Vivemos tempos onde o presente, o passado e o futuro se emaranham. Não há o que nos ensine a superar a realidade atual, de tanta informação e um punhado de ansiedade. O futuro se encontra ainda suspenso na incerteza do que virá. E o presente vai embrulhado para viagem, uma viagem de foguete que só vai adiante, seguindo até o combustível acabar.
A minha gasolina aqui jaz, confesso. Tenho ido para frente sem empurrar, contando com a sorte de um dia de vento forte. Tenho seguido em dias de brisa, dias de furacão. Amo programar a vida, fazer planos, organizar os passos, enxergar o que vem. Deve ser, inclusive, por isso que pequenina eu habitava mais as copas das árvores do que o chão. Subia alto para enxergar longe.
Tenho me deixado abater pela dura realidade, tenho chorado por coisa muita e coisa mínima. Tenho visto meus pés fincados no solo, criando raiz profunda. Estou perdida no agora, esse momento que nunca tive muita capacidade de compreender. Sou especialista no que está por vir. A assertividade do tempo que chegará foi arrancada de mim, de nós. Tudo está suspenso.
Gente como eu tem saudade do futuro, daquilo que ainda não viveu. Parece poético, mas não é. Juro que não. Passei a vida fora do compasso do tempo, vivendo o hoje por causa do amanhã. Nunca respeitei a ordem natural das coisas: o que foi, o que é, o que será. Misturei tudo cartesianamente, dada minha personalidade um tanto racional, mirei com cautela o alvo, eu era a flecha e o atirador. Fui! Rompendo barreiras, construindo pontes. Acertei o alvo quase na totalidade das vezes. Sorte, acho.
Viver fora da naturalidade do passar pode ser bem arriscado. Senti no cotidiano muitas vezes a força do não estar. Hematomas despercebidos marcando minha pele me contaram que eu devia prestar atenção no que estava vivendo ali, no presente. Mas eu marchava adiante sem freio, colecionando esquecimentos, carregando uma agonia palpitante no peito.
Descobri que essa sensação tem nome: ansiedade. Convivi com ela por longos anos, considerava-a normal. Um dia descobri que não. Fui encurralada pelo excesso de futuro e me vi paralisada. Aceitei a paralisia, aprendi a contar minha pulsação, reaprendi a respirar, procurei ajuda, fiz — e faço — terapia.
Acontece que a sucessão de tragédias têm me feito olhar pra dentro, para o mais profundo da nossa falta de controle. Mirando a vizinhança, enxerguei ali a ansiedade, que um dia foi minha companheira, habitava quase todos os lares e, por vezes, bateu à minha porta. Eu não abri, disse a ela, esgoelando, que em mim ela não faria mais morada.
Para isso, me obriguei a olhar pra minha realidade, apreciar minha vida, cada momento. Não tem sido fácil, é como reaprender a andar. Mergulhei nas memórias de agonia para chegar à superfície ainda com ar nos pulmões. Cá estou, viva! Marchando dia após dia, chorando minhas derrotas e comemorando minhas vitórias. Eu nunca pensei que poderia ser tão prazeroso viver o hoje. Mas como eu poderia saber, não é? Viver se aprende vivendo.