Eu sei, algumas feridas são profundas demais e demoram muito a cicatrizar. Eu sei, o processo de cicatrização na maioria das vezes é doloroso. Sim, eu também conheço aquela agonia da coceira permanente no processo de cura. É incômodo! Mesmo assim, é preciso se manter firme e fazer o que puder para que a pele possa se regenerar. Em suma, fuçar a ferida não ajuda a curá-la, você sabe, eu sei.
Sabemos, sobretudo, que esse texto não é sobre uma ferida física. Falo, em analogia ao machucado na pele para tornar tudo mais visível e palpável. Esse texto é sobre deixar as dores do passado lá atrás. Falo sobre olhar para a dor, saber que ela existe, mas pode deixar de existir. Isso só depende de nós.
Depende de nós dar o primeiro passo para a nos livrar da dor, àquela que nos cega com relação ao presente e nos congela frente ao futuro. Não dito aqui fórmulas de cura, nem poderia, não tenho gabarito para tal.
No meu caso, um misto de ferramentas foram necessárias para conseguir avançar rumo à mínima sanidade: terapia, autocuidado e, acima de tudo, decisão. Um belo dia entendi que não era produtivo para minha existência que eu seguisse caminhando com uma coleira no pescoço, que era atrelada à uma gigantesca corda e estava amarrada num tronco de uma árvore velha no ano de 1987.
Essa corda me permitia andar, mas nunca me permitiu correr, pois eu sabia que hora ou outra a corda acabava e seria violento o solavanco que me acertaria na jugular. Então, eu ia tateando a existência, amedrontada com a ferida velha e com medo de novas.
Dado o momento em que minha existência era um grande desconforto e me dei conta que dali para frente só pioraria. Talvez você saiba do que estou falando, talvez essa narrativa se encontre em processo de superação ou talvez você esteja vivendo os dias a sangrar por aí. Em qualquer situação, tenho uma boa notícia: nada é perene, a dor também passa.
Começou a passar para mim quando decidi que eu merecia ser mais feliz ou ao menos viver com menos angústia. Identifiquei no presente o que me prendia ao passado e num movimento rápido e destemido me lancei rumo à cura. Eu, literalmente, fugi da realidade que não me fazia bem. Às vezes, a solução é ir embora, parar de insistir, de reagir.
Não estou aqui a dizer que é isso que você deveria fazer. Mas, não há novo caminho sem um primeiro passo. Decida hoje por você, não aceite a dor como a normalidade do cotidiano. Isso não é viver!
Procure ajuda, caso precise. Pode se esvair em lágrimas, se achar necessário. Grite alto e brigue com o mundo, se isso te ajudar a se posicionar ao seu próprio lado da história. Mas, depois siga. Seque as lágrimas, crie um plano de libertação das suas amarras e vá firme. Cumpra-o como se sua vida dependesse disso, até porque depende mesmo.
Decida por você e mire o futuro. Deixe o passado passar, deixe as cicatrizes se curarem plenamente. Não esqueça nunca como cada chaga dessa foi aberta em sua alma e, também, não se apegue.
Guarde na memória, somente. A dor de ontem é o maior argumento para que se possa convencer de que, sim, você merece ser feliz.