Tive de aprender desde cedo a cultivar a altivez, a resistência e a persistência, mas, acima de tudo, a busca incessante pela felicidade. Afinal, para mim, ser feliz não é um destino distante, mas o próprio caminho. E, falando sério, aqueles de nós que vêm das mesmas origens têm uma única escolha: prosperar, compreende? Desde minha avó, seguimos como mulheres-fantasmas, assombrando nossos próprios eus vivos, porém, desguarnecidas d’alma que nos foi concedida, mas não entregue.
Eu e todas as mulheres que vieram antes de mim sonhamos com um mundo novo. Contrariando minhas crenças de antes, quando eu tinha mais sonhos do que experiências e menos idade do que cicatrizes curadas, descobri que o mundo não é tão belo como eu imaginava. Na verdade, ele queima como pimenta em uma ferida aberta. Acontece que eu sou apaixonada por pimenta.
Todas essas lições e muito mais, eu aprendi naquela casa com aquela mulher. Aquela que é Divina, tanto no nome quanto no seu jeito de viver. Uma mulher incrivelmente forte, mãe de sete filhos, que tem o sangue no olhar, como diriam os goianos. Outra lição que absorvi dela: ser profundamente eu mesma.
Esquiva e astuta, sempre fui, continuo a ser, e aprimoro meu modo de enfrentar a vida a cada dia. Contudo, o que mais me enche de orgulho é suportar as adversidades sem derramar lágrimas e cultivar a gratidão. Eu sigo adiante sem lamentações, e, se por acaso derramo algumas lágrimas, são apenas gotas. Não enchem copo, não viram rio.
Quanto ao sorriso que carrego, aquele que raramente abandona meu rosto, ele foi presente das almas afins, dos fraternos. Em dias muito difíceis, em tempos passados, era possível ouvir gargalhadas vindas da velha casa à distância. Uma casa repleta de irmãos e irmãs, onde o amor enchia o universo de beleza, mesmo nos dias mais feios.
Um dia, em terras desconhecidas, onde o frio congelava meus pés e a neblina obscurecia minha visão, mantive meu coração aquecido e meus olhos fixos no objetivo. Por mim, por eles, por elas...
Hoje, aqui, envolta no abraço deles, sou grata pela sorte de ter nascido desse ventre, grata por ser quem sou, uma pessoa complexa e imperfeita que busca ser melhor a cada dia. Essa mulher que não silencia sua voz, pois conhece seus argumentos e sabe que merece as bênçãos da vida.
A jornada da vida é como um rio sinuoso que nos leva por curvas imprevisíveis. As águas fluem e, às vezes, nos lançam em águas turbulentas, mas também nos permitem momentos de tranquilidade nas margens. Assim, como Clarice Lispector nos ensina, aceito as águas revoltas e os momentos serenos.
Na calada da noite, quando as estrelas se tornam minhas confidentes, eu reflito sobre a força transmitida pelas mulheres que me precederam. Elas são como estrelas em minha história, iluminando meu caminho. E assim, carrego essa herança, nutrindo minha alma com as lições do passado para enfrentar o amanhã com coragem.