Temos como diretriz de vida a atitude. Estar ativo é que nos orienta sempre adiante e não vemos, normalmente, outra forma de levarmos os dias. É como se vivêssemos um roteiro de filme e tudo só é válido quando o diretor diz: ação! E lá vamos nós em atividade infrene atrás da melhor cena e do final feliz tão esperado.
Acontece que por mais que eu acredite que a vida de cada um de nós poderia ser um belíssimo roteiro para Hollywood, hoje, após viver incansavelmente em ação-pós-claquete, sei que por vezes precisamos parar. Parar para entender, parar para analisar, parar para tomar uma decisão melhor e, sobretudo, parar para não sofrer.
Sabe, é vital que possamos nos dar um tempo. Quando não sentimos solidez sob nossos pés, é justo não seguir. Quando não temos a palavra assertiva a dizer, é importante calar. Quando não sabemos onde ir, o melhor é esperar.
Tá tudo bem não saber sempre o que fazer, e, para além disso, não tomar nenhuma atitude também é agir. É contrafeita essa expressão, mas é a realidade. Temos uma história, temos o valor de cada mínima coisa que vivemos e devíamos poder contar com o tempo também.
O tempo, essa moeda de troca valiosíssima, talvez a maior riqueza que alguém possa possuir. Tão valiosa que encontro sua ausência no fortalecimento das grandes doenças psicossomáticas da atualidade. Seria infame crer que posso diagnosticar qualquer coisa aqui, fronte à minha enorme ignorância, mas especulo que à medida que vi nosso tempo cada vez mais escasso, essas doenças foram se tornando comuns aos meus olhos. Talvez a vida real esteja levando cada vez para mais longe a vida ideal de nós.
Como uma mulher que enfrenta o mercado diariamente, tento com força me manter apegada à minha própria existência: cultivo meus dias, meus amores, meus sorrisos, enquanto ainda sou mãe, escritora e executiva. Mas, nem sempre foi assim.
No passado, lembro de estar em minha sessão semanal de terapia e dizer que me sentia vazia de propósitos. Não menti, eu realmente havia me esvaziado de mim. O acordar cedo e dormir tarde, dedicar a existência ao trabalho e às demandas da maternidade, fez tudo ficar tão funcional que entrei numa espécie de piloto automático. Dentro da missão de botar comida no prato, educar e garantir um futuro para minha filha, não sabia mais as coisas que me faziam feliz.
Nada da vida prática foi afetado nessa crise, o trabalho indo muito bem e a criança feliz e saudável. E eu? Bom, daí é outra conversa. Após cada função executada - e não eram poucas, pois nunca são -, eu deitava exausta para dormir e não conseguia, quando conseguia vinham os malditos pesadelos. A ansiedade ali, companheira. Eu havia virado um livro de ponto ambulante e fadigado. Uma criatura de alta performance e quase nada de emoção.
Eis que um dia me percebi assim. Foi dramático e resolutivo. Naquele dia decidi que nada mais faria sem antes uma pausa. Desde então, sei do meu potencial de ir longe, mas sei, sobretudo, que é necessário preparar o salto. E, preparo demanda tempo.