O amor tem tantas linguagens e eu não domino — em profundidade — nenhuma, creio. Sou bem amadora em matéria de amar e, por mais que sempre tenha me esforçado, não tenho fluência. Deve ser por isso que faço desse sentimento meu objeto cotidiano de estudo e, talvez por isso, que leia tantas poesias e romances e passe infinitas horas a ouvir música.
Tenho a impressão que todos os poetas, poetisas, músicos e musicistas amam melhor que eu. Na verdade, estou bem certa disso. Mesmo eu sendo um deles, os vejo como ‘os outros’, criaturas que alcançam percepções que transcendem à minha realidade literária e humana. Percebo que eles têm uma intenção bem definida em amar. Eu não! Vou amando assim pelas beiradas, através dos medos, com sentimentos contidos e esgueirantes.
Amo sem meio e sem saber onde chegar. Vou amando e vivendo sem estratégia, sem um fim. Logo eu que fiz dos processos e resultados meu ganha-pão, amei desintencionada, enquanto ia firme pela vida. E ainda hoje.
Não que no meu modo de amar não houvesse sonhos e vontades, havia. Mas, minha forma de fazê-lo era meio que fora do prumo, momentâneo até. Eu me entregava em plenitude, esperando o desfecho da história. Daí, bati minha cota de conto de fadas e não almejo mais príncipes. Também não acredito mais no final feliz, só no final mesmo.
Aos 36 anos, após a maternidade, muitas derrotas e vitórias na bagagem e com toda a sobrecarga dos dias, as línguas que o amor fala comigo precisam ser objetivas e naturais para que haja, da minha parte, real compreensão.
O combinado não sai caro, diz minha mãe. Palmas para ela, entendeu certinho a realidade da vida adulta. Sabe, eu não sou desiludida, sou só uma mulher madura que não tem pressa e, muito menos, tempo a perder. Alguém que está bem confortável com a possibilidade de passar a vida toda consigo mesma, além de livros, músicas, vinhos e plantas. Inclusive, esse final me parece bastante feliz.
Agora que não espero mais ser salva por ninguém, tenho me salvado diariamente e estranhado as narrativas de codependência, a la Romeu e Julieta. Confesso que não me parece saudável esse condicionamento que infere em que tudo tem a ver com ser ou não amado, por mais que eu, nesse momento, esteja apaixonadíssima.
Mas, é um novo apaixonamento. É duro como pedra, frágil como pétala e real como boletos. Tenho a sensação dentro desse novo que nunca fui amada antes, pelo menos não da maneira correta. É como se nunca o que me entregaram fosse correspondente a quem eu era. Analogicamente, passei a vida a ganhar os presentes errados. Não eram ruins, só não eram para mim.
E, aqui, confidencio sobre esse meu relacionar-me ainda prematuro: nos momentos onde a nossa correria nos permite alcova, não há promessas ou controles. Tudo é real, estável e recíproco. É como se eu ganhasse o que eu queria e nunca pedi. De presente recebi um amor cheio de cuidados e levezas, dotado de lógica e cálculos, que fala comigo e eu entendo. Eu amo a língua dele! E suas linguagens do amor, naturalmente.