Dias desses, num domingo qualquer, onde sou filha-irmã-tia, dona-de-casa, mulher-qualquer, e, sobretudo, mãe, me deparei com uma singela conversa entre minha sobrinha e minha filha. Eu, ali, desintencionada, a observar a beleza que das duas se balançando na rede. Gargalhavam e papeavam felizes, quando Pilar, minha cria, fala com muita assertividade para a prima: sabia que minha mãe é coroada?
Parei o que estava fazendo para prestar atenção, fiquei curiosa com o rumo que aquela conversa poderia tomar. Minha sobrinha, de pronto, a questionou: mas, o que é ser coroada? Pilar, sem pestanejar, respondeu: minha mãe usa uma coroa invisível todo dia, ela é uma rainha, e eu também sou.
Emudeci ao ouvir aquilo, me fixei em sua mínima figura e decidi não intervir, nem mesmo para dar-lhe um abraço muito apertado que materializasse o grande orgulho que tenho dela cotidianamente, mas que naquele momento transbordava. Meu coração se aqueceu e desde esse dia carrego um brilho intenso nos olhos.
Deixe-as em sua infância brincante e segui o dia com uma sensação magistral. De fato, naquele domingo trivial, passei o dia feliz e sentindo o peso da minha coroa na cabeça. Não é fácil ser uma rainha, o trono da vida exige muito de nós. Mas, mais díficil ainda é criar uma rainha, no entanto creio agora que estou no caminho certo.
Quando digo rainha, não falo de Monarquia ou qualquer besteira dessas. Me sinto autorizada a ressignificar essa palavra e a escrevo em letras minúsculas, pois me refiro às majestosas mulheres do cotidiano que a cada dia sentam em seu próprio trono e governam seus próprios reinos, conquistam suas próprias terras e vencem suas próprias batalhas. É isso que sou, é isso que tenho trabalhado para que Pilar seja.
Para que uma rainha se empodere de sua coroa é necessário, primeiramente, um desnudar-se do passado de submissão, é um super despir-se do que foi imposto ao nosso gênero e sexualidade. Passei por isso, é violento e doloroso demais.
Lembro que ao saber estar gestando uma mulher me prometi que ela não teria que lidar com as amarras da minha existência, eu a protegeria e cuidaria para que ela desfrutasse de uma vida mais plena, pois eu daria a ela liberdade de existir. No seu nascimento, quando ela saiu de mim para o mundo, eu a coroei.
Ela tem dado conta da sua missão de ser plena, pois a coroa só se assenta em nossas frontes quando nos sentimos permitidas a sonhar e realizar, quando vemos beleza no reflexo do espelho e nos percebemos dignas das mais variadas riquezas, que vão desde o amor-próprio ao ouro social, passando pelo amor do outro, que, também, nos é de merecimento. Pilar tem entendido isso, vagarosamente e com muito respeito à sua pouca idade.
Para se criar uma rainha, é preciso ser uma rainha. Não há no mundo melhor escola que a do exemplo. Pouco vale falar sobre ser altiva, corajosa e carregar um coração de realeza se elas não veem em nós tais características. Uma rainha é uma mulher que se curou e seguiu.
Quando uma mulher se cura, ela cura as gerações que estão por vir. Quando uma mulher assume a sua coroa, ela bota a coroa na cabeça de suas filhas e netas e bisnetas e…