, a intenção era modificar apenas o piso, mas quando o espaço foi averiguado presencialmente, se percebeu a necessidade de inúmeras reformas.
— Era para ser um projeto simples, mas quando chegamos lá começamos a identificar, vimos que tem muita coisa para se fazer. Tem a pintura, a iluminação, tem que ser feita toda uma parte nova. Tem que fazer a parte de acessibilidade (com inclusão de entrada e saída na cripta e adaptação para acesso de cadeirantes) —detalha Cristina.
O projeto cultural, que tem assinatura da arquiteta Leila Cristiane Schaedler, também propõe nova sonorização, pintura total do prédio, interna e externamente, restauro dos vitrais da edificação e das peças de arte sacra em metal, além de uma reconfiguração cênica na cripta onde estão um conjunto de imagens esculpidas em madeira — entre as representações em tamanho real, o Senhor Morto e a Virgem Maria, entalhadas pelo idealizador da capela, o imigrante italiano Benvenuto Conte .
Na parte externa, a intenção é abrigar um novo velário e construir um espaço de contemplação e oração para os fiéis, junto à imagem de Nossa Senhora das Dores. Ainda haverá a instalação de bancos e revitalização do jardim. As chamadas salas de apoio, atrás da igreja, também serão reconstruídas, para atender alunos da catequese, trabalhos de evangelização, entre outras atividades.
Abertura diária
Com os reparos, a intenção é de que a igreja possa voltar a ser um espaço ocupado pelos caxienses, permanecendo aberta diariamente. Segundo o padre Eleandro Teles, pároco da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, responsável por Santo Sepulcro, hoje, a visitação está restrita a pequenos grupos que se reúnem para rezar semanalmente. A necessidade de manter as portas fechadas surgiu por conta de problemas no piso, o que tornaria insegura a celebração de missas para um número maior de fiéis.
Para o pároco, o restauro representa um marco histórico para a cidade:
— Se trata de um monumento de fé, mas também um monumento artístico, cultural, que é patrimônio histórico de Caxias. É um marco para nós todos, especialmente dentro das comemorações de 80 anos da Paróquia de Lourdes — comenta.
Restauro inclui obra famosa de Locatelli
Nos fundos do altar da Igreja de Santo Sepulcro está pintada uma das obras do artista Aldo Locatteli. Ressurreição de Cristo foi iniciada e concluída por ele em 1952, época em que o italiano convivia com alunos e professores da Escola Municipal de Belas Artes e dedicava-se às obras do teto da Igreja de São Pelegrino, conforme detalha uma matéria do jornalista Rodrigo Lopes, publicada em abril do ano passado.
Contudo, a passagem do tempo e um incêndio ocorrido em 1983 na sacristia da capela influenciaram o estado de conservação da obra. A ideia de restaurar a pintura não é recente, mas, agora, com o novo projeto, está mais perto de se concretizar. É a primeira vez que o painel passará por uma intervenção.
— De forma geral, a conservação está razoável, não está com grandes problemas de degradação. Nós temos, na parte inferior, uma perda de camada pictórica (onde há lacunas na pintura). É praticamente ali que vamos fazer uma intervenção um pouco maior, mas toda a obra vai ser tratada — revela a professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Juliane Petry Panozzo Cescon, explicando que também há pontos com proliferação de fungos e bactérias que precisam de atenção.
Segundo Juliane, a técnica que será utilizada se chama tracejado, entretanto, destaca ela, não se trata de uma imitação do trabalho original:
— Fazemos uma reintegração com as cores próximas e usamos a técnica de tracejado, que são pequenos pontos, tracinhos, para se fazer a reconstituição estética da pintura. Não podemos mudar nada, porque o artista cria, já o restaurador faz a preservação do patrimônio.
O restauro da obra de Locatelli e a recuperação da pintura original ornamental — espécie de rendinha decorativa, que está coberta por cinco camadas de tinta em alguns pontos da igreja — podem levar até um ano para serem finalizados.
Busca por apoio
O projeto de restauro da Igreja de Santo Sepulcro foi encaminhado, primeiramente, para aprovação da Prefeitura de Caxias do Sul, por se tratar de um patrimônio histórico municipal. Paralelamente, o grupo envolvido no projeto busca o apoio de empresários locais para aprovação junto à Lei Estadual do Incentivo à Cultura (LIC).
—Ao invés de as empresas pagarem o imposto ICMS, destinam o recurso para o nosso projeto. Precisamos, neste momento, captar 20% do valor total. É uma nova exigência da LIC, porque havia muitos projetos aprovados que não conseguiam captar os recursos. Agora, quando encaminhamos o projeto, já sinalizamos que tem potencial para captação. Já temos duas empresas que confirmaram patrocínio — explica a gestora cultural Cristina Seibert Schneider.
Interessados em apoiar a proposta podem entrar em contato pelo e-mail cristinapatrimonium@terra.com.br.