A mulher que sou hoje não chora, ou pouco chora. Secou? Você poderia me perguntar. Eu te diria com firmeza que não, muito pelo contrário, sigo cada vez mais derretida pela vida, mas não tenho tempo para choros. Sou mulher-função e risos são parte da construção do meu cotidiano. Quase não paro para lamuriar hoje em dia, minhas lamúrias são feitas enquanto ajo, mas essa semana eu chorei.
Chorei e chorei bonito. Desabei. Se pudesse, no auge da dor declarada, teria dado uma birra igual criança em corredor de supermercado. Havia tanto incontido dentro de mim, travava na garganta, dor, acúmulo. Trazia há dias um silêncio de morte dentro do peito, ao passo que queria gritar até explodir como uma cigarra.
Sabe, assim como não sou dada a choros, não sou boa com silêncios. Pelo menos não os meus. Os dos outros, eu respeito. Os meus os conduzo à minha intimidade, somente. Costumo sugar tudo que há das relações como comunicadora de nascença que sou, e, no balanço final do dia, me aconchego em minha gostosa companhia e me calo profundamente, me deixo ali, estática, largada, existente e só.
Retornando, é isso, essa semana eu chorei. Contive o quanto pude, até não poder. A tragédia assolando o Sul, a chuva dentro de mim. A barra estava pesada, não aguentei. Sem forças e energias, acolhi minha filha diariamente. Uma infinidade de problemas à porta e a porta veio ao chão. Para onde olhava, pressão. Explodi.
Ao me ver ali, lágrimas vertidas, estranhei. Como disse, não sou dada a choros. Mal soube lidar com àquela emoção que chegava voraz e me consumia. Me entreguei quando vi que não havia outra estrada. Era deixar a dor doer, sentir, esperar, seguir. Foi o que fiz.
Me senti péssima no resto do dia. A cabeça dói num pós choro, não lembrava. Cambaleante, meio sem entender fui seguindo as rotinas. Ao final da noite, no banho, enquanto sentia a leveza da água descer sobre minhas costas magras, me peguei respirando leve. A agonia havia ido embora, nem notei.
Ali, mãos espalmadas no azulejo, olhando para o vazio, voltei à vida, à minha vida. Me vi cheia de sorte conquistada, dotada de uma bagagem pesada que é levada lindamente como uma bolsa Channel. Cerrei os olhos, água correndo, me veio às retinas o sorriso da minha filha, o olhar daquele que amo, e, dentro daquele dia em que infortunadamente chorei, consegui sorrir. Eu sorri pra mim orgulhosamente.
Assumindo assim que mulheres fortes fraquejam, caem, mas se levantam sempre. E, analisando a minha história, concluí que mulheres vão juntando as ineficiências do mundo pelo caminho e saturam. Sangrando, literal e figurativamente, fazem mais do que conseguem e isso dói.
Agora, poeticamente falando, mulheres carregam o mundo nas costas, um rio entre as pernas e o mar nos olhos. Cada mulher que conheço já amparou suas próprias lágrimas, secou-as na manga da camisa, levantou a cabeça e seguiu.