Quem assume a culpa e se bota no tribunal de julgo é réu confesso. É isso que sou, agora, diante de vocês: culpada! Porém não dou a mínima para o perdão de quem quer que seja. Não há pecado ou crime para me redimir. Seja juiz, pastor ou padre, nada tem a ver com as invocações e desequilíbrios do meu ser. Eu só entrei no Tinder, pessoal.
Que culpa pode haver em crer que um aplicativo de relacionamentos pode resolver os problemas que você deveria estar tratando num divã? Nenhum! A gente, enquanto gente, só crê que no final vai dar tudo certo, né?! Não é culpa nossa. Nos foi ensinado que a vida é um grande conto de fadas e somos príncipes e princesas aguardando nosso trunfo, o dia em que entregaremos nossos traumas e frustrações nas mãos de um desconhecido e ele dará conta da metade que nos falta. Ele que lute, correto?
Bom, na vida real nada tem final feliz, até porque nem final tem. Respiramos e já tá bom. Respirar é meio, é caminho, é estrada. E o que fazer com o tão esperado ‘e viveram felizes para sempre’? Bom, melhor deve ser adiantar o tempo, correr atrás da alma gêmea prometida. Apois, no cotidiano é mais complexo que na carochinha. Olhamos ao redor, buscamos na fila do pão, da lotérica, nas baladas sem fim e… nada. Resta a tecnologia para nos ajudar. Vai lá, cria um perfil no Tinder (ou semelhante). Vai!
Perfil criado. Abre-se um cardápio quase gratuito, cheio de amores das nossas vidas. É só escolher, diz o contrato acordado num clique que ninguém lê. Se os coraçõezinhos forem recíprocos, tudo está no lugar certo. E, começa a corrida.
Acontece que, ali, no aplicativo está cheio de gente como você, como eu: dotado das maiores qualidades, tendo toda sua beleza interna sendo invalidada pela ligeireza do tempo que tende a querer, sob a benção do algoritmo, unir tudo e qualquer coisa que respire. Não é nosso propósito, certo? Nosso propósito é, meramente, ser quem somos. Até no Tinder.
Por mais que poucos confessem, milhões de brasileiros e brasileiras acessam o Tinder, ou já criaram uma conta ali, inclusive eu. Fico me perguntando o porquê de nos escondermos atrás de cortinas tão transparentes. Nunca me rendeu algo real ou profundo ali, na plataforma, grande parte da culpa talvez seja minha por ser tão seletiva e medrosa, mas ok. O que vale falar é que, por mais que tenha passado pouquíssimo tempo online, ali tive ótimas surpresas da vida.
Conheci uma série de caras que eram ótimos caras, só não eram pra mim. O psicólogo super inteligente; o professor engajado; o jardineiro livre; o engenheiro apaixonado por animais. Quaisquer deles seriam, n’outro momento, primazes para mim nas construções do afeto que almejo compartilhar com alguém um dia.
Mas, no momento presente, não tenho olhos para ver as infinitas possibilidades do amor no outro, somente em mim mesma. No universo on ou offline, tenho construído um relacionamento robusto e duradouro comigo. Como em todo relacionamento, há dias duros, como aquele em que criei um perfil no Tinder tentando aplacar uma carência implacável. Como aquele que percebi que não teria nada a oferecer a ninguém.