A privação da liberdade é violência das mais graves. Em Cinco Graças – estreia da Sala de Cinema Ulysses Geremia nesta quinta – essa violência faz um contraste vigoroso justamente com um dos períodos da vida em que a liberdade é mais almejada: a adolescência. A produção concorreu ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira representando a França, numa coprodução que envolveu ainda a Alemanha. Entretanto, é a cultura da Turquia, terra natal da diretora Deniz Gamze Ergüven, que domina a trama. Priorizando um olhar feminino, a cineasta denuncia as marcas dos costumes conservadores e machistas ainda em vigor no país.
A bela sequência de abertura do longa talvez seja a que melhor dimensiona o espírito das cinco irmãs. Depois do último dia de aula na escola, elas travam uma inocente brincadeira com outros garotos dentro do mar. A câmera certeira da diretora coloca o espectador a experimentar a alegria do momento, como num mergulho libertador naquelas águas limpidamente azuis. É uma estratégia interessante para que se entenda a ruptura que as garotas viverão a partir dali.
O momento libertador no mar causa um alvoroço tremendo em casa, onde as irmãs vivem com uma tia super tradicional e um tio abusivo. O episódio desencadeia uma série de mudanças na residência, como as portas sempre trancadas e as janelas com grades. Sem poder sair, elas passam os dias entendiadas e sendo ensinadas sobre coisas que "toda mulher deve saber". A mais nova entre as irmãs, Lale (vivida pela talentosa Günes Nezihe Sensoy), é quem narra a história e sentencia: "a casa se transformou numa fábrica de esposas da qual nunca mais saímos".
O destino de cada uma das irmãs vai sendo arranjado pela família e, aos poucos, a alegria vibrantemente juvenil que elas exibiam vai sumindo. Além da privação social, as meninas precisam enfrentar situações como o casamento com garotos que nem conhecem e o humilhante exame para provar que são virgens. A caçula Lale é a mais revoltada entre as irmãs, e começa a elaborar um plano para se livrar do futuro que a aguarda.
O roteiro de Cinco Graças – escrito pela diretora em parceria com a francesa Alice Winocour – tem sensibilidade suficiente para traçar um caminho entre o frenesi adolescente e a tragédia familiar/cultural, sem soar apressado ou forçado. No meio disso tudo, o filme ainda usa a figura de uma professora para sugerir o importante papel da educação no empoderamento feminino. Ferramentas assim fazem de Cinco Graças tão essencial quanto os temas que aborda.
Programe-se
:: O que: filme Cinco Graças, drama dirigido por Deniz Gamze Ergüven
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até 24 de julho, com sessões nas quinta e sextas, às 19h30min, e nos sábados e domingos, às 20h
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 97min
:: Classificação: 14 anos
Veja o trailer
Cinema
Sala Ulysses Geremia estreia longa "Cinco Graças" nesta quinta
Produção denuncia a cultura conservadora da Turquia
Siliane Vieira
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