Para muitos, foi um dos bares mais modernos de Caxias nos anos 1980 e 1990. Quem frequentou o Tiffany's em seus tempos áureos, de 1982 até meados dos anos 1990, não esquece das poltronas de couro vermelho, do piano ao vivo de Arthur Kaercher, da trilha embalada pelo jazz, dos sofisticados drinques e coquetéis e do clima glamouroso proporcionado pela galeria de imagens de ícones do cinema.
Se as paredes estampavam pôsteres assinados de Joan Crawford, Bette Davis, James Dean, Marilyn Monroe e Humphrey Bogart, a concepção inglesa era respaldada por mesas com vidros de cristal e pelas poltronas giratórias do balcão, no melhor estilo american bar. Mais de 200 garrafas de whisky iluminadas na frente dos espelhos completavam a decoração, assinada pelo arquiteto José Afonso Braghirolli Galvão - responsável também pelos ambientes do Donjon e da Cave, da suíte presidencial, portaria, quartos, enfim, todo o hotel.
A coluna Encontro, assinada por Paulo Gargioni (1940-2019), no jornal Pioneiro de 16 de janeiro de 1982, destacava a novidade, surgida cerca de 20 dias antes:
“Para melhor atender sua clientela classe A, a direção do Alfred Palace Hotel abriu há cerca de 20 dias no lobby o Tiffany’s Bar. O estabelecimento funciona de segunda a sábado, das 17h às 24h, tendo como atração musical ao vivo os pianistas Luciano Cesa e Lino Casagrande. O bar é belíssimo, com decoração em estilo inglês baseada em uma cor – a preta – no carpete e nas paredes, contrastando com os sofás vermelho sangue. O Tiffany’s terá um público direcionado: hóspedes do hotel, executivos da cidade e casais com gosto refinado, que gostem de curtir bons drinks ao som de piano.”
Já no verão de 1990, uma nota no jornal Pioneiro destacava uma das sugestões da casa: a isca de catupiry. Conforme o texto, o Tiffany’s também era recomendado para encontros a dois, sendo possível ainda jantar no bar. O cardápio podia ser escolhido entre as opções do Donjon e da Cave, os outros dois clássicos redutos de diversão e gastronomia do Alfred Palace.
Parte desta coluna foi publicada originalmente em 28 de março de 2014.
Leia mais
Caxias de outros tempos: teste seus conhecimentos
Casas e prédios de outrora: teste seus conhecimentos
Ruas de Caxias: o antes e o depois das obras em 1940
Lembranças de João Pulita
Em 12 de junho de 2011, uma matéria especial da revista Almanaque destacou a história do Alfred Palace Hotel. Sobre o Tiffany's, o colunista social do Pioneiro, João Pulita, escreveu:
“Meu reduto predileto era o Tiffany's, um bar inspiradíssimo, com suas poltronas vermelhas de espaldares altos e paredes recheadas com fotos (em sua maioria autografadas) de artistas inesquecíveis de Hollywood, como Bette Davis, James Dean e Rita Hayworth. Havia um pôster até da Madonna, nua, então aspirante ao estrelato. O ambiente contava ainda com um piano e um balcão, onde eram servidos os mais tradicionais short e long drinks, como os clássicos Negroni, Alexander, Scream Driver e Dry Martini. As festas fechadas que rolavam no Tiffany's também instigavam a imaginação de quem não tinha seu nome na lista. Foi muito triste testemunhar a demolição do bar, a partir da transição e posterior venda do hotel”.
O Tiffany's por Paulo Cancian
Em 2014, o jornalista Paulo Cancian (1951-2018) recordou, em detalhes, o cotidiano glamouroso do lugar. Foi a partir do compartilhamento de parte da matéria ao lado nas redes sociais deste colunista:
“Rememorar o Tiffany’s é uma grandeza. Por ali desfilavam, no happy hour da sexta, com o som de um piano ao fundo e ambiente de pub, a fina flor da sociedade caxiense, mais negociantes, empresários, representantes de marcas de diferentes partes do mundo. Coquetéis e drinks espetaculares. Quando não tinha piano, o som era de jazz, blues, Frank Sinatra, Sarah Vaughn, Ella Fitzgerald. Plínio era o gerente do hotel, e a familia Sehbe sempre como anfitriã. Figuras como Willy Sanvitto, seu sempre amigo Lívio Gazola, Alfredo e Antonio Sehbe, Carlito Chies (a turma do Juventude). Claro, tinham os cuspidores que nem teu amigo aqui e os colegas do Pioneiro, então recém elevado à categoria de diário, com Paulo Caselani, Alberto Luciano Bonetto, Ivan Casagrande, Ademir De Césaro, Ibanor Sartor e mais uma penca de bons e ruidosos amigos. Minha bebida predileta era o “gim fizz”, que hoje nem sei se ainda é servido em algum bar da cidade. Desculpem, mas não surgiu nada igual ao Tiffany’s por aqui que eu tenha conhecido. Claro, tinha ainda a cozinha internacional do Donjon, para quem desejasse jantar. Atendimento exemplar do Serginho (garçon) que a gente já conhecia do Trattoria de Venezia (Júlio), quase ao lado do Juvenil. Serginho, que andava pelo “Labaredas” e que serviu com elegância e finesse pelo menos três gerações de caxienses. E para quem quisesse um agito perto das gurias era só descer para a Cave. Ali reinava a jovem guarda, mancebos e moçoilas a fim de uma “paquera”, líderes políticos e seus assessores. Credo, como se saboreia o passado com estas memórias trazidas pelo Rodrigo Lopes, filho do seu Aires, cidadão português que migrou para o Brasil e trabalhou no nosso comércio por décadas. Agradecendo sempre as amizades construídas nos véus do tempo”.