“A vida é como o mar. Imprevisível. O Amyr mostra que a única saída é estar preparado para enfrentar ambos sem medo de viver sua verdade”. O recado veio junto com o livro Cem dias entre céu e mar, presente que ganhei do Chico e foi entregue na redação. Já tínhamos conversado um pouco sobre o assunto, sobre o fato de nunca ter lido nenhuma obra de Amyr Klink e adorei a surpresa feita pelo amigo querido que está morando um pouco longe.
Confesso que tenho uma relação controversa com o velejador — obviamente com base no pouco que conheço sobre ele. Admiro a iniciativa de planejar minuciosamente uma viagem e, ainda assim, lançar-se ao desconhecido e se arriscar. Por outro lado, tenho uma imagem nebulosa, formada a partir de uma percepção da mulher dele, Marina Bandeira Klink. Cinco anos atrás, ela trouxe a exposição fotográfica O Olhar Nômade para Caxias. Na época, deu uma entrevista para meu colega Andrei e contou que passou a levar a fotografia a sério depois de ouvir do marido, quando estava no mastro de um barco a 30 metros de altura, que as fotos dela não serviam para nada. Estava na terceira viagem à Antártida com Amyr e as três filhas do casal.
— O que fiz, diante daquele desaforo, foi me transformar em outra pessoa. Assumi que tenho a missão maior de compartilhar meu trabalho fotográfico. Não por serem imagens bonitas, mas para estabelecer uma conexão entre uma natureza remota e um habitante do centro urbano —disse, à época.
Fiquei pensando como uma pessoa que faz palestras mundo afora sobre motivação ou espírito de equipe pode tratar alguém dessa forma. Por outro lado, me apego no fato dessa fala grosseira ter feito Marina se transformar no que gostaria de ser — tenho dúvidas se apoio e carinho não seriam melhores incentivadores, mas preciso lidar com os fatos. Então, o convite feito pelo Chico “estar preparado para enfrentar e viver a verdade” me fisgou.
Às vezes, esse enfrentamento carrega um transbordamento das emoções. Faz poucos dias, assisti a um vídeo do meu batizado, gravado em Super 8 pelo tio Oscar e recentemente digitalizado. Foi muito tocante ser espectadora de mim mesma e ver as pessoas importantes da minha vida passando por mim, recém chegada a esse mundo — fui batizada na chácara dos meus avós, com dois meses. Foi um amor ver todo mundo de um jeito que não conhecia: meus primos mais velhos pequenininhos, minhas tias mais jovens do que eu atualmente, meus dindos e meus pais com 20 e poucos anos. Muito fofo. Achei um pouco apavorante perceber a passagem do tempo de forma tão óbvia (por mais óbvia que ela seja, já que envelhecemos diariamente).
Logo depois, fui ao cinema ver Divertidamente 2, cujo melhor resumo foi feito por meu pai, ao final da sessão: é a alegria que segura tudo na vida, é a emoção mais importante de todas. Talvez por isso o bilhete e o vídeo tenham me tocando tanto: alegria da descoberta é ainda melhor se combinada à da manutenção da relações e das pessoas queridas na nossa vida.