A compulsão alimentar da Yasmin Brunet. A falta de noção do Rodriguinho. A citação da tiktoker ao livro "mil novecentos e não sei o quê". A tese da Prioli sobre a maldade no BBB. A terceira gravidez da Virgínia. O reconhecimento de Sucession. Os suspiros para Kieran Culkin. A aparição pública da boiadeira após terminar o namoro com o sertanejo. O leilão dos itens pessoais de Elton John. O Bansky emoldurado. A dificuldade do futebol da Arábia Saudita em atrair novas estrelas. O casamento arranjado do atacante senegalês Sadio Mané. O elogio de Gracyanne ao corpo definido do Mion. A tipoia ortopédica de Pedro Pascal incorporada ao look do tapete vermelho. O segredo da boa forma da mãe de Isis Valverde. O cigarro, o vinho e a pizza nas crises de pânico de Gisele Bündchen. A cirurgia abdominal da princesa de Gales. Os fãs que processam Madonna por atraso.
Como parecem banais os assuntos que não nos interessam — mesmo que sejam banais, de fato.
E talvez por isso a gente esteja ficando meio anestesiado em relação às sentenças que nos rodeiam: muitas parecem superficiais e efêmeras. Se isso não fizer parte do nosso universo, então, fica até mais fácil desdenhar. Tomo como exemplo uma coluna que a jornalista Milly Lacombe publicou essa semana no Uol. Ela aborda a entrevista coletiva da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, e, se você não sabe do que se trata, vale a pena perder alguns minutos para descobrir. Achei genial a ideia da dirigente de convocar uma coletiva de imprensa apenas para repórteres mulheres, em um meio dominado por homens. Dá para ter noção do impacto causado. Muitos colegas homens reclamaram, sentiram-se excluídos. Como foi só uma vez, não se tratou de exclusão, mas do oposto. Foi bastante inclusivo e pedagógico: muitas jornalistas contaram que era a estreia delas no estádio e muitas conseguiram perguntar pela primeira vez. Revolucionário.
Tentei pensar em quem reclamou da iniciativa e imaginei que quem torceu o nariz nunca deve ter escutado, como eu, que não poderia ser repórter esportiva porque era bonita e não daria para me colocar no campo para lidar com jogadores. Ou que, como tinha cara de menina, não poderia aparecer na televisão porque não inspiraria confiança. Nunca foi uma abordagem profissional, como os exemplos explicitam. Hoje já percebo que essas falas parecem um pouco mais distantes da realidade atual. Fico realizada em ver meninas e mulheres ocupando todo o tipo de espaço em todos os veículos. Mesmo que sejam bonitas e recém-formadas.
E é curioso, para não dizer triste, ver que as transformações existem, embora haja muito espaço para ideias preconcebidas: seja num reality show, quando uma modelo fica vulnerável a comentários inadequados sobre o corpo dela, seja numa conversa como a que presenciei dias atrás, de que "mulheres que não denunciam a violência sofrida são culpadas pelas próprias mortes". Não me refiro a sentenças na Idade Média, mas de frases ditas em público, em salas cheias de mulheres e em 2024.
Por isso também que os pequenos avanços merecem ser celebrados — seja exibir o corpo da forma imperfeita e original, seja ocupar espaços que ainda precisam ser reivindicados.