— Marina, desce daí! Essas tuas fotos não servem pra nada!
Foi essa frase, ouvida quando estava no mastro de um barco a 30 metros de altura, que fez Marina Klink, 54 anos, reinventar sua vida. Consagrada como produtora de eventos de luxo em São Paulo, naquele dia de 2010 Marina estava em sua terceira viagem à Antártida com o marido, o navegador Amyr Klink, e as três filhas do casal. Apaixonada pela natureza e por registrar algumas das espécies mais incomuns para os habitantes das cidades _ seja na floresta, no deserto ou no gelo _, ao ouvir o insulto disparado pelo marido decidiu que a vida que levava até então ficaria para trás. Levar a fotografia a sério, e mais ainda a sua mensagem de preservação, tornou-se uma missão.
Por conta daquela epifania, é possível dizer que uma rotina que já era agitada _ chegava a preparar até sete festas de casamento em um mês _ tornou-se ainda mais intensa. Desde 2010, entre uma ida e outra à Antártida e incontáveis viagens para outros destinos inóspitos, foram cinco livros lançados — três de fotografia e dois de literatura infanto-juvenil —, dezenas de palestras e exposições temáticas, além de uma série de palestras preparadas para suas filhas apresentarem a mais de 200 escolas do Brasil. Permeando esse trabalho, aquele que é o seu lema.
— Ao ouvir que meu esforço não servia para nada, eu poderia ter reagido de três formas. Dentro do que se espera de uma mulher numa sociedade machista, poderia ter guardado a câmera e nunca mais fotografar nada. Em outro extremo, poderia ter matado o meu marido. Mas o que fiz, diante daquele desaforo, foi me transformar em outra pessoa. Assumi que tenho a missão maior de compartilhar meu trabalho fotográfico. Não por serem imagens bonitas, mas para estabelecer uma conexão entre uma natureza remota e um habitante do centro urbano. Procuro trazer uma emoção que está além da moldura da imagem, que é a da preservação. Acima e abaixo da linha d´água existe muita vida e nós somos responsáveis pela conservação delas — conta a fotógrafa.
À convite do diretor da Loja Magnabosco, Pedro Horn Sehbe, nesta quarta-feira Marina inaugura, em Caxias do Sul, a sua primeira exposição no Rio Grande do Sul (a abertura para convidados e imprensa será nesta terça, às 19h30min). "O Olhar Nômade" traz 21 fotografias produzidas no continente antártico, entre espetáculos de luz, esculturas glaciais, gigantescas baleias jubarte e raros registros do pinguim-imperador, espécie de difícil acesso que Marina é a primeira fotógrafa a incluir em uma exposição no Brasil. O encontro também motivou a publicação do livro mais recente, Contravento: além da convergência antártica.
PROGRAME-SE
O quê: exposição O Olhar Nômade, de Marina Klink
Quando: visitação de 26 de junho a 25 de julho, das 9h às 19h
Onde: Loja Magnabosco, em Caxias do Sul (Rua Dr. Montaury, 1824)
Quanto: visitação gratuita