O Brasil não estava pronto para ver Sandy prestes a ser uma mulher divorciada. E mais: uma mãe solo, vulgo solteira. Uma mulher comum, como eu, enfim. E agora, Brasil, quem poderá te defender? Esse país não quer assumir que cria seus próprios deuses a partir do barro, faz deles tótens divinos e os mantêm aprisionados em suas crenças.
No caso da Sandy, pobre menina rica, há mais de 40 anos sendo exaltada como uma santíssima criatura. E, convenhamos, a culpa não é dela. Ela sempre fora só ela mesma. Criada sob holofotes, dotada de muitos talentos, viveu o Big Brother Brasil dos anos 90 e 2000, não deve ter sido fácil.
Cada beijo dado por ela era visto e julgado pela sociedade. Ela foi firme em manter sua intimidade longe da grande mídia, mas todo novo fato sobre a sua vida foi noticiado à vera.
Eu, que na adolescência, queria ser uma Sandy, mas não tinha nem físico nem emocional para sê-lo, quis me afastar daquele estereótipo de mulher-perfeita-tupiniquim. Jamais poderia corresponder a tais características. Logo eu, dentro do meu corpo mestiço, dentro da minha personalidade despudorada. Não dava, não deu.
Enfim, chegamos ao final de setembro de 2023, na fatídica semana em que tantos casais famosos terminaram. Relacionamentos se findaram no engate do final televisionado e cheio de lágrimas do namoro de Luísa Sonza. Afinal, num quereres ou não de Chico, nossas esperanças de amor-pra-vida-toda se esvaíram numa safadezazinha no banheiro de um bar carioca. Ah, Chico, melhore!
O que acontece é que muita gente estava na espera de ver Luísa se estabacar com a cara no chão e sangrar. Não seria novidade alguma. É típico dela, enquanto mulher que sonha e realiza de acordo com seu próprio código. Mas, Sandy, essa não. Ela personificava sonhos alheios de princesa da Disney, com príncipe e tudo. Só que chegou o final… e não foi feliz. E agora, Brasil?
Essas intersecções de inícios e fins só nos dizem que não há que se sustentar o insustentável. Os relacionamentos começam e, também, terminam. Poucos são aqueles que perduram juntos até o final da vida de ambos, ou de uma das partes. É preciso aceitar isso. Estatisticamente, nem há motivos para tantas esperanças de amor-perfeito.
Não importa se você, mulher, é mais Sandy ou mais Luísa Sonza. E, pra constar, depois de duas separações homéricas e outras bem bobas, eu me vejo mais Luísa. E, tá tudo bem. Ela é uma grande artista, a admiro muito, mas, infelizmente, o povo não espera um final feliz para mulheres como ela, como eu.
No entanto, é dada a data, onde sou uma mulher separada com criança pequena no colo: daí, pasmem, eu sou mais Sandy agora. Bom, é isso, minha Era Sandy chegou. Eu não fui até ela, ela que veio até mim. Decidiu ser uma mulher qualquer como eu. Eu, particularmente, a acolho com todo meu afeto, pois sei das dores e das delícias da decisão profunda pela própria existência, do sonho da felicidade individual.
Bom, eu sigo aqui, na busca pelo caminho do meio. Afinal, sou meio Sandy e meio Luísa. Todas somos, creio.