Em tempos de Feira do Livro, recordamos da chegada de um espaço que durou pouco, mas marcou a cena literária e cultural de Caxias do Sul a partir de 6 de julho de 1976. Foi quando inaugurou a Livraria Coletânea, uma iniciativa de vanguarda da senhora Branca Gemignani Britto e da filha Rejane Britto.
O espaço localizava-se em um dos pontos mais nobres do Centro: a Av. Júlio de Castilhos, defronte à Praça Ruy Barbosa, na entrada da Galeria do Comércio - onde atualmente funciona uma lanchonete. Foi ali que o poeta Mário Quintana, convidado especial da inauguração, autografou várias de suas obras (reprodução abaixo).
Conforme destacado pelos jornais da época, a Coletânea logo se consolidou como espaço de excelência para sessões de autógrafos, lançamentos e ponto de encontro e difusão cultural - ali também costumavam ser vendidos ingressos para espetáculos, montagens teatrais, shows, campeonatos esportivos, palestras e diversas outras atividades.
CAIO, GERD E JAYME
Mario Quintana, Jayme Paviani, Ary Trentin, Gerd Bornheim, Loraine Slomp Giron, Juventino Dal Bó, Moacyr Scliar, Josué Guimarães, Caio Fernando Abreu… todos passaram pela Livraria Coletânea graças ao criteriosa agenda de Branca e Rejane, respectivamente esposa e filha do médico João Manoel Britto. Caio Fernando Abreu, por exemplo, esteve ali em 28 de junho de 1976, autografando nada menos do que O Ovo Apunhalado, Inventário do Irremediável e Limite Branco. Foi em setembro de 1976, três meses depois de inaugurar, que a Coletânea também estreou na Feira do Livro, organizada por livrarias caxienses desde o ano anterior (confira no quadro ao lado). Matéria do Jornal de Caxias destacou as participantes:
“As livrarias Rossi, Ramos, Sulina, São Paulo e Coletânea, todas de Caxias do Sul, estarão expondo na feira perto de 30 mil exemplares de livros, que, durante a realização da mostra, serão autografados por escritores nacionais especialmente convidados”.
Abaixo, a matéria do Pioneiro de 7 de julho de 1976 destacando a inauguração da livraria e a presença do poeta Mario Quintana. Na sequência, a barraca da Coletânea na Feira do Livro de 1976. Por fim, a fachada da livraria, que ocupava as salas 1 e 3, na entrada da Galeria do Comércio.
O registro é de outubro de 1977, quando a prefeitura, sob a gestão de Mansueto Serafini Filho (ao fundo), realizava a Operação Tapa-Buracos, visando à recuperação das ruas.
HORÁRIO ESTENDIDO E FECHAMENTO
A Coletânea era a filial caxiense da livraria mantida em Porto Alegre pelo irmão de dona Branca. E uma das grandes novidades vistas por aqui foi o horário estendido de atendimento: até as 22h, algo impensável na Caxias de 45 anos atrás.
Diretamente ligada às iniciativas culturais de Caxias, a Coletânea também foi uma das promotoras do 1º Panorama da Arte, realizado em parceria com a Universidade de Caxias do Sul, o Alfred Hotel e o Recreio da Juventude. A mostra coletiva de artes plásticas, realizada na Galeria Alfred e na sede social do RJ em 1976, reuniu obras de Vasco Prado, Ado Malagoli, Enio Lippmann, Alice Soares, Bez Batti, Bruno Segalla, Rose Scotti, Xico Stockinger, Danúbio Gonçalves, Anestor Tavares e Zoravia Bettiol, entre outros.
Toda essa badalação seguiu até dezembro de 1977, quando a livraria anunciou o fechamento, após um ano e meio de atividades. Conforme relatou Branca em uma entrevista no Jornal de Caxias de 31 de dezembro de 1977, o principal motivo foi o fechamento da Júlio, em frente à praça.
“Desde que foi fechada a quadra central, fronteira à livraria, fui obrigada a fechar mais cedo. Antes, eu ficava até as 23h, às vezes até mais. Depois disso, não havia mais condições”, comentou à época dona Branca, salientando questões envolvendo insegurança e falta de estacionamento nas proximidades. Dona Branca Gemignani Britto faleceu em 5 de junho último, aos 91 anos.
INÍCIO EM 1961
Conforme já destacado neste espaço, a primeira Feira do Livro de Caxias do Sul ocorreu em outubro de 1961, durante a realização do 1° Festival de Cultura e Arte de Caxias do Sul. Ela passou a acontecer anualmente a partir de 1975, por iniciativa e organização dos livreiros da cidade - as primeiras edições ocorriam na praça, porém, pelo lado da Rua Sinimbu, bem em frente à Catedral, como vemos na foto acima, de 1976. Já em 1984 teve início a contagem “oficial”, devido à participação efetiva do Município. A abertura deu-se em 9 de outubro de 1984, época em que a feira acontecia no extinto calçadão.