Beirava a meia-noite, sexta-feira, meu corpo já rejeitava qualquer atividade com consumo mínimo de energia. Empreendedora e escritora, ao passo que sou mãe e dona de casa, acumulo problemas mil e, ali, estava cansada demais até pra dormir.
Pensando em como restabelecer a energia, lembrei que mais cedo, enquanto caminhava com a Pilar, havia surrupiado, sem culpa e com ótima intenção, umas mudas de Espada de São Jorge. Resolvi fazer um berçário de plantio para testar meu dedo verde. Catei os apetrechos de jardinagem e fui.
Preparei estacas, terra, adubo e, dali a pouco, as verdinhas já tinham assento em minha casa com luz próspera. Eu me senti tão bem. Amo plantar, mas confesso que a oscilação das emoções e vivências do existir social, físico e emocional desses tempos de renascimento em que vivo quase me tiraram esse prazer. Há meses não conseguia me dedicar veramente a nada que não fosse a realidade de criar gente, sustentar casa.
Quando consegui mexer na terra sem sentir aquilo como obrigação, recebi felicidade plena de presente. Sabe, acho que felicidade deve ser algo assim, algo que vem sereno de dentro pra fora, uma paz imensa que dá até sono.
Temos que ter em mente que o namastê do colega traz felicidade pra ele, não pra você. Precisamos, cada um de nós, encontrar nosso namastê, mesmo que ele seja duas horas de rock paulêra escutado ao fone de ouvido no máximo volume. Se busque, se encontre, viva como você sabe, gosta e se sente bem. Não existe fórmula de vida perfeita, por mais que às vezes pareça que sim.
A realidade é dura, mesmo nos bons dias há uma nuvem tempestuosa sobre nossas cabeças. Isso podemos nomear de instabilidade pessoal, financeira ou política. De toda forma, vim te dizer que isso vai passar, ou não, mas, independentemente, precisamos sobreviver da melhor forma, cuidando de nós e dos nossos. A necessidade é resistir.
E, vim, também, te dizer, que tudo certo não se sentir bem todo o tempo, ninguém consegue. Algumas pessoas disfarçam melhor o incômodo que sentem em ser gente e lidar com as questões de ser adulto num universo que exige de nós sucesso, sorriso e beleza. O mundo quer que sejamos bem sucedidos sob todas as óticas possíveis, sem nos contar que isso é impossível.
Viver é coisa complexa, estar e ser criatura comunitária implica que olhemos profundamente ao nosso redor, vejamos o escracho, o desumano, o dolorido e, ainda sim, sigamos. Precisamos cuidar de quem habita nossa pele, sem adoecer nem o corpo e nem a alma. Afinal, enfraquecidos não conseguimos ajudar ninguém.
Por isso, tente achar alguma coisa que te salve da realidade. Plante ou escreva, como eu. Leia, faça ioga, medite, grite sem parar em frente ao espelho, mas faça algo por você. Ser feliz é passagem, ache essas pequenas viagens de êxtase na existência.