"Somos uma multidão de indivíduos". Essa é a constatação da artista plástica Ariadne Decker, que expõe a partir de hoje a série Multidões - um relato contemporâneo, na Galeria Arte Quadros, em Caxias. A partir das 18h, Ariadne vai ainda pintar uma tela no interior da galeria por conta da abertura da mostra com 14 telas.
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Ao observarmos as obras, à distância, o que se vê são pequenos pontos dispersos. Mas quando o espectador aproxima-se da tela vai perceber que esses pontinhos são pessoas, e cada um com sua individualidade.
— Levo para Caxias essa exposição que mostra as minhas multidões. Somos um pontinho na construção desse mundo, que está em constante migração. Os sírios estão indo para a Europa, outros saem da Venezuela, e muitas pessoas de muitos países estão indo para os Estados Unidos. O mundo está em movimento — observa Ariadne, nascida em Niterói, mas desde muito pequena morando em Novo Hamburgo.
A artista revela que há 10 anos vem buscando uma linguagem para tratar da questão das multidões e dos movimentos migratórios.
— Nos meus primeiros trabalhos, as pessoas eram muito identificáveis, e por isso muitos criticavam por eu não relatar a diversidade de pessoas, com suas diferenças físicas, por exemplo. Mas multidão é uma sensação abstrata que nosso cérebro reconhece como sendo muitas pessoas reunidas. Foi então que pensei nessa abstração como pontinhos. Desenvolvi uma pintura através de pontos, com pequenos tracinhos, mas que de perto são pessoas — conta.
Em tempos de cerceamento, de discursos legalistas sobre o filtro nas artes, é interessante observar como a plasticidade dá conta de revelar um discurso politizado. Lembrando que politizar não é partidarizar, Ariadne consegue através do seu traço expor a sua leitura de mundo em eventos marcantes como a Primavera Árabe e a série de manifestações que tem ocorrido no Brasil nos últimos anos.
— Nessas obras eu coloco o meu relato contemporâneo das migrações, mas também trato dos movimentos políticos e das manifestações, que sempre acontecem em multidão. Gosto de abordar situações do cotidiano, porque somos multidão mesmo em situações simples e corriqueiras.
Quanto mais depurado o olhar e mais aproximado, mais facilmente poderemos perceber os indivíduos em meio à multidão. É nessa perspectiva que Ariadne conduz o espectador.
— Nossa individualidade aparece quando passamos os meridianos. No meio da multidão, vamos separando as pessoas em gente que gosta desse tipo de música, e caminha nessa ou naquela rua, e quanto mais informações cruzarmos mais únicos nos tornamos. Até sermos o que somos, seres únicos dentro de uma multidão.
PROGRAME-SE
O quê: Multidões - um relato contemporâneo, de Ariadne Decker
Quando: abertura nesta terça-feira, dia 23 de julho, a partir das 18h
Onde: Galeria Arte Quadros (Rua Feijó Júnior, 975 - Caxias. 54 3028.7896). Visitações de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h. Sábados, das 9h às 15h. A mostra será exibida até o dia 26 de agosto.
Quanto: Entrada franca