Seguimos com a abordagem sobre a família dos pioneiros Pietro Bampi e Giulia Marchesini Bampi – iniciada na coluna desta terça, a partir da colaboração da leitora e pesquisadora Idelene Zattera, bisneta do casal.
Idelene disponibilizou também algumas falas de dona Gineta Bampi Motta, 89 anos, a única filha viva de Pietro e Giulia. A conversa de quase uma hora entre Idelene e a tia-avó rendeu uma série de lembranças da infância de dona Gineta, além de histórias da convivência e do cotidiano com os pais e irmãos na bucólica localidade de São Virgílio da Segunda Légua, interior de Caxias do Sul.
Confira abaixo alguns trechos:
"Meu pai era muito calmo, porém, muito rígido, muito cuidadoso com todos. Nunca íamos para a cidade, ele sempre comprava o que precisávamos, e não era qualquer coisa, eram coisas boas, de qualidade”.
“Tanto o pai como a mãe eram muito bondosos. Nos domingos à tarde,15h, íamos até a igreja rezar o terço. Logo após, eles voltavam para casa e nós ficávamos passeando, só que ele avisava: ‘Quando el sole riva al monte del Cirilo, tute a casa!”(Quando o sol chegar no lugar determinado por ele, todas deveriam estar em casa). Se passávamos um pouco da hora, ele nos esperava na porta de casa com uma varinha. Ele não batia, não falava nada, só sacudia aquela varinha e todas entendiam. Nesse sentido era a sua rigidez.”
“Meu pai era muito querido com a minha mãe. Sempre que tinha uma festa, ele a levava, se vestiam bem, penteavam bem o cabelo. Ainda me recordo quando os dois saíram para ir na inauguração da escadaria da gruta da Terceira Légua.”
“Um belo dia apareceram na casa do pai o sr. Fúlvio Basso, presidente do Correio Riograndense; Mário Mondino, deputado; Euclides Triches, prefeito de Caxias; e Mario Ramos, vereador. Nós estávamos na roça, roupa remendada, chapéu rasgado, e mesmo assim me fotografaram para colocar no jornal. Lembro bem que ao meio-dia, a mãe arrumou para nós uma mesa na cozinha e, na sala, a mesa para as autoridades. Foi quando o sr. Basso foi até a cozinha onde estávamos e disse: “Vocês irão almoçar conosco”, pegou prato por prato e levou até a sala onde todos estavam. “Nós viemos aqui almoçar e quem ganhou essa comida foram vocês, com o trabalho de vocês, aí nós ficamos aqui nesta mesa farta e vocês lá fora? Não! Isso não é certo”.
“À noite, depois de um dia de muito trabalho, nós jantávamos. Minha mãe lavava os pés do meu pai, ele tinha dor nas costas, depois ele ia descansar. Quando nós terminávamos os afazeres da cozinha, íamos para a sala, meu pai levantava e todos juntos, de joelhos, rezávamos o terço. Depois, o pai e a mãe iam deitar. No fundo dos pés da sua cama, tinha uma caixa onde guardavam as roupas, não tinha armários. Eu e minhas irmãs sentávamos lá e ficávamos conversando com o pai e a mãe”.
“Na época, quando tinham os andarilhos, eles vinham para as colônias, iam nas casas pedir pouso e comida, os vizinhos diziam: “Vá zo tel Piero che el ga posto” (vai lá no Pietro que ele tem lugar). Numa ocasião, veio um que queria dormir no paiol, o pai disse que não, pois lá tinha feno e pasto. Como ele tinha um palheiro, poderia pegar fogo e se queimar, então pediu para a mãe arrumar uma cama para ele na sala. Por lá ficou dois ou três dias, comendo e dormindo”.
“Quando fizeram a estrada de São Virgílio até a Forqueta, naquela época tiveram que cortar mato para a patrola passar e vieram muitas pessoas das duas localidades para trabalhar. Foi quando uma pessoa queria matar meu pai com um revólver, porque meu pai foi o idealizador desta estrada, e essa pessoa não tinha gostado disso. O pai, então, foi na delegacia fazer a queixa do acontecido. Chegando lá, o delegado pediu: Seu Pietro, o sr. brigou com alguém? Tem alguma desavença? O pai respondeu: Não, senhor! E aí o delegado disse: O sr. tem alguma arma? Meu pai levou a mão ao bolso e de lá tirou um objeto e disse: Tenho arma, sim e mostrou o terço que tinha na mão: Essa é a minha arma, delegado.”
A FAMÍLIA
Dona Gineta Bampi foi a antepenúltima dos 13 filhos de Pietro Bampi e Giulia Marchesini Bampi. Nascida em 20 de dezembro de 1933, era irmã (pela ordem) de Alfredo, Jacó, Cândido, Maria, Francisco, Josefina, Giacomina, Zita, Rafael, Gemma, (Gineta), Frederico e Elsa.
Gineta casou-se com Orestes Renato Motta em 24 de junho de 1967, nascendo dessa união os filhos Paulo Cesar Motta e Jaqueline Julia Motta (na foto mais abaixo, com a mãe).