O verdadeiro progresso é o que torna a tecnologia disponível para todos. A frase é de Henry Ford, um americano que revolucionou a indústria no início do século passado. O tempo passou e estudos indicam que essa frase faz cada vez mais sentido. A consultoria Gartner indicou que, com a pandemia, o mundo sentiu a necessidade de criar sistemas que sejam mais flexíveis e preparados para não sofrer interrupções intermitentes. E esse caminho passa pela tecnologia.
Segundo o diretor para setor público da Dell Technologies Brasil, Bruno Assaf, a transformação digital da sociedade deu um salto gigante ao exigir que muitas atividades migrassem para o ambiente virtual. Mais do que nunca, as cidades e os cidadãos precisam se conectar e existir também no mundo virtual. Por isso, é importante entender que a tecnologia desempenha um papel essencial na recuperação econômica e na redução da desigualdade no Brasil, em um mundo pós-pandemia.
– Enxergamos que essa é uma tendência sem volta. Enquanto mais pessoas passam a trabalhar, estudar, se comunicar, comprar e acessar serviços essenciais, como saúde e educação, de forma remota, cresce a pressão sobre as infraestruturas de TI que suportam os serviços públicos. E com as novas demandas por processamento e armazenamento de dados, existe cada vez mais a demanda para que estes se tornem serviços mais ágeis e eficientes – afirma Assaf.
No centro destas transformações, está a tecnologia 5G, que proporcionará um aumento de 20 vezes na velocidade do 4G, deixando a internet muito mais estável, com uma conexão mais confiável e fluida. Assaf acredita que a sua implementação acelerará as cidades inteligentes e ajudará a conectar um número cada vez maior de pessoas a produtos e serviços.
– Dentro deste cenário, vemos algumas grandes tendências tecnológicas que vão ao encontro dessas necessidades. Entre elas, o uso da nuvem híbrida para suportar cargas de trabalho e acesso diversos, a adoção da computação de borda, a disseminação da inteligência artificial e do Machine Learning e a ampliação nos investimentos em segurança da informação. Combinadas, essas soluções podem transformar a dinâmica das cidades, auxiliando na melhoria da gestão dos governos e resultando em serviços mais inteligentes que facilitem a vida do cidadão – analisa o diretor.
Uma cidade conectada é uma rede de comunicação direta, segura e eficiente entre os gestores públicos, organizações sociais, academia, setor privado e seus próprios cidadãos. Não se trata de um simples serviço de internet. Trata-se de fornecer plataformas de engajamento e um diálogo com a população que permita a oferta de serviços cada vez mais adequados e eficientes.
Elias de Souza, sócio-líder da Deloitte para Governos e Serviços Públicos, conta que um bom exemplo de uma iniciativa conectada é o Bueiro Inteligente, que foi criado em São Paulo.
– A partir de sensores instalados nos bueiros de vias, a tecnologia permite agir preventivamente e rapidamente na limpeza das valas antes das chuvas, evitando transbordamentos. O sinal emitido pelo sensor indica quando o bueiro atinge 70% de sua capacidade e promete reduzir em até 51% os custos operacionais de limpeza para a cidade – ressalta Souza.
Os benefícios de uma cidade conectada são inúmeros, conforme explica Souza. Mobilidade urbana, segurança, acolhimento da população e desenvolvimento econômico são apenas alguns deles. Por meio da tecnologia digital, é possível entender melhor as necessidades do ambiente urbano e como estruturá-lo para todos.
– Vale ressaltar, porém, que o sucesso dessa e de outras soluções vai muito além da mera instalação de sensores: o que uma cidade precisa aprender é justamente o que fazer com os dados que coleta. Em outras palavras, por mais que seja conectada, uma cidade só se tornará inteligente quando souber utilizar essas informações para tomar melhores decisões, antecipar problemas e resolvê-los de forma proativa, sempre em uma ação coordenada com outras áreas de sua gestão – completa.
Segundo estudos do Gartner, existe uma tendência de que cada cidadão tenha sua identidade digital. Ou seja, a pessoa consegue provar sua identidade como indivíduo, seja qual for o canal digital de comunicação com a administração pública. Isso é “fundamental para a inclusão e o acesso [dos cidadãos] aos serviços do governo”, diz o relatório, complementando que ainda prevê que um verdadeiro padrão de identidade global, portátil e descentralizado surgirá no mercado em 2024.
Parceria entre público e privado é essencial, aponta especialista
Atualmente, já existem mais de 3,3 mil serviços digitais oferecidos pelo governo federal e por todos os seus órgãos e entidades. Isso representa 71% de todos os serviços. Entre eles, estão: Auxílio Emergencial, Prova de Vida do INSS, PIX, Carteira de Trabalho Digital e Carteira Digital de Trânsito. No entanto, para que esse progresso continue, o secretário de Governo Digital, Luis Felipe Monteiro, diz que é essencial que haja uma parceria cada vez mais forte entre os setores públicos e privados.
– A meta do governo é alcançar 100% (de serviços digitalizados) até o fim de 2022. Para acelerar ainda mais a transformação digital, lançamos, neste ano, o programa Startup Gov.br, em que focamos os esforços nos projetos digitais de grande impacto no poder público. Serão aplicadas metodologias ágeis de trabalho, com equipes multidisciplinares e entregas mensuráveis – conta Monteiro.
Essa tendência não é uma exclusividade do Brasil. Segundo pesquisa do Gartner, a previsão é de que, até 2025, mais de 50% das agências governamentais do mundo todo terão digitalizado os seus serviços. Monteiro explica que a transformação digital dos serviços públicos federais está revolucionando a relação do Estado com o cidadão. A eficiência também se reflete no gasto público. Segundo ele, o custo de cada serviço digitalizado para o Estado é reduzido em 97%, em média, em relação à forma presencial. A economia acumulada com os serviços transformados em digitais no Brasil, somente desde janeiro de 2019, já é de R$ 3,2 bilhões por ano.