Ele não costuma constar no rol dos fotógrafos que registraram Caxias entre os anos 1940 e 1950. Talvez por sua atuação ter ficado restrita aos bastidores da Metalúrgica Abramo Eberle, onde foi admitido em 1928, ou aos primórdios do jornal Pioneiro, em 1948, época em que era também um dos acionistas. Mesmo assim, sua breve obra fotográfica merece ser revista.
Falamos do senhor José Dallabilia, que, em 1950, foi o representante do Pioneiro na primeira incursão do jornal pela cobertura internacional. Na condição de enviado especial, Dallabilia integrou o grupo de moradores de Caxias que testemunhou a canonização de Maria Goretti pelo Papa Pio XII, em Roma, na Itália, em 24 de junho de 1950.
Conforme recordado pelo colega fotógrafo Roni Rigon neste espaço em 2017, Dallabilia produziu relatos e imagens publicadas em sete edições do Pioneiro, narrando a saída de Caxias do Sul, em 3 de maio, até a chegada em Roma, no dia 25 de maio de 1950.
Além de Dallabilia, integraram o grupo os padres Orestes Valletta e Felix Busatto, e os paroquianos Jacinto Vial, Silvio Zampieri, Pedro Buffon, Luiz Centenaro, Alcides Pauletti, Constantino Manfro, Silvio Da Ré, Secondo Crosa, Luis Bertola, Isolina Bertola, Corina Viola e Ari Viola. Todos se deslocaram de ônibus até Porto Alegre, de onde partiram de avião rumo ao Rio de Janeiro para embarcar no navio Anna C.
Na imprensa
Na edição de 17 de junho de 1950, o jornal anunciou em sua capa a chegada dos caxienses ao Porto de Genova, ocorrida em 25 de maio. Conforme o relato feito por Dallabilia, o grupo recordou do local de partida de muitos ancestrais italianos que emigraram para o Brasil, 75 anos antes. Dias depois, a comitiva testemunhou a solenidade que mobilizou cerca de 500 mil católicos na Praça de São Pedro.
Embora todo esse conteúdo tenha se constituído na primeira reportagem internacional do Pioneiro, as fotos originais acabaram se perdendo, restando apenas as reproduções de 1950, como a que destacou “a chegada dos peregrinos caxienses” (acima).
Bastidores do jornal
Além de diretor técnico da Metalúrgica Abramo Eberle, José Dallabilia integrou a equipe das Carrocerias Nicola e da antiga Gráfica Nordeste Ltda, responsável pela edição do Pioneiro nos anos 1940 e 1950.
Acionista do jornal, Dallabilia registrou diversos momentos daquele período, como o primeiro encontro de funcionários do Pioneiro, em janeiro de 1949, na chácara da família Kaiser, munido de sua máquina Speed Graph – a primeira edição do semanário circulou dois meses antes, em 4 de novembro de 1948.
Nas imagens desta página, alguns flagrantes de Dallabilia em solenidades dos primórdios do jornal. Na foto que abre a matéria, o linotipista Bruno Vita mostra, em 1949, o trabalho da máquina Intertype, importada dos EUA, a um grupo formado, entre outros, pelo dentista Aparício Postali, o padre Ernesto Brandalise, o empresário Luiz Compagnoni e o médico Mário Rocha Netto.
Por fim, abaixo, o momento em que o bispo Dom José Barea abençoa o ambiente da oficina e da redação, em 30 de janeiro de 1949, acompanhado de funcionários e do padre Ernesto Brandalise (D), também acionista do jornal.
Flagrantes de um incêndio em 1952
Entre os flagrantes de impacto registrados por José Dallabilia, destaca-se o incêndio que destruiu a Ferragem Caxiense e a Casa Minghelli, na esquina da Sinimbu com a Marquês do Herval, em 1952. Várias dessas imagens foram captadas a partir do terraço do Eberle, onde ele atuou por anos como técnico industrial e engenheiro de produção.
Nascido em Passo Fundo em 2 de agosto de 1909, José Dallabilia faleceu em 29 de março de 1955. Tinha apenas 45 anos. Uma rua no bairro Fátima leva seu nome.
Obituário no Pioneiro
Na reprodução abaixo, mais detalhes da trajetória de José Dallabilia, publicados no obituário publicado pelo jornal Pioneiro em 2 de abril de 1955.