“Ao focar-se na forma, perde-se o conteúdo”. Tenha em mente essa frase, e espere a hora certa para dar-se conta do sentido e força dela, enquanto estiver assistindo a Miss França, filme franco-belga, dirigido por Rubem Alves, que estreia quinta-feira (9), às 19h30min, na Sala de Cinema Ulysses Geremia, do Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul. O roteiro narra com leveza, sem perder a intensidade, flertando com o drama e a comédia, a complexa jornada que é encontrar um caminho de originalidade nesse mundo tão padronizado.
O filme abre com uma pergunta singela, escrita com giz em um daqueles antigos quadros, quase em desuso nas escolas. Com letra cursiva, está escrito: “Quando eu crescer eu vou ser...”. Ao que os alunos respondem de uma forma ingênua com sonhos como consertar brinquedos estragados, ser jogador de futebol, boxeador, presidente da república, e por aí vai. Então, eis que surge, diante da turma, um menino vestindo uma fantasia de xerife e com um pequeno tic-tac rosa no cabelo, dizendo, com olhos que revelam convicção e verdade: “Meu sonho é ser Miss França”.
Há uma doce complexidade na construção de personagens como Yolande (Isabelle Nanty). Ela é a dona de uma casa com inquilinos que parecem estar em desatino ou sem rumo. Mas Yolande também é uma espécie de empresária do ramo da moda, por assim dizer, que emprega estrangeiros e, ao que tudo indica, não liga muito para as questões trabalhistas. Seja na atmosfera dos ambientes, nos elementos kitsch, na abordagem de histórias que envolvem a afirmação de uma identidade de gênero, sempre embrenhados de um contexto emocional conturbado, há referências fortes e intensas dos filmes do espanhol Pedro Almodóvar.
Entre os inquilinos, conhecemos Alex (Alexandre Wetter), que trabalha como assistente em uma escola de boxe, no mesmo local onde também treina. Naturalmente — e não encarem isso como spoiler — Alex é aquele menino da escola que sonhava ser Miss França. É aí que um novo filme começa dentro do filme. Mais do que a trilha pela conquista da coroa, Alex está motivado, primeiro, a assumir sua identidade, que havia deixado escondida lá na infância, para então encarar esse desafio como um propósito de vida.
O preço a ser pago para conquistar um sonho pode ser alto, pode custar mais do que dedicação e empenho. No caso de Alex, é preciso ainda mais coragem para encarar a todos, seja dentro ou fora da competição, de peito aberto. Vestir ou não a faixa, pode fazer diferença, quando o sentido está em simplesmente “ser alguém na vida”?
PROGRAME-SE
O quê: "Miss França" (França, Bélgica - 107min), de Ruben Alves. Com Alexandre Wetter, Isabelle Nanty e Pascale Arbillo.
Quando: de quinta a domingo, sempre às 19h30min. O filme fica em cartaz até o dia 19.
Quanto: R$ 8 (meia entrada) e R$ 16.
Onde: Sala de Cinema Ulysses Gemeria, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312 — Caxias).