A trajetória do prédio da Auto Palácio, que se mescla à evolução urbana, econômica e social de Caxias desde o final da década de 1940, também ganhará um espaço dedicado à sua rica história.
O projeto de restauro - assinado pelo escritório Bernardi & Todescato Arquitetura, em parceria com a Mosaico Arquitetura e a equipe de design da Tonin Incorporadora - contempla o Memorial Auto Palácio, localizado no segundo pavimento.
Aberto à visitação, o local destacará imagens antigas e referências ao que era comercializado ali, além do detalhamento de todas as etapas da restauração. Parte desse material, inclusive, já pode ser visualizado por quem passa pelas ruas Sinimbu e Guia Lopes.
Afixados nos tapumes estão registros dos primórdios da edificação e de como o prédio ficará ao final dos trabalhos, ainda no primeiro semestre de 2025. Um dos detalhes é o tom amarelo ocre das paredes externas, que busca aproximar-se da cor original (foto acima). Conforme a arquiteta Carla Todescato, trata-se do resultado de uma prospecção cromática.
- Foi feito um estudo para verificar quantas camadas existiram ao longo do tempo e qual foi a provável primeira cor desse prédio, que é a que vamos resgatar hoje - explica.
O INÍCIO
Surgida no pós-guerra, a revendedora Auto Palácio foi a concessionária exclusiva dos veículos e produtos General Motors, conforme detalhado no "Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul", lançado em 1950.
“É a fornecedora na praça e nos municípios circunvizinhos dos luxuosos automóveis Pontiac, Buick e Cadillac, assim como dos caminhões GMC, de refrigeradores Frigidaire e dos produtos Delco, que incluem artigos de eletricidade em geral, como bobinas, platinados, acumuladores etc”.
Na imagem acima, o prédio recém-construído, por volta de 1948. Na sequência abaixo, um anúncio de 1947 e detalhes internos dos produtos GM e das geladeiras Frigidaire - que viraram sinônimo do eletrodoméstico.
DETALHES
:: O projeto arquitetônico para a construção da Auto Palácio Ltda, apresentado em nome da Concessionária Pontiac e GMC - Ary Cezar Burlamaque e Cia Ltda., foi aprovado pela Prefeitura Municipal de Caxias do Sul em outubro de 1945.
:: Dotado de oficina mecânica, vasto sortimento de peças, posto de abastecimento e garagem noturna, o estabelecimento teve como primeiros sócios e gerentes os senhores Ary Cesar Burlamaque, Antônio Carlos Burlamaque e Paulo W. Rudolph.
:: Projeto do engenheiro italiano Silvio Toigo, o prédio foi um dos exemplares abordados pela arquiteta e urbanista Ana Elísia Costa na Dissertação de Mestrado “A evolução do edifício industrial em Caxias do Sul: de 1880 a 1950”. No trabalho, a arquiteta definiu-o como “talvez a manifestação mais espetacular do Art Déco de Caxias do Sul”.
:: No início dos anos 1960, houve a necessidade de ampliação da área ocupada pela oficina mecânica, com acesso pela Rua Guia Lopes. Era por onde o fundador, Antoninho Burlamaque, entrava e saía com seu famoso Cadillac. Até a compra da área pela Tonin Incorporadora, o espaço sediava um estacionamento - ocupação que será mantida com o restauro.
:: Por sua importância e riqueza arquitetônica, o prédio da Auto Palácio foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Município de Caxias do Sul em 12 de dezembro de 2007.
FUNERAL DE ANTONINHO BURLAMAQUE
Foi no entorno da Auto Palácio que se concentraram, em 19 de agosto de 1952, centenas de fãs e amigos do piloto Antoninho Burlamaque, falecido dois dias antes - eles aguardavam os despojos vindos de Porto Alegre, onde o volante permaneceu internado.
Fundador da concessionária, Burlamaque foi vítima de um acidente ocorrido próximo a Capão da Canoa, durante o Circuito das Praias do Atlântico, em 17 de fevereiro de 1952.
REVENDA FORD
Em meados da década de 1960, a Auto Palácio passou de Sociedade Limitada para Sociedade Anônima. Entrou em concordata em novembro de 1971 e, em dezembro de 1973, foi adquirida pela empresa Mário De Boni & Cia Ltda. Tornou-se a revendedora Ford na cidade e região, mantendo, também, a oficina mecânica.
Com o encerramento das atividades, nos anos 1990, o prédio passou por várias alterações, entre elas o fechamento da área do antigo posto de combustível, na esquina. Na sequência, passou a ser ocupado pelo Laboratório Fotográfico Scalco e, posteriormente, foi locado para diversos outros serviços.