Eu seu oitavo livro, Terra de Exílio, recém-lançado pela plataforma de autopublicação Clube de Autores, o poeta e escritor bento-gonçalvense Clóvis da Rolt, 45, experimenta pela primeira vez o ensaio como gênero. E o resultado é uma coletânea de textos em que o autor reflete sobre os caminhos da educação, o ensino da literatura e da arte, a vida e a obra de nomes que o inspiram e instigam, entre outras questões do mundo das letras e da filosofia.
Professor na Unipampa, em Jaguarão, onde é radicado, Da Rolt revisita em Terra de Exílio alguns artigos previamente publicados em revistas, mas que ganham versões adaptadas, mais livres das amarras catedráticas.
– O ensaio, à primeira vista, parece fácil. Mas não é. Não se trata apenas de deixar as ideias correrem soltas, ao bel prazer das divagações. Também demanda níveis de estrutura, leitura, dedicação e afinco aos temas que são abordados. De fato, o ensaio permite mais liberdade, mais ousadia e, além disso, possibilita decolagens reflexivas que valorizam a intimidade – o ser único e irrepetível – que o produz. Não há no ensaio a pretensão de dar respostas que tenham de ser tuteladas por uma corporação de especialistas – explica Clóvis, que é bacharel em Filosofia, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais.
É com essa liberdade que o autor dá ao texto o sabor literário que convida o leitor a viajar por seus pensamentos: “começo este ensaio com uma autossabotagem, ouvindo um inimigo dentro de mim” confidencia Clóvis no parágrafo inaugural de um texto em que analisa um filme do diretor Peter Greenaway.
Ao propor uma reflexão sobre educação, Clóvis também ajuda o leitor a entender a sua própria abordagem sobre o que distancia o texto meramente acadêmico do literário:
“De que adianta um aluno descrever com precisão a flexão dos tempos verbais de um conto se, em relação à mensagem que lhe subjaz – direcionada ao complexo e espetacular universo humano –, não houve uma vibração na alma?”
Nas quase 250 páginas de Terra de Exílio, Da Rolt se debruça sobre a obra do padre e cronista farroupilhense Oscar Bertholdo; do poeta e escritor carioca Marco Lucchesi, e até do satírico e mítico escritor-personagem Joanim Pepperoni. Também traz à tona aspectos do pensamento do filósofo Emmanuel Mounier e da educadora sueca Inger Enkvist. Ao discorrer sobre diversos temas, olhando muito atentamente para a educação (Da Rolt é professor no curso de Pedagogia) a questão que parece surgir como um eixo central é: quem fomos, quem somos e quem seremos daqui para frente?
– Creio que caminhamos para um esquecimento de quem um dia fomos, para uma indiferença sobre o que atualmente somos e para uma desorientação nunca antes vista acerca de um projeto de futuro. Hoje, a maior parte das pessoas (especialmente os jovens entorpecidos pelas redes sociais) age como se trinta anos de uma experiência de vida pudessem ser conquistados sem esforço, sem dedicação, sem algum tipo de renúncia. O título do livro reflete um pouco deste nosso mundo como um lugar que parece querer nos expulsar, já que nele instalamos cotidianamente a banalidade sem darmos o devido valor às coisas grandiosas e significativas que poderíamos produzir – aponta o autor.
Serviço
O quê: Terra de Exílio (Clube de Autores, 244 páginas), coletânea de ensaios do bento-gonçalvense Clóvis da Rolt
Onde comprar: no site da plataforma Clube de Autores, ou em sites parceiros (Amazon, Estante Virtual, Mercado Livre, entre outros).
Preço médio: R$ 49.