Símbolo da imigração e um dos principais cartões-postais de Caxias do Sul, o Monumento Nacional ao Imigrante completa sete décadas de inauguração nesta quarta-feira (28). Idealizado durante as comemorações dos 75 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, em 1950, a entrega para a comunidade ocorreu em 1954, pelo presidente Getúlio Vargas, durante a Festa da Uva daquele ano.
Para marcar a data, o Pioneiro leva os leitores para contemplar a vista de um lugar nunca mostrado: o obelisco, que fica atrás da estátua do casal imigrante e que também forma o conjunto arquitetônico inaugurado em 1954. A estrutura tem 20,96 metros de altura e foi construída em formato quadrangular. Seus relevos representam o marco temporal, de 1875, que retrata o início da chegada dos primeiros imigrantes italianos na Serra.
Afixados no obelisco há três painéis, que devem ser visualizados de baixo para cima: o primeiro mostra a chegada dos imigrantes, o do meio representa sua vitória pelo trabalho e, o superior, a sua integração ao espírito da pátria. No topo, foi hasteada a Bandeira Nacional, símbolo do país. Não é comum acessar o topo do obelisco: entrar na estrutura é uma tarefa apenas de servidores da prefeitura para a manutenção do espaço, principalmente da bandeira, que se desgasta com o tempo e precisa ser substituída.
O acesso é feito por uma porta de ferro, que fica trancada, localizada na parte de trás do obelisco. O projeto original previa uma porta em bronze, que foi retirada para evitar furtos, e que hoje está instalada na cripta do monumento. Uma abertura de madeira chegou a ser instalada, mas foi alvo de vandalismo e também substituída por uma porta com material mais resistente.
No lado de dentro do obelisco, quase não existe iluminação — algumas pequenas janelas trazem um pouco de luz ao local em determinados pontos. A reportagem precisou da ajuda da lanterna do celular para se orientar dentro da estrutura. Para chegar ao topo, é preciso fôlego para encarar uma escadaria de concreto, íngreme e estreita, com 96 degraus.
Por ser um ambiente fechado e pouco visitado, poeira, goteiras e insetos estão presentes no lado de dentro. A última etapa do caminho é abrir uma espécie de alçapão, que marca a chegada ao topo. O espaço é pequeno, não suporta mais do que quatro pessoas ao mesmo tempo. Devido à dificuldade e dos riscos, não é permitido o acesso da comunidade.
— É um espaço de difícil acesso para o grande público. Tivemos muitos pedidos, pessoas que pensaram um diálogo para promover essa acessibilidade. Aí teria que pensar em um elevador, um pouco mais complicado. Mas está no imaginário, um atrativo que as pessoas ficam curiosas para saber como é lá em cima. Para visitação é inviável — explica o diretor de Museus e Memória de Caxias do Sul, Itamar Ferretto Comarú.
Do alto, é possível ver uma imagem diferente da Avenida Júlio de Castilhos, assim como do entorno, dos bairros Nossa Senhora de Lourdes, Bela Vista, além das árvores que ficam atrás do monumento.
Restauro do Monumento é avaliado
As comemorações dos 70 anos do Monumento Nacional ao Imigrante também marcarão o início do planejamento das celebrações dos 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos na região. O selo comemorativo ao período da colonização será lançado nesta quarta-feira (27), às 9h, em uma solenidade no Monumento ao Imigrante.
No mesmo ato, será assinado um decreto que prevê a criação de uma comissão executiva que vai organizar a agenda de atividades para celebrar os 150 anos da imigração italiana na região.
De acordo com a secretária municipal da Cultura, Cristina Calcagnotto, a missão do grupo será concentrar as atividades previstas para o próximo ano, evitando conflito de datas e duplicidade de eventos, por exemplo. A ideia é que poder público e demais entidades organizem uma agenda única de eventos.
— As comemorações iniciam agora, com esse grupo de trabalho que vai ser responsável por evitar, por exemplo, que tenhamos muitas ações em um mesmo dia, por exemplo — explica.
Sobre o Monumento Nacional ao Imigrante, a secretária reconhece que o local se tornou, nos últimos anos, um espaço que dá sensação de insegurança, com casos de drogadição e prostituição. O próprio monumento apresenta pichações. Segundo ela, o município trabalha na elaboração de projetos que visam o restauro do monumento, ao mesmo tempo que se estuda a criação de um parque no entorno.
— São duas coisas diferentes: uma é o restauro e outra é a criação do parque. Há um desejo muito grande de se fazer melhorias naquele espaço, que apresenta problemas. Mas dependemos de projetos, de recursos e isso está sendo pensado. É um monumento muito importante para a nossa cidade, que não referencia somente o imigrante italiano, mas todos aqueles que ajudam no desenvolvimento de Caxias — afirmou.
Saiba mais
- O Monumento Nacional ao Imigrante não representou somente um marco para a cidade, mas também para a primeira década de existência do Pioneiro. A ideia de uma obra que comemorasse os 75 anos da colonização italiana, aliás, teve a participação fundamental do jornal.
- Em 30 de dezembro de 1948, Luiz Compagnoni, deputado e proprietário do Pioneiro, lançou a ideia em editorial. Ele tratava a obra como “símbolo de veneração àqueles que, em lutas ingentes e sacrifícios constantes, nos legaram um patrimônio moral e material invejável para qualquer outra cidade e outro povo”.
- A estátua em bronze do casal de imigrantes levou cinco anos para ser confeccionada e, hoje, recebe, em média, cinco mil visitantes por ano.
- O escultor gaúcho Antônio Caringi também assina outros importantes símbolos, como o Laçador e o Monumento ao Expedicionário, ambos em Porto Alegre.
- A edificação em alvenaria, pedra e granito abriga a cripta do monumento, obra de Silvio Toigo e José Zambon. No local, além de painéis, imagens e objetos abordando a imigração nos contextos internacional, nacional e regional, uma exposição permanente detalha a criação das estátuas em documentos fotográficos distribuídos pelo espaço.