Centenas de imagens eternizaram a inauguração do Monumento Nacional ao Imigrante, em 28 de fevereiro de 1954. Mas a foto acima, em especial, chamou a atenção deste colunista por um detalhe: o trio posicionado no topo do obelisco – provavelmente, integrantes da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas.
Setenta anos depois, a curiosidade motivou a reportagem a percorrer os 96 degraus até chegar lá em cima, tarefa que coube aos colegas Leonardo Portella e Bruno Todeschini, autores dos textos e fotos que você confere neste link.
Abaixo, destacamos o relato publicado pelo Pioneiro na edição de 6 de março de 1954, registrando a solenidade de entrega de um dos mais representativos símbolos de Caxias do Sul:
“Domingo último, com a presença do Chefe da Nação (Getúlio Vargas), do Governador do Estado (Ernesto Dornelles), do Arcebispo de Porto Alegre (Dom Vicente Scherer), de diversos prelados gaúchos, do deputado Luiz Compagnoni, dos senhores Américo Garbin, Humberto Bassanesi, Reinaldo de Carli, Silvio Toigo, Antonio Caringi, Tito Bettini e José Zambon, pessoas intimamente ligadas à construção do Monumento; do prefeito Euclides Triches, de numerosos deputados estaduais e federais, e de diversos generais, realizou-se a cerimônia de inauguração do Monumento ao Imigrante, constituindo-se num espetáculo imorredouro os momentos que foram consagrados à memória dos pioneiros.
Enorme multidão comprimia-se no local. Seguramente, umas seis a sete mil pessoas não puderam achegar-se mais próximo, porquanto o tráfego estava completamente impedido na Av. Júlio. Ante o Monumento, apresentava-se garbosa e impressionante a Banda dos Fuzileiros Navais, que constituiu uma nota a parte em todas as festividades, arrancando os mais entusiásticos aplausos de todos os presentes.
Às 9h30hmin, chegou o Presidente Vargas ao local, demorando-se em rápida palestra com os generais presentes. O Chefe da Nação foi saudado pelas notas vibrantes da Banda dos Fuzileiros. Circundados de altas autoridades, Vargas dirigiu-se lentamente para as escadarias do Monumento, que subiu com vagar, sendo saudado pelo povo. Sob imensa expectativa da multidão, o presidente desvelou as estátuas, sob aplausos comovidos. A aparição do grupo escultórico, que se deve a Caringi, foi recebida com deslumbramento por todos. Novamente fez-se ouvir a Banda dos Fuzileiros Navais. O céu ameaçava chuva e, junto ao Monumento, as bandeiras das nações imigrantes drapejavam ao vento.
Fez uso da palavra, ato contínuo, o deputado Luiz Compagnoni. Profundamente comovido, Compagnoni falou em nome da Comissão Executiva do Monumento e dos Diários Associados do Rio Grande do Sul. Falou a seguir o embaixador da Itália, Dr. Giovanni Fornari, e, por último, o Presidente da República. Antes de Getúlio Vargas retirar-se do local do Monumento, a senhora Neda Ungaretti Triches, esposa do prefeito municipal, ofereceu ao Chefe da Nação as medalhas comemorativas ao acontecimento.
MISSA CAMPAL
Prosseguindo a cerimônia, Dom Benedito Zorzi, aos pés da grande estátua, oficiou a santa missa, rezada sobre um altar armado de ramos de árvores, sendo os castiçais também constituídos de galhos. Alguns imigrantes, sobreviventes das primeiras levas, recordaram emocionados as cerimônias religiosas que se oficiavam na antiga capelinha de taquaras que se erguia na atual Praça Ruy Barbosa, em 1878.
Terminados os atos religiosos, o Presidente da Nação dirigiu-se à Praça Rui Barbosa, onde assistiu ao desfile militar, o qual deveria ter-se verificado ante o Monumento ao Imigrante. Infelizmente, o atravancamento do tráfego e a multidão ali comprimida não permitiram que isto se realizasse. Desfilaram tanques, jipes, carros de combate e outros veículos militares. Uma esquadrilha de aviões da FAB sobrevoou a cidade naquele momento. Concluída a cerimônia, o Presidente da República dirigiu-se à residência do senhor Júlio Ungaretti, onde estava hospedado”.