Dias memoráveis podem ser os mais triviais possíveis, concorda? Acordei numa segunda-feira comum, segui a rotina. Ao abrir os olhos naquele dia eu não tinha ideia de que dali a algumas horas eu tomaria uma das decisões mais difíceis e importantes da minha vida: parar de fumar.
Sim, eu sei, eu nunca deveria ter começado, mas acontece que lá atrás, na adolescência, um dia eu botei um cigarro na boca e nunca mais tirei até aquela fatídica, comum e maravilhosa segunda-feira. Ele era uma espécie de "péssimo melhor amigo". É que má companhia também é companhia, e o cigarro sempre esteve comigo.
Tudo era motivo. Frustrações, fumava. Alegrias, fumava. Tédio, fumava. Não havia nenhuma parte do meu dia que não se tornasse um imenso argumento para uma tragadinha rápida.
Nesta semana, entre uma crise de abstinência e outra, me dei conta de que passei mais da metade da minha vida sendo fumante. Quem sou, afinal, sem o cigarro? Há sete dias estou descobrindo.
Eu já vinha ensaiando esse passo há meses. Não prometi nada, fui tateando a existência possível de um universo íntimo sem o cigarro. Criei estratégias, dei o primeiro passo em janeiro: troquei meu amado mentolado por cigarro de palha. Transferi o vício por saber da bomba química que o cigarro branco é e, por, na hora, estar com muito medo do fracasso.
A decisão de viver sem o cigarro já era palpável, tudo nele me incomodava há tempos. A falta de liberdade de ser e estar; o cheiro; o gasto. Afora isso, ao olhar para mim eu via uma mulher meio jovem (rsrs), super aplicada à atividade física e à alimentação natural, e fumante. Era bem incoerente.
Por odiar incoerências, caí naquela segunda-feira qualquer, onde tomei, possivelmente, uma das mais importantes decisões da minha vida. Acordei cedo, tomei café e fumei, fui vivendo, vi que o cigarro estava acabando e fiquei brava comigo. Sempre essa vigília para que o estoque de inferno não acabe? Resolvi ali que já tinha dado para mim. Joguei os últimos no lixo e, sem cerimônia ou velório, parei de fumar.
Os dias que se seguiram entraram no top 5 de piores momentos que vivi. Quando dizem que cigarro é droga, o fumante racionaliza, mas não se vê drogado. Não se vê viciado como os drogados clichês, talvez. Não se vê até ter que passar por uma crise de abstinência real.
Sim, caríssimos, não é bonito o processo de renascimento de um drogado. Para mim, pelo menos, não foi e não tem sido. Os dias têm sido longos e regados a crises absurdas de ansiedade, carência, irritabilidade, fome, diarreia... O hábito me guia pela casa e tenho tido que reaprender a existir. Não tem sido bonito nem fácil, definitivamente.
Mas um dia eu decidi acender um cigarro, segunda-feira passada eu resolvi nunca mais acender outro cigarro. A vida é feita de decisões, decido hoje por ter mais dias plenos para viver.
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