Passado, presente e futuro dialogaram de forma emblemática na noite de sábado, quando a empresa Móveis Sular - atual proprietária da área da antiga Metalúrgica Gazola, na BR-116 - deu o início oficial às comemorações dos 10 anos do Museu da Indústria Metalúrgica - Memorial Gazola. O destaque - amplamente aguardado devido ao ineditismo - foi o monólogo “Odila”, conduzido pela atriz Tina Andrighetti. Pela primeira e única vez, a peça foi apresentada no exato local onde ocorreu a trágica explosão de 22 de julho de 1943 - e que completa 80 anos daqui a um mês.
Mesclando aspectos históricos com detalhes da vida da operária Odila Gubert - antes e após o acidente que lhe deixou sem a perna direita e dependente de muletas por toda a vida -, Tina arrebatou o público com o tom confessional de sofrimento, resignação e desamparo, dos quais Odila também foi vítima pelos 60 anos seguintes, até falecer, em 2003, aos 80. Uma trajetória que foi acompanhada de perto por uma espectadora especial na plateia: Jurema Gubert Weber, de 95 anos, irmã de Odila e presença constante nos espetáculos desde que Tina começou a circular com a peça.
Ovacionada ao final, a atriz chamou dona Jurema ao centro do pavilhão, dividindo com ela os agradecimentos e o choro, no momento mais emocionante da noite. Dona Jurema recordou, às lágrimas, da frase mais dolorosa proferida por Odila ao saber que haviam amputado sua perna, no Hospital Pompéia, onde ela, acamada, completou 21 anos, em 1943:
“...Se eles tivessem me dito (que cortariam a perna), eu dizia: cortem fora o pescoço de uma vez…”.
Confira o documentário Aos Olhos de Santa Bárbara, de André Costantin, sobre o acidente de 22 de julho de 1943.
PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
Trazer à luz a trajetória de Odila e das outras sete moças vítimas da explosão de 1943 é apenas uma das tantas iniciativas do Museu da Indústria Metalúrgica - Memorial Gazola, criada em 2013, quando a empresa Móveis Sular adquiriu a massa falida da Gazola e o pequeno acervo mantido pelo senhor Ivo Gazola (in memoriam).
A partir de julho e até o final do ano, a programação de 10 anos do Museu contará ainda com entrega de maquinário de época restaurado, exposição na Câmara de Vereadores, homenagem às moças operárias pela Liga de Defesa Nacional, divulgação do trabalho do Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul e palestra sobre Patrimônio Industrial com o historiador Anthony Beux Tessari, diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da UCS. Anthony também é o autor das imagens que ilustram essa matéria.
VISITAS
Dirigido pela historiadora Maria de Fátima Canevese e mantido integralmente pela empresa Móveis Sular, o Museu da Indústria Metalúrgica (MIM) - Memorial Gazola é hoje um espaço de referência em preservação, pesquisa e educação para o patrimônio industrial, sendo um dos poucos do Brasil com um acervo tão rico.
São centenas de documentos, fotografias, catálogos, utensílios de cutelaria, artefatos bélicos e material referente à participação da Gazola, Travi & Cia na Segunda Guerra Mundial, quando a empresa foi declarada de interesse militar pelo Exército Brasileiro. Escolas e grupos interessados em agendar visitas gratuitamente podem acessar o site www.memorialgazola.com.br ou contatar pelo fone/whats (54) 99243.8849.
