Eu tive um sonho, vou te contar... Parece a introdução de um grande sucesso musical dos anos 90, mas é só a colunista de vocês vindo despejar meio mundo de divagações, indagações e incredibilidades. Pois então, eu tive mesmo um sonho. Tive vários, na real. Mas esse, especificamente, vim compartilhar.
Geralmente não lembro dos sonhos que tenho. Vez ou outra, me vêm um borrão, lembranças dispersas, insights perdidos, cheiros e/ ou um sem-fim de ‘sei lás’. Mencionei acima que tive um sonho e que tenho os tido aos montes. Sim, tenho gastado corpo-cérebro em corridas no parque e meditações mal executadas e o resultado tem vindo em forma de uma desmoronamento onírico contente e satisfatório – como nunca antes visto.
Pois bem, essa Sandracecília acorda, dorme e sonha e, o mais novidadeiro, até se lembra. Será que a sanidade mental está se aproximando, caríssimos? Duvido muito. Voltemos aos sonhos dessa escritora toda errada, mas que alcançou a graça divina.
Ela dorme bem, acorda antes do relógio despertar e sonha quase todos os dias que está sozinha na terra. Sim, este é o sonho. Lá, no universo que Orfeu me entregou, tudo é meio Mad Max, tudo é meio cenário clichê de filme velho de Faroeste, tudo é bem silencioso. E eu sou bem feliz ali. Acordo e anseio por dormir e sonhar outra vez, confesso.
Houve um prenúncio nesse roteiro de Orfeu: uma voz me pergunta se gostaria de dividir o espaço da narrativa com alguém. Lembro de, sem pestanejar, dizer: não! Deve ser coisa de mãe, de mulher-polvo, de criatura nascida de imensa família, de gente que desfruta da vida do interior, de gente que se descobriu feliz dentro da sua própria existência. Enfim, deve ser coisa de gente que tem infinita demanda como eu. Deve ser, só pode ser.
Eu no sonho, eu na vida real. Lá e cá, pedindo calma e silêncio, implorando para que o mundo fale menos ou seja mais assertivo no que deseja compartilhar. Tá faltando harmonia nessa música, tá faltando função nessa poesia, tá faltando ritmo nessa dança, tá faltando canção nessa vida.
Voltando, eis que no sonho eu estava só, num cenário ermo, ocre, um filtro sépia. Amei a estética, estranhei a paz. Mas eu tive esse sonho e não o esqueço. Talvez meu inconsciente esteja sedento de silêncios, é que o mundo faz barulho demais na existência da gente, não acha?
Tenho demitido gente da minha vida. O dono do bar, a amiga de anos, o porco abusivo, o familiar inconveniente, o fornecedor de coisa alguma... Tenho demitido tudo que é barulho e não é canção. Não me importa que essas presenças sejam necessárias. Se elas incomodam, não trazem paz, estão sobrando, podem ir.
Quem vai embora nunca está atrelado à questão filosófica do que somos, sempre vem responder como estamos. Se o estar, sufoca, deprime e constrange, é melhor ir. Nem a literatura, nem a filosofia e nem eu gostamos do que não é volume de sorrisos, afetos e delícias.
Não há tempo para gastar tempo com o que não nos faz bem. A natureza tem nos trazido essa mensagem, consegue escutar? No silêncio, eu ouço com clareza.