Um casal de irmãos casou com outro casal de irmãos e, juntos, resolveram abrir um restaurante para conseguir dar estudo aos filhos e ter uma vida melhor. Saíram do Vale Trentino rumo a Caxias em uma caminhonete Chevrolet Brasil 1962, que os acompanha até hoje e com a qual fizeram milhares de idas e vindas para comprar carne, bebidas, mantimentos e também material para construir o prédio onde atualmente se localiza o estabelecimento.
Parece roteiro de filme — e daria perfeitamente um —, mas trata-se da história da fundação da Churrascaria Imperador, ícone gastronômico de Caxias do Sul que completa exatos 50 anos neste sábado (5). Já a alcunha de “restaurante familiar”, tão valorizada pela clientela, encaixa-se à perfeição neste caso: Pedro Regalin é irmão de Luiza Rizzi, e Pedro Rizzi, irmão de Terezinha Regalin. Fora isso, a nova geração do Imperador conta com a ajuda dos filhos Rogério Rizzi e Vera Regalin Mutterlle, além do neto Gabriel Regalin Mutterlle.
Ícone da Júlio
Atuantes até hoje, os casais Regalin e Rizzi acompanharam não apenas a evolução da gastronomia local, como ajudaram a moldar a fama da boa mesa caxiense, em especial a do bairro São Pelegrino — mesclando o churrasco aos pratos e sobremesas típicos da culinária italiana.
Após três anos atendendo o público no antigo endereço — na Júlio, 3.135, onde hoje situa-se o Restaurante Milano —, os donos deram início à construção do prédio próprio e do novo estabelecimento, a poucos metros dali, no térreo do número 3.107. E a inauguração, em 5 de setembro de 1973, foi pra lá de badalada, com direito a desenlace da fita pelo vice-prefeito Mário David Vanin e bênção do padre Eugênio Giordani, pároco de São Pelegrino.
São desses primórdios algumas das melhores “histórias de balcão” do Imperador. Durante a Festa da Uva de 1972, por exemplo, o movimento foi “sem parar”: eles começavam a servir às 11h e permaneciam com o restaurante cheio até as 23h.
— Os clientes não deixavam as mesas, pois queriam comer uva. Então Pedro e Pedrinho levaram as caçambas da fruta para a calçada, assim eles liberavam as mesas para poderem entrar outros — conta o neto Pedro.
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Noivas e holandeses
Restaurante que se preze tem clientes famosos e episódios pitorescos para contar.
— Por três vezes, tiveram que “segurar” as noivas no restaurante enquanto os noivos iam buscar o dinheiro para pagar a conta da festa. Alguns diziam que voltariam outro dia para pagar, mas não voltavam. O Imperador foi cenário de centenas de casamentos — conta o neto Pedro.
A casa também já despertou outro tipo de paixão:
— Um grupo de holandeses chegou a fazer camiseta personalizada para homenagear o restaurante quando retornou à cidade. Todos têm muito orgulho de saber que há apreciadores da churrascaria espalhados pelo mundo todo — completa Pedro.
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Superando crises
Em tempos de pandemia, impossível não recordar de outras crises e momentos difíceis pelos quais o Imperador passou. Conforme lembra a família, na época do Plano Cruzado (1986), o restaurante estava sempre lotado, mas faltava cerveja, carne e até sal.
— Eles tinham que ir em matadouros em Farroupilha para conseguir carne. A tabela da Sunab tinha severa fiscalização — conta o neto Pedro Regalin.
Conforme a família, a pressão foi grande, sempre houve crises, mas nada que tenha demorado tanto, que seja tão difícil quanto a atual pandemia. Um revés que os fundadores, atualmente com mais de 80 anos, esperam novamente superar.
A saber: a casa trabalha atualmente respeitando todos os protocolos de saúde e distanciamento entre mesas, com serviços de rodízio, telentrega e pegue e leve.
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