Antes de recolher musgos – que eu chamava de tapetinhos – pelo caminho da Rua Treze de Maio, gostava de parar na Igreja do Santo Sepulcro, a mais fascinante da cidade. Até hoje a considero um dos locais mais interessantes de Caxias, daqueles que devem ser visitados ao menos uma vez na vida.
Santo Sepulcro ocupa um lugar especial nas minhas memórias de infância e, mais do que isso, ainda faz sentido no meu presente. Quando era criança, a igreja estava no caminho entre a escola e minha casa e, na volta a pé, sempre pedia à mãe para entrar um pouquinho. Adorava a cripta, com as estátuas de madeira articuladas e o Cristo Morto envolto em um contexto que eu nem conhecia bem. Lembro-me de descer as escadinhas ao lado do altar com um misto de medo e admiração, todas as vezes em que estive lá.
O curioso é que minha relação com o templo é essencialmente estética. A capela com elementos da arquitetura gótica foi concluída em 1937 e exibe obras em gesso do ateliê de Michelangelo Zambelli, pintura na parede sobre o altar feita por Aldo Locatelli e uns vitrais muito bonitos. Mas o ponto alto está na cripta, com esculturas em madeira de Conte e Stangherlin, que compõem o cenário do Cristo Morto, que faz parte da capela desde a primeira construção, no fim do Século 19.
Nunca assisti a nenhuma missa lá e, confesso, não sou muito de frequentar igrejas. Foi só recentemente que me juntei a dezenas de fiéis na Semana Santa para acompanhar o ritual de beijar Jesus. Achei impressionante. Considero linda a relação das pessoas com o sagrado e reconheço que essa faceta é bem importante em Caxias. A religiosidade é uma das bases da cidade e continua presente até hoje, nas mais diversas manifestações e sincretismos.
A capela está envolta, também, em uma genuína relação comunitária cheia de afeto.
Dá para acreditar que algum morador do bairro de Lourdes é responsável por abrir uma igreja importante, situada em plena Avenida Júlio de Castilhos? Certa vez, para produzir uma reportagem, conversei com a senhora que tinha a chave do templo. Mais recentemente, pedi a chave da capela emprestada na secretaria da Paróquia de Lourdes para fazer uma visita – eu mesma abri o portão de ferro e acendi as luzes! Parecia que estava voltando à infância, só que com uma espécie de upgrade.
Não recolho mais musgos pelo caminho, mas não perdi o encantamento por esse lugar. Fiquei animada ao saber que atualmente, existe um projeto de restauração da igreja. A ideia é adequá-la às normas de acessibilidade, restaurar os vitrais, as peças de arte sacra em metal e a obra de Locatelli. A cripta, minha parte favorita, ganhará uma reconfiguração cênica. Já estou curiosíssima para uma nova visita, que sempre traz, também, um pedacinho de mim.